“Batuco está no seu momento mais alto”

PorDulcina Mendes,30 dez 2024 7:21

Marisa Correia – batucadeira das Delta Ramantxadas
Marisa Correia – batucadeira das Delta Ramantxadas

A batucadeira do grupo Delta Ramantxadas considera que o batuco está a viver um momento importante, com o seu reconhecimento como património nacional e a celebração do Dia Nacional do Batuco. No entanto, Marisa Correia deseja que este género musical seja classificado como património mundial, tal como a morna.

Marisa Correia é fundadora da Associação Delta Cultura, no município de Tarrafal de Santiago, e membro das Delta Ramantxadas, um grupo que se formou há vários anos.

“O batuco está no seu momento mais alto. Mas acho que o batuco perdeu palco nos festivais, juntamente com outros géneros musicais. A única festa de município que coloca o batuco no palco, juntamente com outros géneros musicais, é aqui, no Tarrafal”, assegura.

Batuco Património Nacional

Conforme realça, o batuco fez um grande percurso para chegar onde está hoje. “Acho que é merecido, porque se há um género musical que se tem esforçado muito para não morrer é o batuco. Lembro-me que antes, no Tarrafal, existia o nosso grupo e o Pó di Terra, depois surgiu o Raiz de Tarrafi”.

Marisa Correia diz que seria justo se o batuco alcançasse o mesmo reconhecimento que a morna, ou seja, ser reconhecido como Património Cultural Imaterial da Humanidade. “Vamos todos lutar para isso acontecer. Será uma maior satisfação para as batucadeiras, para o batuco e para Cabo Verde”.

“Torcemos para que isso aconteça, porque se o batuco chegar lá é mais que merecido, porque o batuco, a morna e o funaná andaram no mesmo caminho em Cabo Verde, para não dizer que o batuco foi um dos primeiros”, salienta.

Festival de Batuku

A cidade de Tarrafal recebeu, no passado sábado e domingo, a 20ª edição do Festival de Batuku, um evento organizado pela Associação Delta Cultura, mais concretamente pela sua fundadora Marisa Correia.

Criado em 2006, o festival teve início com a participação dos grupos de batuque da ilha de Santiago da altura. Desde então, tornou-se uma importante plataforma para a valorização e promoção do batuco na região.

Inicialmente, o grupo de batucadeiras de Tarrafal de Santiago chamava-se Delta Cultura, nome que depois foi alterado para Delta Ramantxadas.

Marisa Correia sublinha que a nova nomenclatura caiu no gosto de todos. E explica que são Ramantxadas, no bom sentido, “porque quando subimos ao palco, mostramos a nossa força”.

Correia refere que o grupo já participou em todos os festivais de batuque na ilha de Santiago. “Graças aos nossos esforços, hoje somos conhecidos em vários lugares”.

O grupo conta com 15 temas no mercado e, no mês de novembro deste ano, foi selecionado para o edital Batuku Txabeta di Mundo, que consiste na gravação de um videoclip.

Sobre o festival, Marisa Correia assegura que cresceu basicamente do nada, porque não havia muitos grupos na ilha de Santiago. “Depois, os grupos começaram a surgir cada vez mais e, hoje em dia, já não conseguimos trazer todos para o festival. Mas até à quinta edição conseguimos trazer todos os grupos existentes na ilha de Santiago”.

Apesar de ter começado em 2006, o evento vai para a sua 20ª edição, pois, como explica, “houve anos em que foi realizado duas vezes, e no ano da COVID-19 conseguimos realizá-lo”.

“Foi uma luta contra o tempo, pois, como neste evento as batucadeiras não têm cachet, às vezes temos muitas dificuldades com o transporte para trazê-las para Tarrafal”, conta.

Há Câmaras Municipais que apoiam com o transporte, mas outras não, pelo que há esse custo.

“O bom disto tudo é que as batucadeiras gostam de apoiar-se umas às outras”, destaca.

Entretanto, realça, a Câmara Municipal de Tarrafal de Santiago apoia o festival desde o início.

Nesta 20ª edição, participaram mais de 20 grupos da ilha de Santiago, em dois dias de muito batuque, com 14 grupos a subirem ao palco em cada dia.

Balanço

Marisa Correia faz um balanço positivo do festival desde o seu surgimento até agora. “É positivo porque é um evento que arrancou com força e hoje vemos esta iniciativa em todos os municípios. O Festival de Batuco está na moda”.

“Principalmente em Tarrafal, quando chega o mês de dezembro, as pessoas começam a perguntar se não há Festival de Batuco. É um evento que começou positivo e até agora está na positividade”, relata.

A batucadeira explica que este festival é mais do que simplesmente subir ao palco e atuar, pois há sempre encontros entre os grupos. “Há sempre convivência. É mais que um festival, é um encontro de batucadeiras, porque partilhamos conhecimentos”.

Entretanto, Marisa Correia avança que está a pensar fazer uma pausa na realização do festival. “Até já disse que este é o último ano que quero organizá-lo, porque é muito trabalho. Se calhar, se a Câmara Municipal tomar a organização do festival, pode vir a ser um Festival de Batuque Internacional. Eu já tentei, mas é difícil, porque quando há muitos grupos de batuque fica complicado trazer todos para Cabo Verde”.

Sendo uma CM a organizar, as chances de sucesso são maiores, acredita. “Posso ajudar na organização, mas quero que assumam a organização do festival, para darem continuidade”.

De qualquer modo, já lá vão 20 edições, um feito muito satisfatório, apesar de todas as dificuldades. “Todos os anos fazemos esforço para realizar este festival. Tenho lutado muito todos os anos para que o festival aconteça. E às vezes nem a associação está em condições de apoiar-me da forma que desejo”.

Quanto a edições futuras, diz: “Acredito que se formos fazer um Festival Internacional, se trouxermos grupos como Freireanas Guerreiras e outros, podemos fazer o festival num lugar fechado para cobrar bilheteira. Isso pode trazer algum lucro”.

“Acho justo dar um pequeno cachet aos grupos que participam no festival”, conclui...

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1204 de 24 de Dezembro de 2024.

Concorda? Discorda? Dê-nos a sua opinião. Comente ou partilhe este artigo.

Autoria:Dulcina Mendes,30 dez 2024 7:21

Editado porSara Almeida  em  2 jan 2025 7:20

pub.

pub
pub.

Últimas no site

    Últimas na secção

      Populares na secção

        Populares no site

          pub.