“No contexto regulatório, subsiste e persiste um conjunto de decisões notoriamente discriminatórias, inibindo e penalizando, sobremaneira, a dinâmica dos negócios do Grupo CVTelecom”, escreve o presidente da empresa, João Domingos Correia, no relatório e contas relativo a 2021.
Também no documento, é referido que o Regulador continua a manter uma postura excessivamente administrativa e intrusiva na actividade dos operadores, “por vezes desarticulada de iniciativas estruturantes do Governo para o sector”, o que contribuiu para a manutenção de um clima regulatório pouco favorável, “aumentando os receios do Grupo CVTelecom sobre as consequentes ameaças ao investimento e à inovação”.
“Durante o ano de 2021, constatámos várias intervenções regulatórias que, no entendimento do Grupo CVTelecom, foram, em alguns casos, extemporâneas e, em outros, questionáveis quanto à sua proporcionalidade ou pertinência no contexto do mercado”, lê-se no relatório.
Por outro lado, diz a operadora, há um incumprimento sobre questões consideradas essenciais para a sustentabilidade do sector, “nomeadamente, as que se referem ao combate à pirataria e à oferta ilegal de conteúdos, bem como à regulamentação da atividade das OTTs, o que tem contribuído para uma grande perda de valor do mercado das comunicações”.
Segundo a CVT, os condicionalismos impostos pela regulação tiveram ainda impactos na capacidade de apresentar soluções ao mercado, “designadamente no que toca a tarifas que combinem internet e voz num único pacote”.
Evolução dos negócios
Em 2021, segundo o relatório e contas da CVT, o negócio de telecomunicações teve um aumento de 8% da receita consolidada do Grupo, “superando assim as expectativas mais optimistas”.
Os segmentos Residencial e Particular foram marcados pela aceleração na execução do plano estratégico da empresa, designadamente na expansão de cobertura FTTH (Fiber to the home, ou fibra para o lar) e na melhoria dos níveis de cobertura e capacidade da rede 4G.
A empresa, cuja renovação do contrato de concessão foi formalizado a 12 de Janeiro, refere que no retalho fixo houve o crescimento da base de clientes, nomeadamente na internet fixa. “Este crescimento é claramente resultado do sucesso do Grupo em endereçar as necessidades do mercado, tanto a nível de qualidade e experiência de utilização, como também a nível de pricing e simplificação da oferta”, diz a CVT.
Pelo segundo ano consecutivo, registaram-se níveis de crescimento à volta de 20% na internet fixa e o Grupo CVTelecom acabou o ano de 2021 com cerca de 24 mil clientes, um aumento de 46% nos últimos dois anos.
“No entanto”, sublinha a operadora, “no que diz respeito à TV por Assinatura, o segmento, pelo segundo ano consecutivo, experienciou um declínio na base de clientes, embora num nível muito mais contido, em resultado da concorrência por parte de prestadores não licenciados, situação à qual o Grupo tem demonstrado o seu desagrado junto das autoridades competentes, sem que, infelizmente, haja sinais de rutura com o quadro atual”.
Impulsionado pelos consumidores mais novos “e pelo modo de vida always connected, o consumo de internet continua a registar níveis de crescimento bastante expressivos”, que se traduziu num aumento de 18% no tráfego de dados face ao ano precedente.
No serviço concessionado da telefonia fixa tradicional, como nos anos anteriores, registou-se uma redução dos níveis de consumo por cliente bem como a diminuição progressiva do número de assinantes ao longo do ano 2021.
Devido à redução massiva no número de turistas, e apesar de alguma recuperação, os níveis de receita de roaming, em 2021, ainda se encontravam bastante aquém do nível pré-pandémico. Com o encerramento dos hotéis, o Grupo CVTelecom perdeu cerca de 80% da facturação no sector empresarial directamente ligado ao sector do turismo.
Receita de Exploração
Em 2021, as receitas de exploração registaram um aumento de 8% face a 2020, para 4.907 milhões de escudos.
Por segmento, as receitas do retalho móvel cresceram 14% face a 2020. O maior contributo foi o aumento dos utilizadores e do consumo médio por utilizador de internet móvel.
Em relação ao retalho fixo, que compreende o serviço de telefonia fixa e os serviços comercializados pela CVMultimédia, o ano fica marcado, por um lado, pela continuidade do declínio da voz tradicional, que recuou 13% para os 277 milhões de escudos e, por outro lado, pelos outros serviços multimédia que registaram um aumento de 8%, para os 1.215 milhões de escudos. Neste contexto, a evolução dos serviços multimédia, particularmente o serviço de internet, compensou a queda no serviço de voz tradicional, o que resultou num crescimento de 3% do retalho fixo, para os 1.492 milhões de contos.
O wholesale (venda por atacado), onde se inclui os serviços de Circuitos Alugados, Interligação e Roaming, teve um crescimento de 7,2% para os 570 milhões de escudos. Performance explicada pela recuperação do roaming, um aumento de 74% para os 100 milhões de escudos, beneficiado da reabertura do mercado turístico.
No que diz respeito aos Circuitos Alugados, a procura por parte das empresas nacionais de soluções de conectividade e migração de serviços para circuitos alugados resultou num aumento de 20% da receita associada ao segmento.
As receitas de terminação, que abrangem o tráfego de voz e SMS de entrada nacional e internacional, registaram um decréscimo de 23% e continuam a experienciar “a forte canibalização” resultante do uso dos aplicativos OTTs (Over The Top, entrega de conteúdo audiovisual pela internet sem que os utilizadores precisem de assinar serviços de empresas tradicionais de TV por cabo ou via satélite, como, por exemplo, o Whatsapp, o Viber, ou o Skype) para fazer e receber chamadas off-net.
Situação financeira
O activo total, em 31 de Dezembro de 2021, foi de cerca de 16,37 mil milhões de escudos, um aumento de 4,8% face ao ano anterior.
Os capitais próprios situaram-se nos 6,9 mil milhões de escudos, aumento de 2,7% face ao ano anterior, explicado pelo aumento dos resultados líquidos consolidados do Grupo CVTelecom.
“No contexto regulatório, persiste um conjunto de decisões discriminatórias, penalizando a dinâmica dos negócios do Grupo CVTelecom” João Domingos Correia, PCA do GCVT
No final de 2021, o passivo não corrente ascendia a 4,6 milhões de contos, um crescimento de 19,4% face ao ano precedente, explicado pelo aumento dos empréstimos ao longo prazo que, tendo em conta também a componente de curto prazo, estavam à volta dos 5 milhões de contos. Cerca de 40% do total da dívida do Grupo diz respeito ao financiamento destinado ao sistema EllaLink. A maturidade média da dívida financeira, no final de 2021, era de 8 anos, com um custo médio da dívida em torno dos 3,3%.
O total do passivo corrente foi de 4.809 milhões de escudos, 3,6% inferior ao registado em 2020, explicado, em grande parte, pela redução da dívida líquida ao Estado.
Investimento
Os investimentos efectuados pela CVT nos últimos 5 anos ultrapassam os 11 milhões de contos. Em 2021, continuou o programa de transformação tecnológica em curso, com a continuidade de melhoria da cobertura 4G e FTTH, mas também projectos estruturantes para reforçar os níveis de resiliência e disponibilidade na rede.
O projeto EllaLink, que representou um investimento de 3 Milhões de contos, “virá resolver de forma definitiva um dos grandes problemas com que o país se deparava, a ausência de uma verdadeira redundância na sua ligação internacional. Pelo impacto que o projeto EllaLink irá ter na economia do país é, certamente, um dos investimentos mais importantes e estratégicos efetuados, nos últimos anos, em Cabo Verde”, diz a empresa no relatório e contas.
Na rede móvel, após um ciclo de expansão da rede de quarta geração - uma cobertura populacional 4G superior a 80% - o ano de 2021 fica marcado pelo direccionamento do investimento para a melhoria das capacidades e melhoris de licenciamentos para suportar o crescimento de capacidade e o aumento, simultâneo, no número de sessões que resulta das alterações dos padrões de consumo.
No acesso fixo, o Grupo CVT continuou a expansão da rede FTTH e terminou o ano com cerca de 22 mil casas ligadas, “superando-se assim o objetivo inicial de 20 mil, com uma forte aposta na capital do país”. Nos próximos anos, garante a empresa, haverá uma “expansão da rede fibra em outras áreas do país, designadamente nos restantes grandes centros urbanos, com o objectivo último de preparar-se para o phase-out da rede de acesso em cobre”.
Em 2021, o investimento realizado pelo Grupo CVTelecom registou um aumento de 28%, para aos 2.534 milhões de escudos – 50% das receitas de exploração. Este crescimento do CAPEX (em inglês, Capital Expenditure – o montante de investimentos realizados em equipamentos e instalações) está relacionado com o crescimento no nível de investimentos concedido ao Cabo EllaLink e à nova estação Cabo Verde Telecom Global.
No ano passado, foram destinados ao ecossistema do novo cabo submarino cerca de 835 mil contos, aos quais se somam os 2,2 milhões de contos investidos nos anos precedentes. Neste contexto, o investimento no ecossistema de cabos submarinos representou cerca de 34% do investimento total do Grupo CVTelecom.
Cerca de 54% do investimento recorrente foi canalizado para projetos da rede móvel, quer na componente de acesso para fazer face ao aumento do tráfego, quer na componente core com vista a modernização do núcleo da rede. Já os investimentos dirigidos à internet fixa representaram cerca de 11% do CAPEX do Grupo.
Prosseguiu-se com a política de investimentos nos sistemas de informação que, no ano de 2021, contou com a contribuição do projeto de transformação digital. Os investimentos nos sistemas de informação representaram cerca de 11% do investimento do Grupo CVT.
Os outros Investimentos foram dirigidos, essencialmente para o sector da energia, a renovação da frota operacional, beneficiação de edifícios e CAPEX comercial, representando cerca de 24% do CAPEX recorrente.
O Grupo CVTelecom, que até ao final de 2005 exercia a actividade em regime de concessão exclusiva, tem a maioria do capital social detida pelo INPS, com 57,9%. Os outros accionistas são a ASA - Aeroportos e Segurança Aérea (20%), a Sonangol Cabo Verde (5%) o Estado de Cabo Verde (3,4%) e privados nacionais (13,7%).
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Prioridades estratégicas
O Grupo CVTelecom refere que vai entrar num novo capítulo da sua história, com a convergência das unidades de negócio, vigência de um novo contrato de concessão e internacionalização dos negócios. Uma resposta positiva a estes desafios, diz a empresa, requer maior agilidade na abordagem ao mercado, “enquadrado pelas ambições estratégicas para os próximos anos”.
I. Consolidação da Liderança
Passa por uma proposta de valor assente na diferenciação, simplificação da oferta e de processos, com incentivos que passam pela conclusão de programas como a restruturação, o rebranding, a fusão das empresas do Grupo e a continuação do Programa de Transformação Digital.
Com a convergência das Empresas, serão lançadas ofertas que combinam num único pacote o fixo e o móvel. No segmento empresarial, o Grupo CVTelecom continuará a apostar no reforço da carteira de soluções, com especial atenção aos sectores do turismo e estatal.
II. Excelência no Customer Care
III. Inovação e Investimento
O próximo triénio será marcado pela expansão da fibra óptica e pela melhoria da cobertura da rede móvel.
No domínio da rede core e plataformas, será concluído o projecto da modernização da Rede Core bem como o lançamento da solução Cloud do GCVT. De igual forma, o Grupo irá apostar na resiliência das infra-estruturas, quer em termos físicos, quer a nível dos sistemas informáticos, reforçando assim os investimentos em áreas chave, designadamente, na energia, na substituição da rede Inter-ilhas e na cyber segurança.
IV. Eficiência Operacional
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1080 de 10 de Agosto de 2022.