Sei que a criação é o que o move. O investimento em energia fotovoltaica surge desse desejo?
Sou apaixonado por arquitectura e estou muito animado por poder desenvolver um projeto partindo de um espaço vazio. Pensar no hotel que melhor se adapta ao destino, que mais agradará aos nossos clientes e que, ao mesmo tempo, seja eficiente tanto no consumo como no funcionamento diário. São desafios que gosto muito de enfrentar.
Este novo desafio é uma aposta para o futuro. Temos os recursos ao nosso alcance e agora queremos unir forças para alcançar uma operação cada vez mais sustentável. O objetivo final: fazer de Cabo Verde um destino totalmente verde.
Qual é o objetivo do investimento? Um turismo com pegada ecológica mínima? Atrair um turista diferente, o ecologicamente consciente?
As energias renováveis são o futuro e os nossos clientes também nos lembram isso. Os viajantes estão cada vez mais conscientes e valorizam muito as empresas e destinos que estão comprometidos com iniciativas de energia limpa e de sustentabilidade. Queremos que os nossos hotéis em Cabo Verde sejam um exemplo a seguir pelos restantes hotéis da cadeia no uso responsável da energia. Cabo Verde agora depende de combustível importado para geração de eletricidade. O combustível e a tecnologia que se usa para a geração de energia são altamente poluentes. O preço do barril é volátil, depende dos mercados, que podem impactar no preço que a população paga pela electricidade, e também chega às ilhas de barco, pelo que pode haver problemas de abastecimento ou mesmo riscos ecológicos em caso de acidente com derramamento no mar. Cabo Verde pode evitar esta dependência aproveitando o sol e o vento, que são recursos próprios do país, e respeitando totalmente o meio ambiente. Outros países, como a própria Espanha, estão a fazer a transição dos combustíveis fósseis para as energias renováveis, com uma etapa intermediária para o gás. Em Cabo Verde temos a oportunidade de saltar essa etapa intermediária, em que as ilhas não dependem de outra fonte que tem que importar, que tem um custo alto e também é poluente. O país também aprendeu com os erros do passado de outros destinos e estabeleceu regras para o respeito pela paisagem e pelo meio ambiente. Com a tecnologia ao seu alcance, Cabo Verde pode dar o salto directo para as energias renováveis.
Nesse sentido, haverá uma mudança no marketing?
O objetivo é fazer com que os seis hotéis de Cabo Verde operem com energia 100% verde. Se tivermos sucesso, será um motivo de orgulho e um marco a ser imitado por outros hotéis e destinos e, claro, devemos comunicá-lo. Mas, por enquanto, vamos trabalhar passo a passo para atingir esse objectivo.
Vai usar já esta tecnologia em todos os hotéis RIU em Cabo Verde?
O primeiro projecto será para os hotéis Riu Funaná e Riu Cabo Verde na Ilha do Sal. Lá instalaremos, com o nosso fornecedor de confiança, Anaya, painéis fotovoltaicos nas coberturas dos hotéis com capacidade para produzir 750 kW de Potência Pico. É claro que este investimento é feito em coordenação com a APP [Águas de Ponta Preta], a empresa fornecedora de energia eléctrica da região, que por sua vez fará um investimento na sua central eléctrica para poder integrar as energias renováveis e acumular energia para cobrir picos de procura.
Terão uma Rede Inteligente, ou seja, uma instalação capaz de armazenar energia e fazer uma gestão dinâmica que se adapta à capacidade individual de produção de energia, com a nossa solar, e aos picos de procura adicionais à rede geral que ocorrem em determinados momentos ou situações, no nosso caso, quando fica nublado ou anoitece. Esta vai ser uma grande mudança em direcção à sustentabilidade e claro que vamos fazer isso em constante coordenação e gradativamente para garantir que tudo funcione bem, tanto no hotel como na central da APP. O objectivo final é que todos os hotéis em Cabo Verde possam funcionar com energias renováveis e que aos poucos possamos expandir o uso da energia solar também para o hotel Riu Palace Santa Maria no Sal e para a Boa Vista, para os três hotéis.
Já sabe o valor total do investimento? E quando tudo estará a funcionar?
A fase de design e orçamento está concluída. O investimento da RIU neste projecto dos hotéis Riu Funana e Riu Cabo Verde no Sal será de 500.000 euros. Se tudo correr bem, começaremos nas próximas semanas com o objectivo de concluir a instalação das placas em seis meses.
Vamos falar de turismo, como espera que o mercado evolua em Cabo Verde?
Este será um ano de recuperação. Colocámos todos os nossos esforços na recuperação ao máximo das operações dos diferentes mercados europeus para reabrir toda a nossa oferta e recuperar todos os trabalhadores. Acabámos de inaugurar dois hotéis, o Riu Palace Boavista e o Riu Funaná no Sal, que fica ao lado do hotel Riu Palace Santa Maria, que inaugurámos em Março. Estamos entusiasmados com o inverno. Depois de mais de um ano e meio de encerramentos, esperamos poder reabrir os seis hotéis em Cabo Verde para a próxima temporada alta.
Acha que será necessário reinventar o destino Cabo Verde?
Acho que Cabo Verde é um destino muito bem posicionado nos principais mercados europeus. Tem uma excelente oferta graças às suas praias, ao seu clima e à sua gente e só falta continuar a trabalhar nos serviços, infra-estruturas e conectividade para alcançar a excelência.
O mercado europeu continuará a ser preferido? Quando acha que haverá espaço para apostar noutros mercados, como Estados Unidos ou Brasil?
Conseguimos reabrir os hotéis graças aos voos programados da Polónia e também do Luxemburgo e da Alemanha. Agora estamos a aguardar a retoma das operações da Bélgica, que começam em meados de Outubro, bem como da Holanda e da França. E claro, estamos a aguardar o regresso dos clientes do Reino Unido, principal mercado para o destino. Se tudo correr bem, e com a flexibilização das medidas para viagens internacionais, os voos da Grã-Bretanha podem voltar em Outubro. Quanto a novos mercados, este ano já tivemos uma surpresa positiva da Polónia, onde o destino foi muito bem recebido. Ao trabalhar em todos os mercados de origem, devido à diversificação dos destinos onde temos hotéis, exploramos sempre novos caminhos de marketing. No Brasil trabalhamos com grandes operadoras para outros destinos e a possibilidade de se estabelecer uma operação no Sal foi discutida, mas não se concretizou.
Com a crise do sector de aviação, os destinos turísticos são os mesmos, mas os aviões são menos. Vê alguma dificuldade em atrair operadores para Cabo Verde?
A indústria do turismo espera poder reactivar em força as viagens internacionais de longa e média distância. Esta reactivação surge num excelente momento para Cabo Verde uma vez que, com a chegada do inverno na Europa e na bacia do Mediterrâneo, está muito bem posicionado graças ao seu clima quente. Os voos de Hannover, Frankfurt e Dusseldorf já foram retomados e esperamos a retoma de vários voos nas próximas semanas a partir de Bruxelas e Oostende [Bélgica]. Estamos no bom caminho.
Sei que vivemos num momento de muita incerteza, mas há previsão de novos investimentos em Cabo Verde?
Agora não é hora de pensar em novos investimentos. Acabámos de inaugurar o hotel Riu Palace Santa Maria no Sal e estamos empenhados em recuperar a actividade que perdemos durante a pandemia e esperamos que isso aconteça neste inverno.
Como estão, actualmente, as relações entre os hotéis RIU e as autoridades políticas e institucionais cabo-verdianas?
É minha irmã Carmen quem está pessoalmente em contacto com o governo e instituições públicas e tem um excelente relacionamento com todos eles. Actualmente, inclusive, já estão em negociações para promover a expansão desse projecto de energia solar para mais hotéis e destinos no país.
Os problemas de infra-estruturas em Cabo Verde ainda são um travão a um novo tipo de produto, para além do sol e do mar?
Cabo Verde é um bom destino de férias. Para ser óptimo, depois da era da pandemia, é preciso investir mais em infra-estruturas de saúde. A partir de agora, quando viajarem, os clientes vão valorizar o serviço de saúde a que podem ter acesso caso haja algum problema no destino.
Quanto ao produto, as ilhas do Sal e da Boa Vista, onde estão os hotéis RIU, são um destino de sol e mar. As praias maravilhosas, o clima e o povo simpático e acolhedor é o que o nosso cliente internacional procura. É preciso entender que fogem dos dias cinzentos, da chuva e da neve e por isso a necessidade de visitar um destino de sol e praia nunca vai desaparecer. Temos que estar atentos a esta riqueza, a esta localização privilegiada e valorizá-la para o país. Cabo Verde já evitou muitos erros cometidos em outros destinos que desenvolveram a sua indústria nos anos 60 e 70. Protegeu a sua paisagem e natureza e posicionou-se nos mercados internacionais em tempo recorde. Na verdade, tornou-se um exemplo para outros países africanos que agora apostam no turismo e vêem Cabo Verde como modelo. Com as energias renováveis vamos criar um destino ainda mais sustentável e será mais um motivo de orgulho.
Duas últimas perguntas: o que é turismo para si? E qual é o hotel ideal para si?
Turismo é a minha paixão. Tive o privilégio de nascer numa família de empreendedores e visionários que me deu a oportunidade de desenvolver esta paixão em mais de 20 países em todo o mundo. O turismo é riqueza, emprego e oportunidades para os países; é criatividade, serviço, design e boas recordações para os nossos clientes. É uma indústria em constante evolução, é transversal, tão sensível a todos os tipos de factores e ao mesmo tempo tão forte que é capaz de sobreviver até às piores crises. Como agora, que estamos num momento de renascimento. E sobre o hotel ideal, acho que não existe porque tudo depende do momento da vida em que nos encontramos e do que procuramos na estadia. Podemos ir em casal, com amigos, com a família, com filhos pequenos ou mais velhos, em trabalho ... O importante é que tenha uma boa localização, boas instalações e um serviço impecável.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1034 de 22 de Setembro de 2021.