Xadrez: Elementos estáticos e dinâmicos

PorAntónio Monteiro,31 dez 2017 14:13

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​Há mais de cem anos, o primeiro campeão oficial do mundo Wilhelm Steinitz provocou uma verdadeira revolução no xadrez ao criar os princípios básicos daquilo a que mais tarde a história registaria como a Escola Clássica do Xadrez.

Em essência Steinitz proclamava que a acumulação de pequenas vantagens posicionais, por mais prosaico que pudesse parecer, tinha o mesmo valor das contribuições de Morphy para o jogo aberto. Morphy era um jogador instintivo que ensinava através de exemplos, portanto de partidas, ao passo que Steinitz expunha suas teorias na sua coluna sobre xadrez no jornal The Field e, em forma mais apurada, no seu livro Modern Chess Instructor.

Steinitz demonstrou que contra um jogo sólido seria incorrecto buscar ataques rápidos; ao invés disso, era melhor construir o jogo calmamente, procurando pequenas vantagens, como a de um bispo contra um cavalo, combater peões dobrados ou isolados, casas avançadas, colunas abertas, uma maioria de peões no flanco da dama, e procurar um maior controlo do espaço.

A despeito de arrasadores colapsos, e terá faltado um Homero para cantar a sua luta contra a escola romântica, demonstrou que se o defensor evitasse fraquezas estruturais, seu jogo permaneceria sólido. Assim, em várias de suas partidas, Steinitz recuava suas peças com o único objectivo de evitar o enfraquecimento dos seus peões.

A este recuo estratégico chama-se jogo posicional. Os seus conceitos fundamentais são, quanto a nós, ainda quase totalmente válidos. O jogo de posição baseia-se essencialmente na técnica de avaliação da posição. Para se avaliar uma posição é necessário decompô-la em seus elementos. Os elementos de longa duração são chamados elementos constantes ou estáticos. Os que só se manifestam por curto tempo são designados provisórios ou dinâmicos.

Elementos estáticos:

Vantagem material

Roque enfraquecido

Vantagem do par de bispos

Vantagem do Bispo contra o Cavalo

Forte centro de peões

Peão passado

Peões fracos

Maioria de peões numa ala

Casas fracas

Complexo de casas fracas

Vantagem de espaço

Domínio de uma linha aberta


Elementos dinâmicos:

Vantagem de desenvolvimento

Peças mal colocadas

Má coordenação entre as figuras

Pressão das peças sobre o centro.

Tomemos o diagrama em baixo de uma partida entre os dinamarqueses Larsen e Nielsen, solicitando ao leitor a sua qualificação num dos elementos acima indicados.

Vejamos, graças ao peão d5, as brancas têm vantagem de espaço: controlam a casa fraca c6 e limitam o raio de acção das figuras pretas Bd7 (Bispo-d7) e Ce5 (Cavalo-e5). A dor de cabeça principal das pretas é, em primeira linha, o Cavalo que até parece bem colocado. Mas, embora esteja no centro, g4 é a única casa a que tem acesso. 1.h3! Com este lance as brancas iniciam a caça ao Cavalo e5. Ameaça f2-f4. 1…Db6 impede justamente f2-f4. [1…Bc8!? 2.Cd4]

2.Dd4! Com a troca de Damas os problemas das pretas tornam-se maiores, porque a Dama é uma boa peça defensiva. No nosso caso, a fraqueza da casa c7 torna-se relevante. 2…f6 3.Dxb6! Agora a falta de coordenação entre as torres pretas dificulta a defesa. 3…Tb6 4.Cd4 g5 5.Tc7 Aqui já se pode falar em duas fraquezas: 1) a falta de controlo da linha c e 2) a passividade do Cavalo preto. 5…Td8 6.Rh2 Com este lance as brancas defendem o peão h3 e preparam o Bispo via g2-e4-f5. Com isso as brancas pretendem explorar a fraqueza das casas brancas que surgiram com a manobra de salvação do Cavalo. 6…h6 7.Be4 Rf8 8.f4 Cf7 9.Bf3 Tbb8 10.Ce6+Bxe6 11.dxe6 Ch8 12.f5 O triunfo da estratégia das brancas: o Cavalo está preso. 12…b4 13.Bb7 a5 14.e4. As figuras pretas estão paralisadas. As brancas podem agora fazer o que quiserem. Por exemplo: Tf1-d1-d5-a5. 1-0


Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 839 de 27 de Dezembro de 2017. 

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Autoria:António Monteiro,31 dez 2017 14:13

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  10 ago 2020 15:30

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