Primeiro cometa interestelar identificado guarda o material mais antigo conhecido

PorExpresso das Ilhas,12 abr 2021 6:41

O Borisov pode ser um vestígio intacto de 4,5 bilhões de anos atrás, apontam dois estudos

No Verão de 2019, um objecto desconhecido procedente de uma estrela não identificada chegou ao nosso Sistema Solar. Era o primeiro cometa interestelar observado até o momento. Ninguém sabia do que era feito ou quanto tempo havia viajado pelo espaço até passar como um raio pelo céu terrestre. Gennady Borisov, um astrónomo amador da Ucrânia, foi o primeiro a observá-lo.

Até então, relata o El Pais, apenas um objecto vindo de outro sistema solar era conhecido: o asteroide Oumuamua, cuja forma de míssil estilizado alimentou especulações de que se tratava de uma nave espacial.

Estes objectos raros são apaixonantes, pois são como uma cápsula do tempo com informações de outras estrelas inalcançáveis para as naves humanas e, possivelmente, dos planetas que existem ao redor delas. Nosso Sol e os planetas que o rodeiam, incluindo a Terra, viajam pela Via Láctea a 220 quilómetros por segundo, o suficiente para ir de Madrid à Cidade do México em 45 segundos.

O novo visitante pode ficar preso no seu novo lar para sempre ou atravessá-lo e sair de novo para o espaço interestelar. É o que pensam os astrónomos que estudaram o Oumuamua e o cometa descoberto em 2019, baptizado de 2I/Borisov em homenagem ao seu descobridor.

Na semana passada, duas equipas de astrónomos apresentaram os resultados das observações do Borisov realizadas com dois dos telescópios mais potentes da Terra. O primeiro trabalho tenta entender quando o cometa se formou e quão degradado está depois da sua longa viagem pelo espaço. Os astrónomos observaram o Borisov com o Telescópio Muy Grande, um observatório óptico no deserto do Atacama, no Chile. Compararam as observações com as de outros cometas conhecidos. O único que se parece com ele é o Hale-Bopp, descoberto em 1995 e que era tão brilhante que pôde ser visto a olho nu no céu noturno durante 18 meses seguidos. As observações mostraram que o Hale-Bopp era um objecto bastante antigo, ou seja, conservava praticamente intacto o material original com o qual foi formado.

Os resultados do estudo actual, publicados na passada quarta-feira na Nature Communications, apontam que o Borisov está ainda mais intacto.

De facto, os responsáveis pelo trabalho acreditam que é o cometa mais puro que já foi observado. Puro significa antigo, então é possível que sua matéria-prima seja poeira e gás muito semelhante ao que existia ao redor do Sol pouco depois do seu nascimento, antes mesmo de os planetas existirem, há cerca de 4,5 bilhões de anos.

Neste momento o Borisov está a 10 unidades astronómicas da Terra, ou seja, cerca de 1,4 bilhão de quilómetros, explica Luisa Lara, pesquisadora do Instituto de Astrofísica da Andaluzia. “Continuará a se afastar de nós e, eventualmente, deixará o sistema solar em cerca de 15.000 anos”, afirma.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1010 de 7 de Abril de 2021. 

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Autoria:Expresso das Ilhas,12 abr 2021 6:41

Editado porAndre Amaral  em  16 jan 2022 23:21

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