Desporto e a Violência Baseada no Género

PorLeonardo Cunha,14 ago 2020 7:48

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Cabo Verde acordou a semana passada com mais uma notícia de feminicídio. Infelizmente, uma jovem de 17 anos foi assassinada à facada na tarde de terça-feira, 04 de agosto, em Achada Bel-Bel, município de Santa Cruz, alegadamente por um jovem de 23 anos.

Segundo a imprensa, a vítima, conhecida por Lavínia, morava em Achada Laje no município de Santa Cruz, chegou a queixar-se do perseguidor à Polícia. A morte de Lavínia acabou por comover toda a comunidade cabo-verdiana que ainda desconhece a história que envolve este assassinato.

No passado dia 6 de agosto, 2 dias depois por coincidência, a ativista social e socióloga Miriam Medina fez o lançamento de um livro intitulado “Se causa dor não é amor”. Este livro, conta na primeira pessoa, histórias de violência no namoro e tem o intuito de “revelar à sociedade cabo-verdiana a marca de agressividade e violência que envolve as relações afetivas entre os jovens”.

É também interessante saber que a Miriam é uma notável dirigente do grupo Mon na roda. Este consagrado grupo de dança de cadeira-de-rodas tem tido uma notável trajetória na afirmação do desporto paralímpico e na capacidade dos seus participantes se superarem e atingirem patamares impensáveis no panorama do desporto Cabo-verdiano.

Esta série de coincidências e circunstâncias deu-me a oportunidade para refletir sobre este fenómeno e procurar boas práticas nas quais o desporto poderá dar um contributo importante para a mitigação deste fenómeno. Mesmo considerando que em Cabo Verde diminuíram os casos de Violência Baseada no Género (conforme resultados de um estudo realizado pelo ICIEG, em parceria com o PNUD, em 2019), ainda existe um caminho para que seja um fenómeno erradicado da nossa sociedade.

Em África, uma organização tem feito um trabalho excecional neste tema, conciliando o desporto à saúde reprodutiva. A TackleAfrica usa o poder e a popularidade do futebol para fornecer informações e serviços sobre HIV e Saúde e Direitos Sexuais e Reprodutivos (SRHR) a jovens em campos de futebol de todo o continente.

A organização promove estas ações através de formação de técnicos de futebol, professores de educação física e líderes comunitários, incentivando o uso de sessões de futebol divertidas e interativas com mensagens de saúde embutidas. Além de receber informações sobre saúde sexual durante as sessões de futebol, os jogadores também têm a possibilidade de ter acesso a serviços de saúde sexual em sessões e torneios de futebol, como teste de HIV, preservativos e outros métodos anticoncecionais, e encaminhamentos para outros serviços clínicos.

A TackelAfrica está presente em 12 países e desde 2012 que os seus programas se focam na educação sobre HIV, contraceção, planeamento familiar, Violência Baseada no Género (VBG), Mutilação Genital Feminina (MGF), Casamento Infantil e foca-se igualmente no Empoderamento de Meninas.

O impacto gerado tem sido notável com mais de 15 000 jovens envolvidos (sendo que 46% são do género feminino). Numa abordagem holística e comunitária tem sido possível criar um envolvimento de vários parceiros para garantir que através de processos educativos através do desporto se possa mitigar muitos dos problemas sociais que assolam as localidades na qual eles fazem a sua intervenção.

A TackelAfrica é uma organização que mostra que o Desporto pode ser um veículo de excelência para a mudança social e pode ser um catalisador dentro de um conjunto de medidas concretas para a mitigação da Violência Baseada no Género. Um exemplo que poderá ser replicado em Cabo Verde no sentido de trazer maior clareza aos jovens sobre a estas questões da sexualidade que, podendo não ser abertamente debatidas, poderão tornar-se verdadeiros problemas pessoais e sociais.

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Autoria:Leonardo Cunha,14 ago 2020 7:48

Editado porSara Almeida  em  17 ago 2020 18:32

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