Tânger tem agora o maior porto do Mediterrâneo

PorJorge Montezinho,25 ago 2019 7:17

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Há pouco mais de um mês foi inaugurada a extensão do porto de Tânger, tornando-o num dos 20 maiores do mundo, no maior de África, superando Port Said (Egipto) e Durban (África do Sul), e colocando-o à frente dos portos europeus do Mediterrâneo. Agora, em entrevista à Jeune Afrique, o director central do porto, Rachid Houari, explica a estratégia para a infra-estrutura que, acredita, vai revolucionar ainda mais a economia marroquina.

Antes de 2007, Tânger era apenas mais uma cidade pobre do norte de África. Mas em apenas 12 anos, transformou-se num pólo industrial e na “menina bonita” dos investidores estrangeiros. Tudo começou com a construção de um novo porto de classe mundial em 2007, perto da cidade, o Tânger Med.

Mais do que um porto, o Tanger Med é uma plataforma logística, uma prioridade estratégica para o desenvolvimento económico e social de Marrocos e faz parte da política económica orientada para as exportações. A sua posição particular, no Estreito de Gibraltar, no cruzamento das duas principais rotas marítimas e a 15 quilómetros da União Europeia, permite servir um mercado de centenas de milhões de consumidores. Além disso, o complexo Tanger Med tem uma dupla missão: ser uma plataforma de transbordo (transhipment) dedicada aos movimentos internacionais e regionais de contentores e ser um porto de importação e exportação com o objectivo de melhorar a competitividade da região. 

A instalação de zonas industriais francas e logísticas do complexo dá aos operadores vantagens excepcionais: desde regulação aduaneira vantajosa, até processos alfandegários simplificados, isenção ilimitada do IVA e mão-de-obra qualificada, abundante e barata.

O desenvolvimento do porto e da zona industrial faziam parte do Plano de Aceleração Industrial 2014-2020 do país magrebino e a recente abertura do novo terminal dá um novo fôlego a esta estratégia de desenvolvimento. “Tivemos de aproveitar as oportunidades de tráfego o mais depressa possível”, explicou Rachid Houari, director geral da infra-etstrutura à Jeune Afrique, “caso contrário, outros poderiam tê-las capturado. O negócio de contentores atingira já um ponto de saturação. No ano passado, os volumes movimentados totalizaram 3,4 milhões de TEUs [Um TEU representa a capacidade de carga de um contentor marítimo normal, portanto 3,4 milhões de TEUs equivale a 3,4 milhões de contentores] superando a nossa capacidade em 15%. Graças ao Tanger Med II, temos a maior capacidade na região do Mediterrâneo para a actividade de contentores, à frente dos portos espanhóis, franceses, italianos e gregos”.

Marrocos tem estado empenhado em lutar com adversários acima do seu peso. Actualmente já é o principal destino turístico de África, o maior produtor de automóveis do continente e agora o país capaz de movimentar mais contentores na bacia do Mediterrâneo.

O Tanger Med II demorou nove anos a ser terminado. O projeto de 1,47 mil milhões de dólares fez-se em duas fases. A primeira começou em maio de 2010 e foi concluída em 2016, a segunda fase foi acabada três anos depois.

O Tanger Med II tem dois novos terminais de contentores – TC3 e TC4 – com capacidade adicional de 6 milhões de contentores. O TC3, que é operado pela principal operadora portuária de Marrocos, Marsa Maroc, tem capacidade de 1 milhão de TEUs, o TC4, que é operado pela APM Terminals, com sede na Holanda, tem capacidade de 5 milhões de TEUs.

Segundo a Autoridade Portuária de Tanger Med, com os novos terminais, o porto de Tanger Med terá capacidade para processar 9 milhões de contentores, 7 milhões de passageiros, 1 milhão de veículos e 700.000 veículos pesados.

“O Tanger Med II é duas vezes maior que o Tanger Med I, aumentando a área de armazenamento de conten­tores de 80 hectares para quase 200 hectares”, refere Rachid Houari. “Mas as novas instalações portuárias também proporcionam mu­danças tecno­lógicas. Desde 2007, a forma como os portos são projectados evoluiu, com maior automatização das operações de transbordo. No Tanger Med II, a saída por navio será maior. Os operadores podem alocar até oito guindastes para carregar ou descarregar um navio. Além disso, toda a bacia Tanger Med II tem 18m de profundidade. Anteriormente, apenas parte do complexo portuário atingia essa profundidade. Isso permite-nos acomodar os maiores navios do mundo. O porto pode ainda receber sete navios ao mesmo tempo. Isso não é possível em nenhum outro lugar do Mediterrâneo”, reforça o director central do porto.

Com a extensão, o porto marroquino supera as infra-estruturas de Algeciras (Espanha), Valência (Espanha) e Gioia (Itália) e liga Marrocos a 77 países e 186 portos à volta do mundo.

Numa dúzia de anos, o porto de Tanger Med tornou-se vital para a economia de Marrocos. Só em 2018 movimentou 33,14 mil milhões de dólares em exportações e importações. E graças ao Porto de Tanger Med, muitas multinacionais estabeleceram as suas fábricas em Tânger e arredores. 912 empresas – principalmente de logística, indústria automóvel, aeronáutica, têxtil e outros setores – operam actualmente perto do porto e usam-no para transportar os seus produtos. Estas empresas deram origem a 75.000 empregos.

Em 2011, Marrocos criou a Cidade Automóvel de Tânger (TAC), uma zona industrial franca, para atrair empresas internacionais que fabricam veículos, peças de reposição, logística e outras actividades terciárias. Entretanto, o sector automóvel tornou-se num importante pilar da economia marroquina.

A aeronáutica é outro sector que está a gerar empregos e investimentos. Até 2020, acredita-se que possam ser criados 33.000 postos de trabalho, um aumento enorme em relação aos 11.000 empregos que havia em 2015.

Outro sector importante é a logística. Muitas empresas de logística internacional estabeleceram escritórios e unidades de armazenamento perto do porto de Tanger Med.

Em Abril deste ano, a DHL Global Forwarding, líder mundial no fornecimento de serviços aéreos, marítimos e rodoviários de carga, assinou um acordo com a Tanger Med Port Authority para estabelecer um novo Hub Logístico África-Europa no porto de Tanger.

Biliões de dólares estão a ser despejados em Tânger, e nos arredores, através do investimento directo estrangeiro, o que está a criar milhares de empregos. Segundo as últimas projecções, da Universidade de Oxford, esta tendência manter-se-á no futuro.

“A decisão da Renault de construir uma fábrica de automóveis perto de Tanger Med dependeu, em particular, da disponibilidade de uma linha ferroviária que liga as suas instalações à área portuária”, refere Rachid Houadi. “Todos os dias, seis comboios, que transportam veículos da Renault, chegam ao porto, e outros dois serão em breve adicionados, com ligação directa à nova fábrica na cidade de Kenitra. [localizada 245 km a Sul de Tânger]. Dois outros comboios carregados de hidrocarbonetos saem do porto diariamente, enquanto outros quatro transportam passageiros. Estamos também a considerar a instalação de comboios de cereais. Todos os nossos terminais estão agora ligados à rede ferroviária”.

Além disso, há ainda uma ligação directa à auto-estrada onde 330.000 camiões circulam por ano, viajando entre a Europa e Marrocos. Hoje, 40 por cento do tráfego de carga do Tanger Med é com a África Ocidental. O transbordo de mercadorias em Marrocos poupa cerca de 10 dias aos transportadores marítimos que operam na sub-região, em comparação com os outros portos do Mediterrâneo.

“Nos últimos anos, vá­rios portos subsaarianos pro­curaram inspirar-se na nossa experiência. Em particular, pediram-nos sessões de formação, bem como para redesenharmos o modelo de gestão de vários terminais portuários. Para isso criámos a Tanger Med Engineering, que reúne 70 engenheiros e técnicos experientes. As nossas equipas já participaram em missões no Senegal, na Costa do Marfim, nos Camarões e em Madagáscar”, conclui Rachid Houari.

Cerca de 90 por cento dos volumes de contentores que passam pelo porto de Tânger estão em trânsito para outros destinos. O maior mercado, como referido, com 40% de participação, é a África Ocidental, região para onde as empresas marroquinas estão a expandir-se em força nos últimos anos. Cerca de 20% do tráfego é para a Europa e 10% para as Américas.

Texto originalmente publicado na edição impressa do expresso das ilhas nº 925 de 21 de Agosto de 2019. 

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Autoria:Jorge Montezinho,25 ago 2019 7:17

Editado porAntónio Monteiro  em  17 mai 2020 23:20

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