Um estudo empírico comparativo, entre Cabo Verde e Gana, realizado entre 4 de Maio e 15 de Junho, analisou a intenção dos residentes dos dois países em serem vacinados contra a covid-19.
A investigação foi conduzida pelo cabo-verdiano Alector Ribeiro, da Universidade de Surrey, no Reino Unido, e Charles Atanga Adongo, da universidade ganesa de Cape Coast.
No total, 817 pessoas (507 em Cabo Verde e 410 no Gana) participaram na pesquisa, respondendo a um inquérito por questionário. Os dados finais deverão ser publicados até final do ano, numa revista científica internacional. Os resultados preliminares foram disponibilizados em exclusivo ao Expresso das Ilhas.
Em Cabo Verde, 82.3% dos inquiridos tencionam tomar a vacina contra o SARS-CoV-2. Destes, 84% têm a intenção de ser vacinados assim que possível, 9.1% depois de um mês, 3.8% depois de três meses e 2.6% após um ano. 13.5% dos participantes não querem ser vacinados.
No Gana, apenas 63% dos inquiridos querem tomar a vacina contra a covid-19 e, destes, apenas 48.7% pretendem ser vacinados assim que possível.
O resultado do inquérito demonstra que o nível de confiança nas vacinas, por parte respondentes em Cabo Verde, é de 73,2% (confiante ou muito confiante). A proporção de pessoas nada confiantes é de apenas 4.36%. Os participantes com idades entre os 26 e os 45 anos são quem mais revela estar “confiante” ou “muito confiante” (cerca de 66%). Essa percentagem desce nos inquiridos com idade entre 46 e 55 anos (17.5%) ou nos menores de 25 anos (8.9%).
No Gana, o nível de confiança nas vacinas é de 59.1%, enquanto que a percentagem dos inquiridos que não confiam na vacina é de 19.9%.
Sobre o risco percebido das vacinas contra a covid-19, 90% dos inquiridos em Cabo Verde acham que a vacina tem pouco ou nenhum risco para a saúde. No Gana, 71.8% dos inquiridos subscrevem esta opinião.
“O sucesso do processo da vacinação passa por uma comunicação mais eficaz da importância da vacinação para a protecção das pessoas”, observa o investigador cabo-verdiano.
Vacinas e turismo
A pesquisa também incidiu sobre a percepção relativa à influência da vacinação na retoma turística.
Manuel Alector Ribeiro justifica a abordagem escolhida com a importância de existirem dados que permitam conhecer as realidades concretas dos países, ao invés de se recorrer a estudos feitos noutras regiões.
“Normalmente, estudos desta natureza são quase sempre realizados em países desenvolvidos e as recomendações são depois extrapoladas para países em desenvolvimento, com realidades muito diferentes”, comenta.
Segundo os dados preliminares, quatro em cada dez inquiridos em Cabo Verde trabalhavam directamente no sector turístico antes da covid-19. A percentagem de ganeses inquiridos na mesma situação é de 36.4%.
Quando questionados sobre os efeitos da vacinação na retoma do turismo em Cabo Verde, a maioria dos participantes no estudo de Alector Ribeiro e Atanga Adongo concorda que a vacinação é a chave para a retoma turística.
A grande maioria “concorda” ou “concorda plenamente” que a “vacinação fará de Cabo Verde um destino turístico seguro” (95.2%). Igualmente, uma larga maioria acredita que “a vacinação vai permitir que Cabo Verde atraia mais turistas internacionais” (95.1%), que “a vacinação vai permitir a Cabo Verde receber mais investimentos turísticos” (87.6%), que esta “é importante para a recuperação económica de Cabo Verde através do turismo” (95.5%) e que “a vacinação fará de Cabo Verde um destinto turístico muito competitivo” (90.1%).
Curiosamente, são os inquiridos que não trabalham no sector do turismo quem demonstra um maior nível de concordância com o efeito positivo da vacinação na retoma (63.6%; 36.4% entre os trabalhadores turísticos).
No caso do Gana, os resultados demonstram que a grande maioria “concorda” ou “concorda plenamente” que a “vacinação fará do país um destino turístico seguro” (90%), que “a vacinação vai permitir que o Gana atraia mais turistas internacionais” (86.1%), “vai permitir ao Gana receber mais investimentos turísticos” (74.2%), “é importante para a recuperação económica do Gana através do turismo” (92.2%) e “fará do Gana um destinto turístico muito competitivo” (80.2%).
Também no Gana são aqueles que não trabalham na área do turismo quem mais acredita nos efeitos positivos da vacinação para o reforço do sector (60.1%; 39.9%).
“Estamos em crer que este será o primeiro estudo empírico realizado em países em desenvolvimento sobre este tema. Este estudo aporta importantes implicações teóricas para o avanço do conhecimento nesta área, mas também importantes implicações para a gestão do turismo e políticas públicas do turismo em contexto de crise”, destaca Alector Ribeiro, doutorado em turismo, professor em Surrey e investigador da Universidade de Joanesburgo, na África do Sul.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1027 de 4 de Agosto de 2021.