Que avaliação faz destes dois dias de trabalho?
Dia 2, uma reunião da Comissão Regional Africana, com ministros, onde falámos sobre o plano de recuperação para o turismo no continente africano. Dia 3, tivemos uma sessão também ligada a esse plano, mas de forma mais específica, com um fórum de investimento. Acreditamos, verdadeiramente, que o continente tem muito potencial, muitas oportunidades e muito espaço para investir. Os investimentos são uma das melhores formas de criar novos projectos, o que significa criar novos empregos. Por vezes, pensamos que a crise começou quando a covid começou, mas não. Quando a covid começou foi o período de choque, não sabíamos o que fazer. Agora estamos no período em que a verdadeira onda de crise está a chegar, económica e financeiramente falando. Muitas famílias, pequenas e médias empresas, estão sem rendimentos. Para muitas pessoas, o futuro está em risco. As pessoas estão à espera dos turistas, mas não há conectividade, não há regras claras e harmonizadas, os turistas estão confusos e viajar tornou-se uma dor de cabeça.
O que é necessário fazer, desse ponto de vista?
O nosso papel, assumimos esta responsabilidade e estamos a trabalhar nela, é apoiar a criação de regras claras e padrões de viagem. Mas esta é uma tarefa muito difícil, porque envolve diferentes ministérios, diferentes chefes de Estado.
Parece-lhe que a indústria turística está a mudar de forma estrutural?
A geração mais jovem está a viajar e irá viajar mais e a geração mais velha tem medo de viajar. Por isso, a primeira mudança que veremos é geracional. A segunda está relacionada com as viagens de negócios, que diminuirão por causa do Zoom. Grandes e pequenas empresas perceberam que é menos dispendioso, mais rápido, mais eficiente e confortável.
Como é que tudo isto poderá afectar o investimento.
Em termos históricos, sempre que há uma crise, há novas oportunidades. E, especialmente nos investimentos, os preços estão a descer. Foi por isso que organizámos o fórum, porque é oportuno investir no sector turístico. Claro que, devido à pandemia, muitos processos de construção pararam, muitas grandes infra-estruturas e outros processos pararam, mas, com o tempo, penso que se vai recuperar. É necessário muito trabalho, árduo e paciente. E é importante apoiar o sector privado, uma vez que, em termos de liquidez, financeiramente, muitas empresas internacionais ou locais estão sob risco e têm muitos problemas. Estes serão passos muito importantes nos próximos dois, três ou quatro anos.
Será que Cabo Verde está numa boa posição para aproveitar as oportunidades que existem?
Desde logo, a questão da vacinação. Cabo Verde estará entre os países do mundo com maior taxa de vacinação. Depois, uma questão que não é nova, que é a localização. Cabo Verde está a poucas horas de África, dos Estados Unidos, da Europa. Isto, com a segurança, é uma oportunidade para se tornar um dos destinos mais procurados nos próximos anos, atraindo mais turistas.
Qual poderá ser o papel da Organização Mundial de Turismo?
Em primeiro lugar, estabelecer regras, normas e protocolos claros, para reactivar conexões, já que muitas companhias aéreas limitaram os seus voos. Se tivermos passageiros, hoje temos dois voos e amanhã teremos sete. Mas são necessárias regras claras e menos barreiras. Sempre defendemos a acessibilidade e a facilitação de viagens e antes isso dependia dos vistos. Hoje temos mais “dez vistos”. Estou a falar da vacinação, dos certificados, dos PCR, das quarentenas. Este é um processo contínuo. Ao mesmo tempo, estamos à espera de novos investimentos, novos projectos. A educação é uma das nossas prioridades. Existem novas oportunidades para o desenvolvimento sustentável.
Está optimista?
Nunca deixei de estar. Sim, estou optimista. Estamos em muito melhor posição do que estávamos no ano passado e espero que, com o processo de vacinação, com os protocolos de segurança, seja possível [viajar]. Tenho a certeza que, daqui por um ano, dois anos, vamos tirar estas máscaras e esquecer o que é que são testes PCR.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1032 de 8 de Setembro de 2021.