Andyra Lima estreia-se na literatura com livro de poemas "Despida até à alma"

PorAntónio Monteiro,16 abr 2024 13:14

A obra será lançada na tarde desta quarta-feira, na Praia, a coincidir com o aniversário da autora. A escritora Vera Duarte assinou o prefácio e a apresentação estará a cargo de Jocob Vicente e Evelise Carvalho. Em conversa com o Expresso das Ilhas a propósito deste primeiro lançamento, Andyra Lima fala do labor poético que vai culminar amanhã com a apresentação pública do seu livro, anuncia novos projectos e refere-se às influências literárias que marcaram o seu estilo poético com o qual espera “conseguir tocar muitas almas, e levar o belo, o mundo está cheio de coisas feias, temos que ter a capacidade de ver o belo em todos os detalhes”.

Podia falar-nos da génese de Despedida até à alma?

Eu podia dizer apenas o corriqueiro, o livro sempre foi um sonho, mas de facto não foi só isso. Eu tinha acumulado ao longo de anos vários poemas, alguns até se perderam. Um dia à conversa com um amigo, que curiosamente é um dos meus apresentadores, mostrava-lhe um poema meu, ele me disse já pensaste num livro, deverias partilhar isso com todos, escreves bem. Fiquei a pensar naquilo, e juntando ao facto de que eu era conhecida por ter uma pena bastante dura em relação a questões sociais ou políticas, e isso se confundia com a minha própria pessoa. Queria partilhar um outro lado, que também faz parte da minha essência, queria mostrar meu lado mais sensível, daí até surgiu o nome para o livro, Despida até à alma.

Quando começou a escrever poemas?

Desde os tempos da Universidade em Coimbra, ou talvez antes disso. Mas nunca os partilhava. Eram mais registos de sensações vivenciados em viagens, lugares diferentes, cheiros diferentes. Por exemplo, as portas antigas, o céu e a lua cheia sempre me inspiram a escrever. Mas nos últimos três anos, foi onde praticamente escrevi tudo que está no livro, foram anos de experiências muito felizes, escrevia muito, o tempo todo.

Que influências literárias teve?

É curioso, eu leio muito, menos poesia, sou mais de leituras técnicas. Se reparar no meu livro, meus versos são livres, não me apego em muitas técnicas poéticas, não sou muito clássica, não escrevo sonetos, por isso não sei se posso dizer que tenho uma referência muito vincada ao nível da poesia. No entanto, gosto de alguns poetas cabo-verdianos, a minha prefaciadora [Vera Duarte] é uma delas, e claro também, alguns dos clássicos portugueses.

O que quis nos dizer com o seu livro, Despedida até à alma?

Exactamente o que o título diz, despir-me até à alma, e mostrar o meu eu completo em toda a sua essência e intensidade. Partilhar é minha forma de ver a vida de viver o amor. Tocar literalmente em todos os sentidos dos leitores, espero conseguir tocar muitas almas, e levar o belo, o mundo está cheio de coisas feias, temos que ter a capacidade de ver o belo em todos os detalhes.

“O amor é o sentimento mais contraditório, estranho e complexo que existe à face da terra”?

Indescritível. Eu sou uma eterna romântica, acredito no poder do amor. E quando amamos alguém e esse alguém também nos ama, parece que até a troca de olhares contém poesia, tudo é mágico e transcende o físico, o finito. E é normal que isso cause estranheza, controvérsia de algumas almas mais céticas. O amor é isso, sensação maravilhosa que nos enche, preenche e transborda até à alma.

Porquê a escolha de Vera Duarte para prefaciar o livro?

A Vera é uma extraordinária escritora, quando meu editor falou no nome dela, eu disse logo que sim, com certeza. E seria uma honra. Ela aceitou, entendeu o que me vai na alma, e escreveu um prefácio lindíssimo. Sou abençoada.

E a escolha dos apresentadores Jacob Vicente e Evelise Carvalho?

O Jacob é um amigo, e por ter sido um incentivador da obra, por me conhecer tão bem, e ter uma sensibilidade enorme, a poesia não poderia deixar de fazer parte. Eu liguei para ele e disse: ‘Jacob não podes dizer que não’. Ele me respondeu, ‘no que vais me meter...’ risos. E creio que fiz a escolha certa. Evelise foi-me indicado pelo editor. Adorei a ideia: uma jovem irreverente, muito competente e dedicada no seu campo profissional, identifico-me completamente. Não poderia fazer melhores escolhas para falar do meu livro.

Vai haver outros lançamentos?

Com certeza. Mais e mais poesias sempre, mas de momento tenho em mente e em fase de pesquisas, uma obra da minha área profissional, Direito.

Que futuros projectos literários?

Com certeza... A minha pena é livre e irrequieta, Cabo Verde é inspirador e o amor está em todos os detalhes, temos que parar para ver o belo. Então com certeza vamos ter mais obras.

Dois poemas de Andyra Lima


Céu de Santa Catarina (II)

Cheiro de terra molhada

horta no quintal,

roseiras à porta

e uma casinha aquecida a amor

Um silêncio que acalma,

duas cadeiras de baloiço

um livro com poemas,

e o teu sorriso iluminado pela lua

Sonho simples,

onde a alma é essência,

onde as mãos se tocam

e os olhares falam

Tudo debaixo desse céu

protegido pela santa de Alexandria.


Sem Fim

Existe amor que não tem fim

que se perpetua nas almas

nos versos

nas memórias dos momentos

nos livros de poemas e

em estórias de embalar

É o nosso!

Há cheiros que ficam impregnados na alma

e há olhares que estão sempre presentes,

sentimos de cada vez que fecharmos os olhos

Há juras que não se desaparecem,

continuam sempre:

no silêncio

no respirar

e em todas as orações

Corpos podem se separar

mas almas que se encontram,

se tocam,

se pertencem para a eternidade

A minha alma tocou a tua

e os céus conspiram,

trazendo a nossa lua.

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Autoria:António Monteiro,16 abr 2024 13:14

Editado porDulcina Mendes  em  17 abr 2024 0:21

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