Berners-Lee lembrou o início do desenvolvimento da linguagem de programação que permitiu a criação da WWW, especialmente a capacidade para ser utilizada em qualquer tipo de sistema operativo e aparelho informático, além do optimismo sobre o futuro, o acesso à informação livre e a liberdade de expressão. Na sua intervenção alertou para o que pode correr mal, através da manipulação, fake news, verdades alternativas, roubo de identidades, etc. “Mas porque falar disto agora?”, disse Berners-Lee. “Porque estamos na fase em que mais de metade do mundo está online.”, respondeu. Outro dos temas foi a divisão entre aqueles que estão “ligados” e os que não têm acesso à internet. “Cada vez que aumentamos a capacidade de navegação e acesso à informação, aumentamos a diferença entre as partes”.
Para combater isto, Tim Berners-Lee quer, através da Web Foundation, um contrato para a Web. Um conjunto de valores a serem seguidos por governos, empresas e indivíduos. Assim, os governos devem “proteger as infraestruturas que possibilitam a continuidade da liberdade de acesso e independência da web, as empresas devem desenvolver mecanismos que protejam quem utiliza a internet, evitando abusos e discurso de ódio, ao mesmo tempo que contribuem para um acesso fácil e barato. Quanto aos utilizadores devem ter um comportamento que permita, além de uma melhor experiência para todos, também a responsabilização das outras partes do contrato, ou seja, governos e empresas. No entanto, o contrato também pretende diminuir os perigos da navegação na internet, no que respeita à privacidade, dados pessoais e segurança global.
Este “contrato” pode ser consultado em www.webfoundation.org/fortheweb e o governo francês tornou-se, recentemente, o primeiro a assinar a declaração de princípios desta iniciativa.
Guterres alerta para as mudanças no futuro do emprego global
Presente também o Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, que começou por falar na alteração do paradigma tecnológico, que possibilita o desenvolvimento da própria ONU em várias frentes. O impacto social da revolução digital vai mostrar uma mudança nos empregos criados e nos empregos destruídos, sendo ainda impossível determinar quais vão acabar e quais vão ser iniciados. “Estamos preparados para essa mudança?” perguntou Guterres. “Não sabemos, mas muitos serão deixados para trás e esta é uma área de grande preocupação, para a qual ainda não temos soluções.”
“A Internet deu voz a muitos que não a tinham, mas também é usada para espalhar discurso de ódio, do populismo, polarização da sociedade, roubo de identidades. Não é a internet a responsável por estes fenómenos, mas temos de criar mecanismos que impeçam a manipulação de eleições, de notícias e das pessoas.”, continuou o Secretário-Geral da ONU.
Outra preocupação para Guterres é a transformação da tecnologia em arma, dando à inteligência artificial a capacidade de matar. “Armas com inteligência artificial, que são capazes de escolher o alvo, devem ser banidas pela Lei Internacional.”, defende.
“Temos de garantir que a tecnologia, a inteligência artificial, gera forças para o bem”, terminou Guterres.
António Costa lembra passado português
O Primeiro-Ministro português, António Costa, lembrou a importância de Portugal como responsável pela primeira globalização. Um país “aberto a todos há 600 anos”, fazendo a analogia entre o que os navegadores portugueses descobriram com o desenvolvimento tecnológico actual, que potencia eventos como o WebSummit. “Portugal é o melhor ponto de encontro para criarmos o nosso futuro juntos”, disse Costa. No final, desafiou as empresas startup portuguesas para conseguirem, durante este evento, criar parcerias para o seu crescimento.
Já Paddy Cosgrove, o responsável pela organização da WebSummit, que se realiza em Portugal há três anos, congratulou-se com o acordo com o município de Lisboa e o governo, que possibilita a continuidade do evento na capital portuguesa durante os próximos 10 anos. Claro que não foi esquecida a importância do evento na criação e desenvolvimento de ideias e projecção de negócios a nível internacional. Afinal, são mais de 70 mil participantes, três mil engenheiros e técnicos, centenas de voluntários e membros do staff.
Ao longo do evento serão mais de mil engenheiros, empreendedores, políticos e responsáveis de várias áreas, que se dirigirão a múltiplas plateias.