Os investimentos estrangeiros, que em 2019 somaram 1,5 biliões de dólares, recuaram no ano passado para 859 mil milhões de dólares, um valor cerca de 30% inferior ao mínimo que tinha sido registado em 2009, aquando da crise financeira global.
Para este ano, a entidade mantém as previsões anteriores em que vaticinava uma queda do investimento estrangeiro entre 5% e 10%, sublinhou o director de empresas e investimentos da UNCTAD, James Zhan, na conferência de imprensa de apresentação destes dados.
"O investimento directo estrangeiro provavelmente terá uma recuperação em forma de 'U', mais lenta que a do comércio externo e dos PIB [produto interno bruto] globais, que se espera que recuperem em 'V', já que os projectos de investimento internacional tendem a reagir às crises com algum atraso", analisou o responsável.
A contracção do IDE afectou nomeadamente os países desenvolvidos, onde caiu 69% - o seu pior nível em 25 anos - , enquanto nas economias em desenvolvimento a queda foi apenas de 12%.
Esta tendência desigual fez com que a percentagem de investimentos em países em desenvolvimento crescesse até 72% do total global (616 mil milhões de dólares), a taxa mais alta de sempre.
Por regiões, a União Europeia (UE) foi uma das regiões mais afectadas, com uma queda de cerca de 70%, totalizando 110 mil milhões de dólares (90 mil milhões de euros).
"Das 27 economias da UE, 17 viram o investimento estrangeiro cair, incluindo a Alemanha, Áustria, França e Itália, enquanto na Suécia dobrou e em Espanha cresceu 52%", adiantou Zhan.
A América Latina foi a região em desenvolvimento mais fustigada pela crise sanitária em termos de investimento, já que o IDE recuou 37% em 2020 para 101 mil milhões de dólares devido, segundo Zhan, à sua dependência em indústrias relacionadas com matérias-primas, já debilitadas anteriormente à pandemia de covid-19.
No Brasil, o investimento externo caiu 46%, enquanto no Peru recuou 76%. A Colômbia registou uma diminuição de 49%, a Argentina viu o investimento directo externo derrapar 47% e o Chile 21%.
Nesta região, o México foi país que registou a queda de investimento direto estrangeiro mais baixa, de 8%.
Já em África, a descida do investimento direto estrangeiro foi menor, 18%, enquanto a Ásia foi a região que melhor resistiu, com uma diminuição de apenas 4% no ano passado, concentrando mais de metade dos investimentos estrangeiros (476 mil milhões de dólares ou 391 mil milhões de euros).
A China é uma das poucas grandes economias que cresceu em 2020 - 23% -, tendo mesmo visto crescer o seu investimento relativamente a 2019, em 4%, para 163 mil milhões de dólares.
Isto deveu-se, entre outros factores, às políticas de apoio à entrada de capital estrangeiro aprovadas após os confinamentos, que neste país duraram menos que em outras latitudes.
Também na Índia o investimento cresceu, na ordem dos 17% para 57 mil milhões de dólares, com o país a beneficiar da injecção de capitais na economia digital.
Nos Estados Unidos, o indicador caiu 49% para 134 mil milhões de dólares, afectada pela redução de investimentos de importantes parceiros como Reino Unido, Alemanha e Japão.
Os investimentos 'greenfield' [primeira entrada de uma empresa num país estrangeiro], que é um bom indicador de perspectivas futuras, somararam 547 mil milhões de dólares no ano passado, uma queda de mais de um terço (35%) face a 2019.
Este ano "o investidores continuarão cautelosos", concluiu Zhan, salientando que a recuperação progressiva do indicador vai depender de factores como as campanhas de vacinação, novas ondas de covid-19, os programas estatais de recuperação da crise e a situação, actualmente frágil, dos grandes mercados emergentes.