Ailton Moreira mudou-se para o Brasil em 2013 para estudar Engenharia Sanitária e Ambiental. Após a licenciatura, concluiu um mestrado na mesma área. Actualmente, trabalha numa empresa multinacional no Brasil. Aproveitando as férias em Cabo Verde, decidiu apresentar as suas obras literárias ao público cabo-verdiano. Embora os livros já tenham sido lançados no Brasil, esta será a primeira oportunidade para os seus conterrâneos os conhecerem.
A paixão pela escrita começou ainda no liceu, em Cabo Verde, com o incentivo de professores. Quando se mudou para o Brasil para prosseguir os estudos, decidiu compilar os seus poemas num livro. Participava regularmente em eventos culturais e saraus no Brasil, onde declamava poesia em português e em crioulo cabo-verdiano. “Notei que as pessoas ficavam admiradas ao ouvir poesia em língua cabo-verdiana, por ser diferente. Como a nossa língua é muito próxima do português, os brasileiros conseguem compreender partes do que dizemos, se falarmos devagar”, conta.
Determinou, então, que o seu primeiro livro seria publicado em crioulo, marcando a sua identidade como autor. “Quis dar o meu contributo para a valorização da nossa língua. É tempo de levarmos a sério a discussão sobre a oficialização do crioulo, algo que impacta directamente na autoestima dos cabo-verdianos, especialmente quando estão fora do país”, conta.
Assim nasceu “Pingu di Speransa”, publicado no Brasil, em 2019, e bem-recebido tanto por brasileiros como por não falantes da língua cabo-verdiana. O livro centra-se na vida no interior de Santiago, simbolizando a chuva e a esperança tão aguardadas pelas comunidades locais.
Para o lançamento em Cabo Verde, Ailton preparou uma segunda edição de “Pingu di Speransa”, através da sua editora AiM Edições.
Já “Lírios no Quintal Assombrado” surgiu durante a pandemia, como resposta a um desafio pessoal: escrever um poema por dia, seja em português ou em crioulo. “Foi uma forma de enfrentar os problemas daquele período e redescobrir a importância da arte. Tal como havia pessoas a tocar piano nas varandas, decidi expressar-me escrevendo poesia diariamente”, explica. Este livro, lançado em 2021, não aborda directamente a pandemia, mas destaca a beleza dos momentos e detalhes redescobertos na adversidade.
No ano passado, publicou “Incontido Ser(vo)”, uma colectânea de contos em português, dividida em duas partes. A primeira aborda temas do Brasil, como questões raciais e os desafios enfrentados por emigrantes, enquanto a segunda retrata a realidade cabo-verdiana, homenageando professores e mulheres. “As mulheres têm um grande protagonismo nos meus livros, com personagens que variam entre homens, mulheres e jovens do interior”, destaca.
Além disso, o autor já tem três novos livros em preparação e prevê lançar este ano o seu segundo livro em crioulo, cujo título ainda é segredo.
Editora AiM Edições
Ailton Moreira é também responsável pela AiM Edições, uma editora que apoia escritores cabo-verdianos, especialmente os iniciantes. Em Março deste ano, a editora abrirá candidaturas para parcerias na produção de livros. “Faremos uma selecção para decidir quais os livros iremos que produzir, apoiando tanto novos autores como escritores consagrados que desejem colaborar connosco”, explica.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1206 de 08 de Janeiro de 2025.