Não consegui apurar a sua veracidade, mas para o caso isso também não interessa, pois ela em si própria é um exemplo da necessidade da evolução e alteração das leis ao longo do tempo.
Com efeito, o Homem deve ter a capacidade de reconhecer um erro, ou inexactidão e saber, com sabedoria, corrigi-lo de forma a melhorar o que estava feito.
É frequente a alteração de algumas leis, ou porque se tornaram caducas com a evolução dos tempos; ou porque se mostraram ineficazes na sua aplicação e/ou no objectivo pretendido; ou até, porque a sua interpretação pode comprometer a aplicabilidade da norma.
Qualquer modalidade desportiva rege-se por leis, ao qual normalmente chamamos de regras.
Se assim não fosse, qualquer disputa desportiva seria um autêntico caos, onde cada um tentaria impor as sua próprias regras ou as que mais lhe convinham no momento.
Se com regras já é o que é, o que seria sem elas.
Nem quero imaginar!
Mas a regras desportivas existem e, com a evolução dos tempos, da tecnologia e retirando ilacções da experiência adquirida, é natural que elas se venham alterando de forma a melhorar o desempenho e qualidade das diversas modalidades.
Vejamos, por exemplo no futebol, em que há 50 anos atrás, não era permitido fazer qualquer substituição de jogadores e hoje, em parte devido à pandemia, é possível efectuar 5 substituições, o que equivale a dizer que, actualmente, durante uma partida de futebol é possível trocar quase meia equipa.
O xadrez também não foge à regra da evolução das leis e por isso é frequente assistirmos a algumas alterações.
A última das quais aconteceu em 2017, com entrada em vigor em 1 de Janeiro de 2018.
A história de hoje tem a ver com a regra da promoção.
Segundo o relato que me fizeram, na altura em que aconteceu a situação que vos irei contar, as leis estabeleciam que quando um jogador, tendo a vez de jogar, jogasse um peão para a fileira mais distante em relação à sua posição inicial, ele devia trocá-lo como parte da mesma jogada por uma dama, torre, bispo, ou cavalo da na referida casa de chegada.
Quer isto dizer que o peão quando chega à ultima fila é premiado, sendo promovido a uma peça de qualidade superior.
Mas passemos à história, que aconteceu num num torneio em que uma das partidas chegou à posição do diagrama 1.
Esta é uma posição claramente empatada.
Diagrama 1
No entanto, o jogador de brancas, depois de a contemplar durante algum tempo decide anunciar que irá dar mate no próximo lance.
“Enlouqueceu”, deveriam ter pensado os espectadores presentes, perante o anunciado.
Mas o nosso jogador, louco ou não, pegou no seu peão colocado em g7 e avançou com ele até g8, anunciando que queria promovê-lo a um Cavalo negro, dando xeque mate no seu adversário (ver diagrama 2).
Depois de muita discussão, em que o jogador se agarrou à letra das leis do jogo, que apenas dizia que o Peão podia-se promover a Dama, Torre, Bispo ou Cavalo, sem determinar a cor, o director do torneio não teve alternativa senão atribuir-lhe a vitória.
Diagrama 2
Como disse, logo no início, não consegui saber se a história é ou não verdadeira, mas é certamente um grande exemplo de imaginação e criatividade que, supostamente, obrigou a uma alteração da lei da promoção, cujo texto actual é o seguinte:
“Quando um jogador, tendo a vez de jogar, joga um peão para a fileira mais distante em relação à sua posição inicial, ele deve trocá-lo como parte de uma mesma jogada por uma dama, torre, bispo, ou cavalo da mesma cor na referida casa de chegada. Esta é chamada a casa de ‘promoção’”.
Eis aqui um exemplo de como os factos conseguem contrariar o que se pretendia alcançar com a letra das normas existentes.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1040 de 3 de Novembro de 2021.