A Imortal de Carlos Torre

PorAntónio Monteiro,7 abr 2019 9:23

​A vida xadrezística do melhor jogador mexicano de todos os tempos, Carlos Torre (Mérida, México, Novembro de 1904 – Março de 1978, Mérida) é parecida com a de outras estrelas fugazes, como Paul Morphy e Rudolf Charousek, os quais por uma ou outra razão, só deixaram uma breve amostra (ainda que brilhante) do seu enorme potencial.

Se levarmos em conta que Torre abandonou o xadrez aos 21 anos, é legítimo perguntar onde poderia ter chegado em circunstâncias normais, e não será de todo ousado pensar que poderia ter aspirado ao mais elevado ceptro mundial, não fossem os problemas de saúde que obrigaram-no a voltar as costas ao jogo dos reis.

Numa entrevista da época, o mexicano disse que o jogador que mais o influenciou foi sem dúvida Emmanuel Lasker, mas que guardava respeito e reconhecimento por Capablanca e Alekhine. Sobre Alekhine opinou que “era o melhor calculador de variantes e que nenhum outro campeão se lhe podia igualar em profundidade de cálculo. Tinha uma enorme capacidade de trabalho, e uma memória prodigiosa”.

O estilo de Carlos Torre era mais parecido ao de Capablanca de quem afirmou: “Tenho a impressão de que jogava com vista à final; ele via, ou sentia, o que era necessário fazer em qualquer posição”. Embora tenha produzido na sua curta carreira brilhantes combinações à la Alekhine, o estilo de Torre tem sido comparado ao do cubano Capablanca. Sobre a sua partida mais conhecida e comentada em que tinha como adversário Lasker, tinha o mestre mexicano uma opinião pouco convencional. Escutemos o que diz Torre da sua imortal partida, cuja condução é um modelo e uma delícia para os olhos.

“Não a considero uma boa partida. Ambos cometemos vários erros, essa foi uma das minhas piores partidas, e também a pior de Lasker”. Acredite quem quiser.

Na partida que ao lado reproduzimos Carlos Torre com apenas 21 anos enfrenta Emanuel Lasker que tinha sido campeão do mundo durante quase trinta anos. Torre não se deixa intimidar. Sacrifica a Dama e produz uma combinação devastante com bispo e torre que na literatura xadrezística se chama bateria ou “Moinho de Vento”, nome pelo qual é conhecido nos manuais de xadrez.

Carlos Torre vs Emanuel Lasker

“Moinho de Vento”

Moscovo (1925)

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Posição após 25.Bf6

1.d4 Nf6 2. Nf3 e6 3. Bg5 c5 4. e3 cxd4 5. exd4 Be7 6. Nbd2 d6 7. c3 Nbd7 8. Bd3 b6 9. Nc4 Bb7 10. Qe2 Qc7 11. O-O O-O 12. Rfe1 Rfe8 13. Rad1 Nf8 14. Bc1 Nd5 15. Ng5 b5 16. Na3 b4 17. cxb4 Nxb4 18. Qh5 Bxg5 19. Bxg5 Nxd3 20. Rxd3 Qa5 21. b4 Qf5 22. Rg3 h6 23. Nc4 Qd5 24. Ne3 Qb5 25. Bf6 Qxh5 26. Rxg7+ Kh8 27. Rxf7+ Kg8 28. Rg7+ Kh8 29. Rxb7+ Kg8 30. Rg7+ Kh8 31. Rg5+ Kh7 32. Rxh5 Kg6 33. Rh3 Kxf6 34. Rxh6+ Kg5 35. Rh3 Reb8 36. Rg3+ Kf6 37. Rf3+ Kg6 38. a3 a5 39. bxa5 Rxa5 40. Nc4 Rd5 41. Rf4 Nd7 42. Rxe6+ Kg5 43. g3 1-0

Texto originalmente publicado na edição impressa do expresso das ilhas nº 905 de 03 de Abril de 2019.

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Autoria:António Monteiro,7 abr 2019 9:23

Editado pormaria Fortes  em  8 abr 2019 7:30

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