A Feira de Empreendedorismo e Fomento Empresarial, que se realiza este fim-de-semana, vai reunir na Praia expositores vindos um pouco de todo o país.
Ao Expresso das Ilhas, Edney Cabral, PCA da Pró Empresa, explica que o fomento empresarial e o acesso ao financiamento constituem um dos pilares do Programa do Governo.
“Com esta feira queremos promover um espaço de interacção entre as startups, as micro e pequenas empresas que foram beneficiadas nos nossos programas. Queremos colocá-los no mesmo espaço e dar-lhes possibilidades de contactarem com potenciais clientes e fornecedores, mas também com financiadores, porque os bancos também vão lá estar presentes. O objectivo é promover iniciativas empresariais e alargar a base de contactos que os nossos jovens empreendedores possam ter”.
Acesso a financiamento
Qualquer relatório sobre o ambiente de negócios em Cabo Verde mostra que um dos pontos negativos enfrentados pelos empresários nacionais, seja qual for a dimensão da empresa, é o acesso ao financiamento.
Edney Cabral defende que o cenário tem vindo a mudar ao longo dos anos.
“Para facilitar o desenvolvimento dos negócios criou-se um conjunto de instituições no ecossistema do financiamento. Falo da Pró Empresa, que está mais ligada à assistência técnica, para ajudar os empresários nos seus projectos. Depois temos a Pró Garante para auxiliar nas garantias e, depois, a Pró Capital que é uma sociedade de capital de risco”.
Este responsável acredita que se conseguiu criar um conjunto de soluções de financiamento e de assistência técnica às empresas nacionais. “Temos exemplos vários de linhas de financiamentos, cuja garantia dada pela Pró Garante, vai dos 50 aos 100%”.
Os resultados, defende, “estão aí”.
“Estamos a falar de mais de sete milhões de contos em garantias concedidas e sempre com ponto de partida na Pró Empresa que ajuda a estruturar e dá assistência técnica para que as empresas possam chegar às entidades financeiras de crédito em melhores condições de serem atendidas nos seus pedidos de financiamento”.
Taxa de sucesso dos projectos
Criada há seis anos, a Pró Empresa já acompanhou a criação de centenas de negócios de várias dimensões e em diferentes estágios de desenvolvimento. “Nós recebemos várias solicitações que vão desde a simples ideia de negócio até a empresas constituídas ou pessoas que querem expandir as suas actividades”, relata Edney Cabral que, no entanto, recusa falar numa possível taxa de sucesso.
“A procura nem sempre é para o financiamento, o que torna um pouco difícil calcular uma taxa de sucesso. Se eu recebo um jovem que precisa de orientação empresarial e ele consegue o que quer é sucesso garantido. O mesmo acontece nas outras situações. Nós não queremos cingir a nossa actividade apenas ao financiamento. Há centenas de projectos que conseguiram manter-se de pé com o nosso apoio e, consequentemente, com o financiamento”.
Feira
A primeira edição da feira reúne empresas de várias áreas “e promotores de várias faixas etárias”, diz Edney Cabral, o que na sua opinião serve para provar “que o empreendedorismo não tem idades e as áreas são diversas e prova que estamos abertos a todo o tipo de área que produza valor”.
O foco principal, acrescenta, é a geração de emprego e a criação de riqueza. Nós esmos aqui para apoiar todos os projectos em todos os sectores de actividade.
“Queremos promover um espaço de interacção entre as startups, as micro e pequenas empresas que foram beneficiadas nos nossos programas” – Edney Cabral, PCA da Pró Empresa
Dessa forma, a feira vai procurar promover um espaço de interacção entre startups, micro e pequenos empresários e jovens empreendedores beneficiados no âmbito dos programas de promoção do empreendedorismo, desenvolvimento empresarial, emprego e empregabilidade criando um espaço que facilite a troca de informações e de experiências.
Outro dos objectivos, referem os organizadores do evento, será a promoção do matching entre a “demanda dos jovens e os benefícios, facilidades e oportunidades disponíveis ao nível da promoção empresarial e fomento do emprego”, assim como a promoção de “novas iniciativas empresariais, alargamento da base de contactos e identificação de novas oportunidades de negócios”.
Autoemprego
O autoemprego e o empreendedorismo jovem são áreas em crescimento em Cabo Verde, proporcionando assim oportunidades para os jovens se tornarem independentes economicamente. Ao longo dos anos têm sido adoptadas medidas para promover o empreendedorismo entre os jovens, incentivando a criação de novos negócios e oferecendo suporte e recursos para aqueles que desejam iniciar suas próprias empresas.
O governo tem também implementado políticas e programas para facilitar o acesso ao financiamento para jovens empreendedores. Existem linhas de crédito especiais e programas de microfinanças disponíveis para ajudar os jovens a iniciar seus negócios.
No entanto, como já foi referido, o empreendedorismo e o autoemprego enfrentam desafios como a falta de acesso a capital ou a burocracia.
No geral, os números do autoemprego e do empreendedorismo têm vindo a crescer no país, com um ambiente cada vez mais favorável para o desenvolvimento de novos negócios.
Mas pode o autoemprego considerar-se uma alternativa válida para quem procura entrar no mercado de trabalho?
“Eu diria que o autoemprego poderia funcionar como algo complementar. Mas a nossa experiência tem sido positiva, os jovens que enveredam pelo empreendedorismo têm conseguido criar o autoemprego e potenciar o emprego de outras pessoas. Tem sido uma experiência bastante boa e, na prática, temos visto que funciona”, aponta Edney Cabral.
Cleusa Monteiro, empreendedora
Formada no CERMI, Cleusa Monteiro viu na área das energias renováveis uma forma de garantir o seu emprego criando a sua empresa que trabalha na instalação de painéis solares para produção de electricidade em casas e empresas.
Esta empreendedora fez a sua formação na área de instalação de painéis solares entre 2015 e 2017. A empresa foi criada em 2018 entrando em actividade em 2019.
"No início tínhamos muitos projectos em parceria com o CERMI. Mas depois, com a pandemia, todos esses projectos desapareceram. Neste momento sobrevivemos à conta de uma ou outra instalação em residências".
A participação na Feira de Empreendedorismo e Fomento Empresarial surge como uma oportunidade. "Vamos fazer demonstrações do nosso trabalho na área das energias renováveis, principalmente da energia solar", aponta, esclarecendo que leva consigo a expectativa de conseguir estabelecer uma rede de contactos "para conseguirmos mais clientes".
Outro dos objectivos de Cleusa é debelar uma das dificuldades que tem sentido desde que iniciou a sua actividade: faltam fornecedores de equipamentos.
"Temos muitos problemas com a falta de materiais, de equipamentos aqui em Cabo Verde", lamenta. "É muito complicado. Algumas lojas têm, mas às vezes temos de esperar pelo menos um mês para que o fornecedor mande aqueles materiais". A empresa, diz, ainda é pequena e, com isso, vem a falta de capacidade de resposta e de construir um stock. "Se durante a Feira conseguíssemos um fornecedor com quem fizéssemos uma parceria, isso seria óptimo".
"Os trabalhos quase não aparecem e quando aparecem há problema com materiais e, às vezes, as pessoas acabam por desistir" por causa dessa dificuldade de fornecimento dos equipamentos de produção de electricidade.
A maioria dos clientes de Cleusa são emigrantes "e de cada vez que eles vêm cá eles querem ver trabalho feito".
A instalação de um projecto de energia solar numa casa ainda tem um preço relativamente elevado, revela. "Para uma casa, um kit básico de 3 kilowatts que alimenta uma televisão, um frigorífico e uma máquina de lavar roupa fica por um preço a rondar os 400 mil escudos, isto na ilha de Santiago. Um projecto mais completo, de 5 kilowatts, fica a rondar os 800 mil escudos". Preços válidos, segundo esta empresária, apenas para a ilha de Santiago. No resto do país, esclarece, os preços ficam, naturalmente, mais caros por causa dos custos associados aos transportes e deslocação de quem os vai instalar.
Os preços elevados estão na origem de um outro problema que, segundo esta empresária dificulta um maior volume de negócios e que é a dificuldade no acesso ao financiamento por parte dos bancos não só para quem potenciais clientes, como também para que as próprias empresas possam ter maior facilidade na aquisição de materiais. "Quase não há linhas de crédito, são poucas. Na teoria, elas existem, mas os bancos não dão muitas informações sobre isso", lamenta Cleusa Monteiro.
Mas não são apenas empresários da área das energias renováveis que vão participar neste evento organizado pela Pró Empresa.
Segundo a organização, são esperados quase uma centena de expositores que abrangem áreas desde a alimentação ao agro-negócio, beleza e bem-estar, comércio, indústria ou turismo e hotelaria e que vêm um pouco de todo o país. Santiago é a ilha mais representada, mas há também empresas de São Vicente, Santo Antão, São Nicolau, Boa Vista, Fogo, Brava e Sal.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1120 de 17 de Maio de 2023.