“O roteiro turístico de Santiago vai transformar as potencialidades em oportunidades”

PorJorge Montezinho,6 abr 2024 7:46

José Soares, Coordenador do Gabinete do Desenvolvimento do Turismo
José Soares, Coordenador do Gabinete do Desenvolvimento do Turismo

A criação do roteiro turístico da ilha de Santiago começou o ano passado – um projecto financiado pela Cooperação das Canárias, a fundo perdido, para a internacionalização das empresas Canárias e de Espanha. A primeira parte serviu para traçar um diagnóstico, e agora está a trabalhar-se na segunda fase do projecto, também financiado pela Cooperação das Canárias e pelo Ministério do Turismo, que é a criação dos vários roteiros que vão organizar o turismo em Santiago e, posteriormente, nas outras ilhas.

O conceito de roteiro turístico pode ser amplo e variado, e depender da interpretação de cada um. No entanto, pode-se dizer que um roteiro turístico é basicamente uma cadeia programática para visitar atracções turísticas. Roteiro turístico que se preza possui alguns objectivos específicos: organizar viagens e provisionar rotas, gastos na viagem, possíveis percalços e muitos outros factores adjacentes; fortalecer a identidade cultural de determinada área turística e atrair mais visitantes ao local; desmistificar a jornada turística e incentivar o desejo de qualquer um se tornar um turista assíduo; reduzir custos de viagens, democratizando a prática do turismo; melhorar as experiências e promover novas experiências e fomentar segmentos específicos do turismo, como o turismo de aventura, por exemplo. Além disso, um roteiro bem elaborado movimenta o mercado turístico porque aumenta o fluxo de pessoas que viajam. A Roteirização do Turismo em Santiago é um dos temas que vai estar em debate durante o workshop “A Construção do Destino Turístico de Cultura, Sol e Mar na Ilha de Santiago”, organizado pela Câmara Municipal de São Salvador do Mundo, no próximo dia 6, integrado na IV edição da Feira de Turismo de Santiago [ver caixa]. José Soares, o Coordenador do Gabinete de Desenvolvimento do Turismo (antiga Direcção Geral do Turismo e Transportes-DGTT) órgão de apoio ao Ministro do Turismo para definição das políticas do sector, explica ao Expresso das Ilhas no que consiste esta roteirização e o que se pretende com o projecto.

Será ainda durante este ano que sairá o roteiro turístico da ilha de Santiago?

Vamos fazer tudo para que isso aconteça, porque estão implicados vários passos, inclusive de ordem administrativa e financeira, mas estamos a fazer os possíveis para que Santiago tenha, pelo menos até o final do ano, a desejável roteirização da ilha. Ou seja, a conjugação de tudo aquilo que é o potencial da ilha. Usando a expressão aqui do Ministério, é identificar as potencialidades, embrulhar, empacotar e pôr à venda, pôr à disposição dos turistas e dos operadores.

No fundo, o que se pretende é organizar e crescer.

É isso. Já sabemos que Cabo Verde atingiu um milhão de turistas, mas ainda há uma questão para trabalhar, que é a questão da diversificação do destino. Há ilhas que são vulgarmente conhecidas como ilhas turísticas, porque têm turistas, mas também há ilhas com potencial que precisam deste trabalho. E a Ilha de Santiago tem tudo. Tem diversidade. Nós estamos a organizarmo-nos para crescer mais e criar empregos. Sempre na perspectiva de um turismo sustentável e seguro.

Falou da questão do milhão de turistas. É um número quase mágico em, ou era, porque em 2023, esse número foi atingido. Acha que é um peso que sai dos ombros das autoridades do turismo do país?

É um desafio, porque Cabo Verde é um arquipélago com 10 ilhas, 9 habitadas. É um desafio para crescermos cada vez mais, mas com segurança e com sustentabilidade. Ter um milhão de turistas é aquilo que era expectável, mas agora também queremos que a Ilha de Santiago faça parte desse bolo, faça parte desse crescimento através do processo de roteirização. E queremos a contribuição de todos: dos operadores privados, dos outros sectores do Estado, como o ambiente, a cultura, o náutico, ou seja, tudo aquilo que possa dar uma contribuição para que Santiago seja um destino cada vez mais estruturado, com o projecto a poder avançar, futuramente, para outras ilhas. No fundo, o objectivo é transformar, fazer das potencialidades oportunidades, transformá-las em rendimento.

E que turismo se pretende para Santiago? Uma vez que a ilha pode oferecer um pouco de tudo: natureza, aventura, sol e mar, religioso, urbano.

É isso, é isso. A roteirização de turismo de Santiago vai apanhar todos os segmentos. É o sol e praia, o cultural, e entra aí o religioso, a questão da música, mas também a natureza. Santiago representa, de certa forma, um pouco de tudo aquilo que Cabo Verde tem. Isso não quer dizer que as outras ilhas não tenham também, mas Santiago tem montanhas, tem vales, tem sol, tem praia, tem natureza, tem cultura.

Santiago é quase o compêndio do turismo de Cabo Verde.

Temos essa noção e a certeza que sim. Santiago faz parte de Cabo Verde, é a maior ilha de Cabo Verde e tem que ser valorizada nas suas potencialidades. Eu acredito que todas as ilhas de Cabo Verde, salvo uma ou outra, têm algo parecido com a ilha de Santiago, têm vários segmentos turísticos que, neste momento, existem em Cabo Verde. Cada uma à sua dimensão e à sua prestação. A roteirização da ilha vai também ao encontro daquilo que é o objectivo, e a missão do Ministério e do Governo, que é a diversificação do turismo, desconcentrar, de certa forma, o turismo que, neste momento, ainda está muito concentrado em duas ilhas. Claro que vamos continuar a apostar nessas duas ilhas, mas também nas outras, em particular Santiago, que poderá ser o modelo para as outras ilhas.

Os últimos números do turismo mostraram que Santiago recebeu, no ano passado, 9,8% dos turistas que entram em Cabo Verde. É um bom número? E até onde é que se pode ir? No fundo, qual é a meta que querem atingir?

O governo de Cabo Verde aponta para que em 2030 possamos chegar aos 3 milhões de turistas. Se Santiago, neste momento, a nível estatístico, tem essa percentagem residual, diria que é desafiador, tendo em conta a dimensão da ilha, mas é o trabalho que vai ser feito através do Ministério do Turismo, com os parceiros privados, públicos e, já agora, com a nova marca do turismo cabo-verdiano e, seguramente, esse número vai aumentar e aumentando em Santiago, aumentará também as outras ilhas.

A acessibilidade é ainda um problema no arquipélago. Qualquer roteiro, entre outras questões, tem de trabalhar os meios de transporte e o tempo entre destinos. Que soluções estão a propor?

É notório, um dos desafios de Cabo Verde é a conectividade entre as ilhas e, neste caso, também dentro das ilhas. A ilha de Santiago também enfrenta este desafio da conectividade, que será tido em consideração, por isso, a primeira fase do estudo apresentou rotas maiores, com, se calhar, percursos um bocadinho complicados, de difícil acesso. Este segundo período do estudo vai dividir as rotas, até subdividir, para que tenhamos uma rota possível de ser frequentada, por exemplo, num dia, ou pelo menos em meio-dia. Não podemos esquecer que Santiago tem navegação à volta da ilha de Santiago, e internamente pode-se viajar por meio terrestre. Tudo isto será tido em consideração para a elaboração da roteirização da ilha.

Há alguma parte do futuro roteiro que me possa adiantar?

Nós queremos destacar o turismo cultural. Sendo uma ilha com um património mundial da humanidade, a Cidade Velha, temos o foco no turismo cultural, esta é uma das identificações, mas também o turismo de natureza. São dois segmentos a divulgar e que, ao mesmo tempo, ajudam a potencializar o turismo de sol e praia na ilha de Santiago. E na cultura, para além dos patrimónios construídos, temos também as experiências que podemos proporcionar. Além disso, Santiago tem tudo aquilo que é a história oral e a história material: artesanato, olaria, cestaria, panaria, a história dos rabelados de Santiago, a própria história de língua materna que se iniciou na ilha de Santiago, na Cidade Velha, ou seja, tem particularidades que podem ser potencializadas como produto turístico da ilha, mas que serve igualmente o país. Ou seja, tem aquilo que pode fazer da ilha uma referência a nível do país e que torna o país único a nível do mundo.

Estes roteiros podem ajudar a que se consiga finalmente um dos grandes objectivos do turismo, que é levar rendimento às populações locais?

Claro, aliás, o objectivo final do turismo, da sustentabilidade do turismo, são as comunidades locais, não é verdade? E a roteirização pode ajudar, tendo tudo planeado, tudo organizado, é mais fácil um turista que pretende visitar Cabo Verde ou a ilha de Santiago, poder já conhecer o que é que pode encontrar nos sítios de mais difícil acesso de qualquer ponto da ilha de Santiago. Ter tudo planeado, tudo organizado, tudo divulgado, torna mais fácil e possível que o turismo chegue a toda a população. Esse é o objectivo do Governo e do Ministério do Turismo, porque o turismo que não seja sustentável, que não traga benefícios para as comunidades locais, não será seguramente um turismo que o Governo, que o Estado de Cabo Verde, pretende.

Sem roteiros não há esse turismo?

Existir, existe, mas o roteiro é mais um activo. Tanto existe, que hoje temos turismo, temos rotas, mas não diria oficiais, o objectivo também é que tenhamos rotas oficiais, reconhecidas. Mas atenção que as rotas não têm que ser sempre elaboradas pelo Ministério do Turismo, também recebemos propostas de operadores que conhecem bem os sítios e os lugares. O nosso papel é, de certa forma, formalizar tudo num só pacote, num só sistema, para que tudo esteja mais acessível, ou seja, com um clique, o turista que quer visitar, por exemplo, Fonte Lima, sabe que quando chega a Fonte Lima encontra olaria, com um clique, sabe que consegue encontrar o turismo de natureza ou o turismo rural, ou o Pico de Antónia. Ou seja, aquilo que queremos fazer com a ilha, com o país, é ter cada vez mais uma melhor organização, uma melhor comercialização, para que possamos ter mais turistas.

E é claro que depois as comunidades também têm que oferecer produtos, gastronomia, etc., com qualidade, para atrair os turistas.

Claro, a roteirização implica também trabalhar com as comunidades locais. Não vale a pena desenhar rotas se, por exemplo, numa determinada comunidade, onde há potencial, não trabalhamos essas comunidades para saber receber bem. Aliás, no nosso dia-a-dia, afirmamos que o turismo não é outra coisa senão a capacidade de receber bem o visitante. E as comunidades têm que estar preparadas para saber receber os visitantes.

Quais foram os principais desafios na criação destes roteiros?

Nesta primeira fase, aquilo que percebemos é que cada um, cada município, cada entidade, quer ter um roteiro, quer mostrar as variadíssimas oportunidades, as variadíssimos rotas dentro do seu município. Para já, entendemos que não precisamos de ter 50 ou 60 rotas, mas precisamos de ter, por exemplo, 7, 8, 9 rotas, que sejam bem estruturadas, para que possamos ter algo palpável, algo sustentável. A dificuldade é esta, sabemos que Praia tem tudo, que São Domingos tem tudo, que Tarrafal tem tudo, que São Miguel tem tudo, mas queremos, dentro do que esses municípios têm, escolher as melhores, as possíveis, e depois, paulatinamente, vamos desenvolver outras rotas, ou sub-rotas, dentro da própria ilha, e dos próprios municípios. É sempre difícil, e isto tem a ver com a nossa cultura, mas resolve-se com cada vez mais articulação, mais sintonia, mais partilha de esforço, de experiência, e podemos conseguir fazer coisas interessantes, não só na ilha de Santiago, como também em todo o país.

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Portanto, a cooperação será importantíssima, também para toda a gente não comece a fazer o mesmo.

Antes dizíamos que Santiago é uma ilha e nove destinos. Não, Santiago é uma ilha e um destino. Queremos juntar o melhor de cada município para transformar os melhores numa rota. E, consequentemente, aquilo que sobrar, aquilo que não for indicado, aquilo que não for trabalhado neste momento, não significa que não poderá ser trabalhado no futuro. Queremos dar passos seguros para que tenhamos uma rota segura, sustentável, que sirva as comunidades locais e, naturalmente, os municípios.

Já têm alguma ideia de como pretendem vender estes roteiros?

O turismo vende-se tanto cá dentro como lá fora. Tudo aquilo que seja plataforma, entidades, agora aliada à nova marca do turismo de Cabo Verde, será suporte, será meio para divulgação e venda daquilo que Santiago tem de bom.

Em relação ao público-alvo, é o mercado estrangeiro. Ou também o turista interno?

Claro, claro, fazer o turismo cá dentro. Não podemos falar de Santiago se não conhecemos a nossa própria ilha, não é? Ou seja, o turismo é uma oportunidade, é uma atividade económica que não é só direccionada apenas aos estrangeiros que vêm conhecer o nosso país, mas também aos próprios naturais. Temos que conhecer o nosso país, a nossa ilha, para que possamos saber vender a quem nos visita.

Como vê o turismo em Santiago daqui por uma década?

Vejo o turismo em Santiago dentro do contexto do país. Ou seja, estamos a falar daqui a uma década, estaremos em 2034, podemos ver Santiago a fazer parte dos 3 milhões de turistas em Cabo Verde, em que a percentagem deixa de ser aquilo que temos hoje, para ter uma percentagem muito maior, mas sempre na perspectiva de segurança e de sustentabilidade. A roteirização do turismo da ilha de Santiago faz parte do plano de actividade do Ministério do Turismo, mas o Ministério do Turismo, sozinho, não consegue, seguramente, elaborar a rota desejada. Por isso, a colaboração de todos, mas mesmo de todos, as entidades públicas e privadas, a sociedade civil, é fundamental. Na primeira fase, fizemos um percurso por todos os municípios, tivemos uma boa colaboração das câmaras municipais, andámos por vários sítios, cada município apresentou aquilo que tem de melhor, e com esta segunda fase, vamos fazer mais encontros, mais sensibilização, com a sociedade civil, com os operadores, para que todos possam colaborar. Porque o turismo é uma actividade económica e todos devem ganhar.

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“A construção do destino turístico de cultura, sol e mar na ilha de Santiago”

DIA 6 DE ABRIL, DAS 9 ÀS 18 HORAS

Cidade de Achada Igreja – Salão Paroquial

Abertura

Discurso do Presidente da CMSSM, Ângelo Vaz;

Discurso do Presidente da AMS, Carlos Silva;

Discurso do Ministro do Turismo e Transportes, Carlos Santos.

9h 30 - TEMA 1 – O Desenvolvimento sustentável do Turismo em Santiago: que novos rumos?

Oradores:

Eugénio Inocêncio – Pres. da Associação Turismo de Santiago;

José Luís Mascarenhas – Prof da Universidade de Santiago;

Moderador: Jorge Teixeira – Presidente da Associação Agências de Viagens e Turismo.

10h 00 – Intervenção da plateia.

10h 30 min – Cofee brack

10h 50 min – TEMA 2 – O papel do poder local no Turismo

Oradores:

Presidente da C M S Miguel – Herménio Fernandes;

Presidente da C M S Salvador do Mundo – Ângelo Vaz;

Presidente da C M S Cruz – Carlos Silva;

Presidente da C M S L Órgãos – Carlos Vasconcelos.

Moderador: Administrador do ITCV – Francisco Martins.

14 h 00 - TEMA 3 – A Roteirização do Turismo em Santiago

Oradores:

Coordenador do G D Turismo – José Soares;

V Presidente da AAVT – Sra Marvela;

Presidente da C M S R Grande – Nelson Moreira;

Presidente da C M Tarrafal – José dos Reis.

Moderador:

Gestor do Fundo Turismo – Manuel Ribeiro.

15h 25min- TEMA 4 – O Projeto Valorização Turística e Ambiental de Aldeias Rurais e o impacto na diversificação da oferta

Oradores:

Sub-Coordenador do Projeto – Pedro Rocha;

Presidente da C M S. Domingos – Isaías Varela;

Presidente da C M Tarrafal – José dos Reis;

Representante da ECOVISÃO – Programa Maio 2025 – Rui Mateus.

Moderador:

Vereador da CMSSM – Jair Correia.

17h 10min – encerramento:

Pelo Presidente da CMSSM;

Pelo Presidente da AMS;

Pelo Ministro do Turismo e Transportes.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1166 de 3 de Abril de 2024.

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Autoria:Jorge Montezinho,6 abr 2024 7:46

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  7 abr 2024 16:19

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