Grace Évora: Uma vida dedicada à música

PorDulcina Mendes,13 dez 2025 8:19

O cantor, compositor e baterista cabo-verdiano Grace Évora, natural de Salamansa, São Vicente, prepara o lançamento do volume 2 do álbum “2069”, previsto para Abril de 2026. Com uma carreira sólida de mais de três décadas, o artista, reconhecido como um dos nomes do Zouk ou Cabo Zouk, continua a cultivar a paixão pela música.

A carreira de Grace Évora começou na Holanda, país onde viveu durante algum tempo. Como baterista, sentiu que podia cantar e encantar o público com o seu timbre de voz, e daí começou a mostrar as suas melodias, ganhou o gosto pela música e nunca mais parou.

Da sua discografia fazem parte os álbuns “Total Love I”, “Total Love II”, “Romance” e “Aventura”. Ao longo da carreira, passou por bandas marcantes como Livity e Splash, e assinou êxitos como “Lolita” e “El é Sabim”, que o consolidaram como um dos músicos mais influentes da actualidade.

Novo trabalho: “2069 – Volume 2”

Após lançar os singles “Mandamento” e “Gramática de Amor”, Grace Évora apresentou recentemente “Conversa Triste”, terceiro tema revelado do novo álbum. Antes do Natal, promete ainda lançar “Bom Dia”, mais um single que fará parte do projecto.

Em entrevista ao Expresso das Ilhas, revela que o álbum está a ser preparado “com muito cuidado” e que pretende manter a essência do volume 1, com sonoridades que dominam a sua trajectória, como o zouk e a coladeira. “Gosto de fazer músicas para as pessoas dançarem”, afirma.

O músico adianta ainda que está envolvido noutro projecto paralelo, “Músicas de Cabo Verde”, que reúne morna, coladeira, batuque e outros géneros musicais de Cabo Verde.

Por essa razão, o lançamento do novo álbum ficou adiado para Abril de 2026, em vez de Dezembro deste ano.

Baterista de formação

Grace começou na música como baterista, ainda na Europa, onde cresceu. A transição para o canto foi espontânea. “Fazia coro e as pessoas gostavam do meu timbre de voz”, recorda. Em 1994, lançou o seu primeiro álbum como cantor e nunca mais parou.

Apesar de ser baterista de formação, hoje toca pouco o instrumento. “A bateria está encostada”, admite, embora não descarte regressar a projectos em que a possa tocar.

“Passei a cantar, a aparecer como cantor e a desenvolver-me dia após dia, show após show, até que gravei o meu primeiro álbum no ano de 1994”, conta.

Criativo e apaixonado pelo estúdio, o músico afirma que gravar sempre foi algo natural. “É a minha paixão. Gosto de criar, de experimentar e de trabalhar com músicos de vários lugares”.

Show na Cidade da Praia

No dia 30 de Novembro, Grace Évora subiu ao palco do Hangar 7, na Cidade da Praia, num espectáculo integrado nas celebrações dos 17 anos do Banco BAI e dos 50 anos da Independência de Cabo Verde. O evento contou com um palco redondo, inspirado nos espectáculos de Phil Collins, um sonho antigo do artista.

“Foi um show muito bonito, diferente do habitual. Senti que as pessoas gostaram e não queriam sair da sala. Foi gratificante”, destaca. Segundo o músico, o concerto já gerou convites para novas actuações.

Livity, Splash

Grace integrou primeiro a banda Livity, onde permaneceu sete anos e acumulou aprendizagens e viagens. Depois, seguiu para o grupo Splash, onde assumiu um papel mais vocal do que instrumental.

Recorda que, no início da carreira, o Zouk das Antilhas era o estilo dominante no mercado internacional. Ao imitarem esse modelo para atrair o público, os cabo-verdianos acabaram por criar um estilo próprio: o Cabo Zouk. “Demos a nossa identidade ao Zouk. Ele tornou-se nosso”, afirma.

No início, não foi fácil, pois foram muito criticados. “Os músicos que estavam naquela altura a dominar o mercado sentiram-se ameaçados por nós e criticaram-nos muito, sem perceber que estávamos a criar músicas ao nosso alcance, que valorizavam Cabo Verde e traziam mais valia à nossa cultura”.

Para Grace, as críticas são normais, “um músico, quando sente que está a ficar para trás, tem uma inveja que não consegue controlar”.

Por isso, Grace defende que as produções cabo-verdianas não devem ser associadas à Kizomba, estilo originário de Angola. “O que fazemos é Zouk ou Cabo Zouk. Temos que valorizar o que é nosso”.


Colaborações

O artista refere que gosta de colaborar e trocar experiências com músicos mais jovens, contribuindo para a projecção das suas carreiras. Já trabalhou com Léo Pereira, Lejemea, Dynamo e Buguin Martins, entre outros.

“Sinto que é obrigação de nós, mais velhos, darmos uma mão aos mais novos. No meu tempo, não tive ninguém que o fizesse por mim”, realça.

Música e a sua vida

Grace Évora vive actualmente nos Estados Unidos, país onde gravou o seu primeiro disco. Continua a viajar por mercados como Angola, Moçambique e vários países da Europa, sempre acompanhado por comunidades cabo-verdianas.

O músico confessa que é uma pessoa realizada dentro da nossa realidade. “Sou realizado como artista cabo-verdiano, sinto-me querido por todos os cabo-verdianos, isso é a minha essência”.

Sobre a Inteligência Artificial, garante não se sentir ameaçado. Para o artista, nada substitui o toque humano: “Aquilo que é feito pelo ser humano tem outra vida, outro sabor”.

A viver um momento de celebração e tranquilidade artística, Grace afirma sentir-se realizado. “Sou querido pelos cabo-verdianos, isso é o mais importante”.

Com mais de 30 anos de carreira, mantém o mesmo princípio que o guiou desde o início: criar música original, dançante e fiel às raízes de Cabo Verde, sempre com paixão, rigor e autenticidade.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1254 de 10 de Dezembro de 2025.

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Autoria:Dulcina Mendes,13 dez 2025 8:19

Editado porFretson Rocha  em  13 dez 2025 18:19

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