Cabo Verde com duas candidaturas aprovadas para o Registo Internacional da Memória do Mundo da UNESCO

PorDulcina Mendes,22 abr 2025 15:46

Duas candidaturas lideradas pelo Instituto do Arquivo Nacional de Cabo Verde foram aprovadas para o Registo Internacional da Memória do Mundo da UNESCO, elevando o país a um novo patamar no cenário internacional da salvaguarda da memória histórica.

A informação foi divulgada esta terça-feira, 22, numa conferência de imprensa realizada pelo Comité Nacional da Memória do Mundo de Cabo Verde, criado em 2020.

Segundo o secretário Executivo da Comissão Nacional Cabo-verdiano Memória do Mundo, José Évora, trata-se de uma colecção de documentos que a Unesco entendeu que têm relevância não apenas para Cabo Verde, não apenas para a África, mas para a humanidade.

“Dentro de outros acervos que consta deste processo há documentos interessantes acerca da abolição do tráfico negreiro, da Comissão Mística Luso-Britânica, que foi instalada na Ilha da Boa Vista em 1842, numa altura em que fazia-se força para a abolição da escravidão”, indica. 

José Évora revela que as Cartas de Liberdade concedidas pelo então Governo da Província de Cabo Verde, é uma documentação interessante que acabou de ser classificada para o Registo da Memória do Mundo e doravante, é um património não de Cabo Verde, mas sim um património da humanidade.

“Outra candidatura que foi aprovada foram os Livros de Registo de Escravos. É uma candidatura conjunta entre Cabo Verde, Angola e Moçambique, mas que foi liderada por Cabo Verde, que consubstanciam-se em 79 livros de registo de escravos, datados de 1856, que é um censo que foi feito nos territórios que faziam parte do ultramar português, numa altura em que se preparava exatamente para a abolição da escravidão”, revela. 

O Secretário Executivo da Comissão Nacional Cabo-verdiano Memória do Mundo afirma que o Arquivo Nacional de Cabo Verde tem sob a sua guarda cerca de onze livros de registo de escravos, e que os restantes são de Angola e de Moçambique, é uma candidatura conjunta.

“A Unesco tem vindo a chamar a atenção sobre tentar sensibilizar os países africanos no sentido de apresentarem candidaturas, tendo em conta que, se nós formos ver, dos registos até agora existentes do continente africano consta apenas 5%, que fazem parte da memória do mundo, o que é muito pouco representativo se tivermos em conta a riqueza que esse continente tem em matéria de património documental”, avisa. 

José Évora disse que até então, dos países do Palop, apenas Angola contava com uma nomeação no Programa Memória do Mundo e, que a partir deste ano, temos o privilégio de ter representações de outros países dos Palop, neste caso Cabo Verde, Angola e Moçambique.

"É um privilégio, mas também uma grande responsabilidade, tendo em conta que a Unesco certamente estará ciente como é que essas instituições de custódia vão agora lidar com este património em matéria da sua melhor preservação e, sobretudo, da sua maior divulgação para facilitar o seu acesso, não apenas em Cabo Verde, não apenas em África, mas que o seu acesso seja garantido a nível mundial", destaca.

Para o presidente do Instituto do Arquivo Nacional, José Maria Borges, os documentos inscritos no Registo Internacional da Memória do Mundo pertencem ao continente africano. “Com esta nomeação, Cabo Verde junta-se ao grupo de países com documentos reconhecidos, ao lado de peças históricas como a Bíblia de Gutenberg e a Nona Sinfonia de Beethoven”.

O Comité Nacional Cabo-verdiano da Memória do Mundo é composto por representantes do Arquivo Nacional, Biblioteca Nacional, Instituto do Património Cultural (IPC), Universidade de Cabo Verde (Uni-CV) e Universidade Jean Piaget de Cabo Verde.

Desde a sua criação, Comité Nacional Cabo-verdiano da Memória do Mundo tem promovido acções de sensibilização e capacitação, num esforço para integrar o país no circuito internacional de proteção documental.

Além do reconhecimento, a nomeação impõe novos compromissos. Entre os próximos passos estão a elaboração de um plano de gestão, estratégias de difusão, a ampliação dos processos de digitalização e o fortalecimento das condições de conservação dos documentos.

"O trabalho não termina aqui. Precisamos continuar a produzir e preservar documentos que no futuro poderão também fazer parte desta memória global", sublinhou.

A conferência de imprensa contou com a presença da Secretária Executiva da Comissão Nacional da Unesco Cabo Verde, Carla Palavra e do presidente do Instituto do Arquivo Nacional de Cabo Verde, José Maria Borges, bem como aos colaboradores do Arquivo Nacional e da Comissão Nacional da UNESCO para Cabo Verde, entre eles Maria da Luz, Rosa Andrade e Maria José da Conceição Almeida.

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Autoria:Dulcina Mendes,22 abr 2025 15:46

Editado porAndre Amaral  em  23 abr 2025 6:20

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