Um ucraniano chamado Oleg Romanishin

PorFrancisco Carapinha,7 mar 2022 8:19

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Presidente da Federação Cabo-verdiana de Xadrez
Presidente da Federação Cabo-verdiana de Xadrez

Esta semana fui apanhado de surpresa com o pedido de preencher esta coluna com um dos meus escritos, numa altura em que nada tinha previsto para isso.

Ainda sem nenhum tema na manga, tinha uma certeza: qualquer que fosse a escolha o caminho teria de ir parar a Ucrânia.

Não sou a favor deste nem daquele lado, mas sou claramente contra a guerra, principalmente este tipo de guerra que nada tem a ver com aquela em que Brecht, através da “Mãe Coragem”, dizia não fazer mal a ninguém.

Eram outros tempos em que a guerra, mesmo sendo guerra, não tinha o real perigo de acabar com todos nós, risco que hoje corremos se um qualquer maluco se lembrar de apertar o botão final.

Basta um pequeno foco para incendiar e destruir o mundo inteiro.

Deixemos a guerra e passemos à paz, essa mesma que me permitiu, como árbitro de xadrez, conhecer e conviver com alguns dos meus ídolos da juventude.

Karpov, Mequinho e Romanishin foram três dos meus maiores ídolos da juventude.

Karpov, porque quando me iniciei na arte de Caissa era o Campeão do Mundo; Mequinho, porque chegou a ser o número três do Mundo e falava português; Romanishin, porque aparecia nos primeiros lugares de todos os grandes torneios e em quase todos os livros de xadrez que eu desfolhava, tinha sempre, pelo menos uma partida dele.

Exceptuando Karpov, já tive o privilégio de arbitrar os outros dois. Mequinho, uma única vez, no Continental das Américas em 2019, mas Romanishin, já por diversas vezes, sempre no Torneio Internacional da Figueira da Foz, em Portugal.

É sempre um prazer arbitrar este grande senhor do xadrez mundial que foi campeão europeu de juniores, que em 1979 foi 5.º Classificado no Torneio de Candidatos de Riga e em 1995 chegou aos quartos de final do Torneio de Candidatos (PCA).

O seu profissionalismo é um exemplo para todos os outros, ele que foi medalha de prata na Olimpiada de 1978, em Buenos Aires, onde jogou pela equipa da União Soviética, já que naquela altura o seu país, a Ucrânia, era parte integrante da extinta URSS e o que veio a acontecer até ao ano de 1991, quando na sequência do colapso daquela forçada união, os ucranianos saborearam a independência do seu país.

Na sequência da independência da Ucrânia, Romanishin, a partir de 1996, passou a representar o seu país de origem tendo conquistado uma medalha de prata e duas de bronze, respectivamente nas Olimpíadas de Yerevan (1996), Elista (1998) e Istambul (2000).

O estilo de jogo de Romanishin tem sido descrito, por vários especialistas, como sendo agressivo, talvez sendo o resultado do treino que recebeu quando era jovem. Junto com um grupo de outros aspirantes a mestres, primeiro foi treinado por Viktor Kart (um instrutor da Academia de Deportos de Lviv, sua cidade natal). Depois teve como mestre senior e tutor/mentor, o extraordinário Mikhail Tal, um ex- campeão mundial conhecido pelo seu xadrez de ataque.

Relativamente à teoria de aberturas, Romanishin, tem uma reputação pelo uso de sistemas raros, pouco convencionais e, às vezes, descartados desde há muito tempo. Só mediante uma investigação profunda e uma preparação precisa pode empregar estas aberturas como armas para iludir a teoria conhecida e lutar pela vitória no tabuleiro do jogo dos reis.

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Nos torneios em que já arbitrei este Grande Mestre, já com 70 anos, completados em Janeiro, sempre me recordo da postura, só ao alcance dos grandes campeões, e do cafezinho servido pela nossa querida Patrícia, durante o decorrer das partidas.

Relembro uma história em que num desses torneios da Figueira, o nosso amigo Guipov, se dirigiu a ele falando-lhe em russo e ele, pura e simplesmente, respondeu que não sabia falar russo. Essa reposta talvez fosse o prenúncio do que estamos assistindo lá para aqueles lados do Leste europeu.

Faço votos que este conflito termine rápido e que brevemente possa vir a arbitrar novamente o GM Oleg Romanishin, a quem enviei recentemente uma mensagem tentando saber como e onde se encontra e para a qual obtive a seguinte resposta:
Obrigado pela sua mensagem. Sim, estou na Ucrânia na minha cidade natal Lviv e mais ou menos bem, por enquanto.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1057 de 2 de Março de 2022.

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Autoria:Francisco Carapinha,7 mar 2022 8:19

Editado porAndre Amaral  em  7 mar 2022 15:56

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