Manuel Mendes, Grupo Mendes e Mendes: “Estamos numa ilha onde as instituições ainda não estão a pensar de forma positiva”

Ouril Hotel Mindelo
Ouril Hotel Mindelo

Abre portas esta quarta-feira o Ouril Hotel Mindelo. São 130 quartos, uma sala de conferências para 150 pessoas, ginásio, duas piscinas, um restaurante Americo’s, garagem e espaços para lojas, num investimento do grupo nacional Mendes e Mendes. “Um produto nacional, um hotel de cabo-verdianos”, explica o promotor, Manuel Mendes, em entrevista ao Expresso das Ilhas.

A construção do novo Hotel Ouril foi um processo longo. Como correu?

Estamos num momento de alegria, mas não foi fácil. Aqui em São Vicente, as pessoas precisam de se organizar, as empresas precisam de se reorganizar e acompanhar o desenvolvimento da ilha, para que empresas que venham fazer investimentos do tipo possam acreditar na mão de obra local. Não foi fácil, temos tido muitos constrangimentos, mas estamos acostumados às dificuldades, aliás, o nosso sucesso passa sempre por contornar grandes dificuldades.

Quais foram as maiores dificuldades, considerando que executaram o projecto num contexto marcado pela pandemia?

Saímo-nos bem sempre que há dificuldades. Mesmo que a pandemia tenha sido um momento complicado para todos, tentámos tirar proveito disso, tínhamos mais tempo, dedicámo-nos mais à obra. De facto, a pandemia trouxe dificuldades financeiras, ficámos um mês parados, mas sempre que algo não corre bem, devemos agarrar o lado positivo. Agora, foi um momento delicado, sobretudo porque estamos numa ilha onde as instituições ainda não estão a pensar de forma positiva, de fazer além daquilo que é a sua obrigação, ajudar as pessoas que chegam para investir e não conhecem a ilha. Sentimos isso quando chegámos nas instituições e ninguém te conhece.

Também enfrentaram os efeitos da subida generalizada de preços. Isso mexeu no orçamento do empreendimento?

Muito. Aliás, tivemos uma subida de preços, redução de produtos de qualidade disponíveis no mercado e alguns atrasos, porque houve empresas que não conseguiram entregar os produtos no período estipulado, não conseguiram trazer os materiais. Mas isso faz parte do mundo dos negócios.

Estamos a falar de um investimento de que montante?

Essa é a pergunta que todos gostam de me fazer, mas sou um empresário de terreno. Há uma preocupação, mas não poderemos falar disso, porque temos pessoas na área que esse é o seu trabalho.

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Manuel Mendes, Grupo Mendes e Mendes

Dentro de quantos anos esperam obter retorno do investimento?

Estamos a falar de uma ilha onde muita coisa tem de acontecer para que possamos ter uma previsão de retorno do investimento. Quando projectámos o investimento, tínhamos muitos operadores que estavam e que continuam interessados, mas o sistema que tínhamos montado foi desmontado por causa da crise. Estamos agora numa fase inicial de retoma de negociações, até agora bastante positivas. Há muita expectativa com este hotel. Temos a expectativa de transformar estas duas ilhas – São Vicente e Santo Antão – num só destino, mas ainda é muito cedo.

Quantos postos de trabalho foram criados?

Falamos de cerca de 100 postos de trabalho, por causa da restauração. Temos o restaurante Américo’s, que não é novidade para ninguém. Um restaurante de primeira linha em Cabo Verde, que emprega muitas pessoas. Com um hotel desta dimensão, temos de ter algumas pessoas. Teremos um bar-lounge, para uma média de 200 pessoas. Depois, teremos todo o grupo Mendes e Mendes, que se está a preparar para vir em força, para podermos ter o melhor serviço – embora a nossa ideia também seja trazer terceiros para o negócio. Queremos, a partir da experiência que temos no Sal, na Boa Vista e noutras paragens, empregar o maior número possível de pessoas.

Quais são as expectativas de crescimento?

Temos uma intenção para a zona norte, temos ideias claras do que queremos. Em São Vicente, é necessário fazer pouca coisa para que a ilha apanhe o caminho de um desenvolvimento mais sustentado, mas é preciso mudar a mentalidade das pessoas, mais respeito pelas pessoas. São Vicente tem um bom Carnaval, bom festival e também é muito visitado pelos emigrantes. A nossa ideia é criar condições para, de facto, se atingir uma parte desses clientes.

O grupo Mendes e Mendes afirma-se como um importante grupo turístico nacional. O que se segue?

Brevemente haverá surpresas sobre o local onde será o próximo Ouril. Há muitos pedidos de ilhas e municípios e brevemente vamos lançar e anunciar o próximo desafio.

O que é que deve ser feito para uma maior participação do empresariado nacional no sector turístico?

Normalmente, não gostamos de falar de garantias do Estado, gostamos de pensar de forma independente. Creio que o cabo-verdiano tem de ter mais ousadia, mais coragem. O empresário cabo-verdiano tem de ser mais consistente, mais persistente, para correr atrás.

O mercado turístico é grande, há muito por fazer. Em Cabo Verde, estamos agora a começar. Os grandes investimentos implicam muitos custos e sacrifícios e o cabo-verdiano tem de aprender que tem de trabalhar mais horas, estar mais atento, acompanhar o que se passa no mundo. Nós participamos nas feiras em todo o mundo, onde conheces muitos grupos e começas a inteirar-te do desenvolvimento do turismo.

Há um mercado bastante grande para todos e há muita coisa por fazer. Agora, nós, cabo-verdianos, é que temos de ter esta iniciativa.

O empresário nacional tem de fazer, sobretudo, um trabalho de marketing e ser o mais regular possível, porque trabalhar entre nós é uma coisa, trabalhar com operadores internacionais, sobretudo Alemanha, Bélgica e países nórdicos, é completamente diferente.

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Autoria:Nuno Andrade Ferreira, Lourdes Fortes,30 ago 2023 11:31

Editado porSara Almeida  em  5 mai 2024 23:28

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