Uma ronda da equipa da Inforpress aos mercados da capital revelou preços que surpreendem até os consumidores mais acostumados à alta sazonal.
Os ovos, fundamentais na cozinha natalícia, variam entre 25 e 30 escudos a unidade, e uma palete de 30 unidades chega a atingir os 950 escudos.
O bacalhau, estrela da ceia, disparou para 3.500 a 4.000 escudos o quilo, afastando muitas famílias da tradição que marcou gerações.
Nas hortícolas, a realidade não é tão diferente, já que o tomate varia entre 540 e 720 escudos por quilo, o pimentão chega aos 600 escudos e a cebola atinge 400 escudos o quilo.
Mesmo perante esta subida, filas enormes mostram a corrida de quem ainda tenta garantir os ingredientes essenciais, mesmo com orçamentos apertados.
Para Mónica Correia, moradora da cidade da Praia, a situação é “desesperadora”.
“(…) Está muito grave. O dinheiro que temos não chega para fazer uma ceia decente. O preço do ovo está muito caro. Muitos de nós vamos ter de reduzir ou mudar o que colocamos na mesa”, lamentou.
O aposentado José Lima acrescentou que sempre gostou de manter a tradição, mas que este ano vai ter de improvisar.
“O bacalhau ficou fora do orçamento. Talvez comprar peixe seja mais barato, mas diferente do que sempre tivemos”, sugeriu.
Carlos Silva, jovem trabalhador, salientou o impacto nas famílias mais jovens.
“O salário mal dá para as despesas do mês, agora juntar dinheiro para a ceia é quase impossível. Muitos amigos vão passar o Natal com o mínimo possível, sem a tradição completa”, reclamou.
Alguns consumidores apontam causas naturais, como por exemplo a subida de alguns produtos hortícolas ligada às chuvas recentes no interior de Santiago, que prejudicaram a produção e afectaram o abastecimento.
“O preço do tomate e do pimentão subiu muito. Antes conseguíamos comprar para toda a família, agora é um esforço grande”, explicou um vendedor local.
Entre os consumidores, a preocupação é clara, a tradição do Natal está a ser comprimida pela realidade económica.
Muitos procuram alternativas mais baratas ou reduzem a quantidade de produtos, tentando manter o espírito da quadra. Outros recorrem a produtos importados, muitas vezes mais acessíveis, enviados por emigrantes que desejam celebrar a época junto das suas famílias.
A reportagem mostra como a subida do custo de vida se traduz em tensão, adaptação e desafios para os cabo-verdianos, mostrando que a quadra festiva pode ser, este ano, mais sobre resiliência, criatividade e solidariedade do que sobre abundância.
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