Em entrevista à Lusa, à margem da participação no Fórum Eurafrica, que decorreu quinta e sexta-feira em Carcavelos, nos arredores de Lisboa, Benedict Oramah disse que “é do interesse da Europeia que África se desenvolva e que exista uma África próspera”.
“Esta é a altura de ser honesto, de recomeçar, assumir que África tem as suas prioridades e reconhecer que a Europa também tem as suas aspirações; a questão é vermos o alinhamento dessas prioridades e como podemos trabalhar dentro dos limites de cada prioridade, senão não funciona”, disse o líder do mais importante banco de financiamento comercial no continente.
“Felizmente, temos aspirações comuns, é do interesse da Europa que África se desenvolva, porque uma África próspera cria um mercado vibrante e dinâmico que pode sustentar o desenvolvimento europeu dos próximos anos, tendo em conta a dinâmica demográfica”, argumentou Oramah.
Segundo o responsável, “uma África próspera teria tratado da migração desordenada que tanto preocupa a Europa; uma África próspera contribui mais facilmente para a economia global e torna mais fácil aproveitar os seus abundantes recursos em termos de produtos que pode exportar, diversificando-se para além da simples exportação de matérias-primas”.
“Uma África mais próspera torna mais fácil a sua participação no crescimento verde, porque é no nosso continente que está a maioria das matérias-primas necessárias para os veículos eléctricos”, afirmou.
Questionado sobre se a mentalidade de ir a África apenas colher as matérias-primas para transformação em produtos acabados noutros continentes já mudou de forma a incluir os países africanos no processo de criação de valor, o banqueiro respondeu que ainda há muito trabalho pela frente.
“Ainda não mudou tanto, para ser honesto, e o indicador dessa mudança limitada é o nível de Investimento Directo Estrangeiro (IDE); quando a Europa começar a perceber que África precisa de subir na cadeia de valor, o IDE da Europa em África sobe, porque isso traz capacitação e tecnologia para integrar África na cadeia de valor da Europa”, disse o banqueiro, lembrando que “foi assim que a América liderou o crescimento da Ásia e tirou mil milhões de chineses da pobreza”.
No entanto, concluiu, “não se vê isso a acontecer na relação entre a Europa e África”.