Mindelact 2025 - Uma ilha, tantos palcos

PorNuno Andrade Ferreira*,2 nov 2025 7:53

Mindelact volta a resistir, agora à tempestade. “Aurora” arranca segunda-feira.

Em versão mais enxuta, mas está aí a 31.ª edição do Festival Internacional de Teatro do Mindelo. De 3 a 8 de Novembro, o Mindelact celebrará a “Aurora”, em comemoração aos 50 anos da independência de Cabo Verde.

A tempestade Erin, que deixou inutilizada a habitual casa do maior evento teatral do país e arredores, o Centro Cultural do Mindelo, quase fez cancelar a festa, que volta a “resistir” e a contrariar probabilidades - já o havia feito em 2020, em plena pandemia. Assim o diz Yannick Fortes, presidente da Associação Mindelact.

“Até há cerca de um mês, ponderámos cancelar esta edição. Graças à parceria com a Câmara Municipal de São Vicente, foi-nos disponibilizada a Academia Jotamonte. Mesmo assim, tivemos de cancelar alguns espectáculos. A edição era maior, mas adiámos alguns para o próximo ano, porque não tínhamos condições para os receber”, refere.

“Tentámos adaptar-nos para que o Mindelact acontecesse. Como costumamos dizer, fazer teatro em Cabo Verde é um acto de resistência. Estamos a resistir”, acrescenta.

Palco 1, Jotamonte, o único com entrada paga. Palco 2, Centro Social de Ribeira de Craquinha. Teatro na Praça, Ciclo Internacional de Contadores de Estórias, Teatrolândia. Serão muitos os espaços da ilha ocupados pelas artes cénicas.

“Temos uma programação quase toda gratuita, com artistas nacionais e internacionais, para que as pessoas tenham acesso à arte e possam vir ao teatro sem o impedimento de não conseguir comprar bilhete. Vemos isso como uma forma de alegrar a ilha, depois do que aconteceu, porque acreditamos no poder da arte, que não é apenas entretenimento”, comenta Yannick Fortes.

Em rigor, a primeira apresentação acontecerá já no dia 2, em jeito de antecipação. “El Enterrador”, da companha espanhola Teatro de Dos, em co-produção com Mediterránea poderá ser vista a partir das 19:30 deste domingo, na Torre de Belém.

A programação completa está disponível online, nas redes sociais e no site da Associação Mindelact, mas ficam aqui algumas notas. Segunda-feira, dia 3, destaque para “Debaixo do Pilão”, do colectivo português e cabo-verdiano Astro Fingido, a partir das 21:00, na Academia Jotamonte. Dia 4, terça-feira, no mesmo palco e à mesma hora, “Mãe Preta”, do grupo brasileiro Palavra Z. Quarta-feira, 5, “A Desclarificação”, produção D’Já D’Sal, Ticave e Musgo Produção Cultural.

Novamente na Jotamonte, a Saaraci Coletivo Teatral apresentará, dia 6, quinta-feira, “Cabral Corpo”. A 7, sexta-feira, penúltimo dia, o palco 1 receberá “El Pastor”, pela Compañia Nómada, das Canárias. O encerramento será feito sábado, 8, com “Costa da Morte, cartografia dun naufraxio”, apresentado pelo Centro Dramático Galego, em coprodução com Mariña Lestón.

Na extensão Praia, este ano também abreviada, apenas dois espectáculos, ambos com entrada livre, mediante levantamento do bilhete. “O Fado de Ulisses”, a 3, no Centro Cultural Português, e “Cabral Corpo”, dia 8, no mesmo local. Os bilhetes devem ser levantados previamente no Centro Cultural Português.

Sempre a sustentabilidade

Ano após ano, o Mindelact debate-se com o desafio da sustentabilidade, dependendo de apoios, voluntariado e boa vontade.

“O modus operandi com que o festival tem sido feito nestas 31 edições torna quase impossível continuar assim no futuro, porque dependemos de ajudas e apoios que vamos conseguindo. Um dos maiores apoios vem dos grupos internacionais, que obtêm financiamento e patrocínios nos seus países para estarem no Mindelact a custo zero - conseguem pagar as viagens e não recebem pelo espectáculo - enquanto nós tratamos do alojamento e alimentação”, explica o presidente da associação organizadora.

“O número de voluntários tem vindo a diminuir. Mesmo com apoios de várias empresas, talvez tenhamos de reduzir o festival a um único fim-de-semana”, antecipa.

A falta de um espaço capaz de acolher a Associação, servir de armazém e sala de ensaio é outro constrangimento.

“Existem espaços obsoletos na ilha, da autarquia ou do Governo, que, se pudessem ser doados ou emprestados à Associação, durante um período, já nos ajudariam a resolver esse problema. Conseguiríamos dinamizar muito mais as nossas actividades ao longo do ano”, diz Yannick.

O Festival Mindelact é hoje considerado um dos mais importantes eventos teatrais da África Ocidental e o mais relevante dos países africanos de língua oficial portuguesa. Além da vertente de espectáculos, o festival promove o intercâmbio entre participantes e acções de formação. Teve a sua primeira edição em 1995, só com grupos de S. Vicente e Santo Antão. Em 1996, alcançou dimensão nacional e, um ano mais tarde, 1997, internacionalizou-se.

*com Lourdes Fortes

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1248 de 29 de Outubro de 2025.

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Autoria:Nuno Andrade Ferreira*,2 nov 2025 7:53

Editado porFretson Rocha  em  2 nov 2025 23:22

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