2021: Ciência, não podemos viver sem ela

PorNuno Andrade Ferreira,2 jan 2022 10:09

Da inteligência artificial no centro de uma descoberta revolucionária, ao sucesso do uso de uma bactéria no combate à dengue. Da vacina contra a malária, ao reconhecimento da importância das ciências sociais na resolução de problemas reais. A ciência em 2021 pelo olhar de quem a faz.

“Ano especial”. É desta forma que Jailson Brito Querido avalia os últimos doze meses no campo científico. O investigador do Laboratório de Biologia Molecular, da Universidade de Cambridge, escolhe como particularmente relevante o feito da DeepMind, empresa do universo Google, que conseguiu utilizar inteligência artificial para prever com precisão a estrutura tridimensional de uma proteína (artigo publicado na Nature, em Julho).

“Esta descoberta irá revolucionar a Biologia Molecular e a Medicina”, acredita.

“As proteínas são a base da nossa existência. A estrutura tridimensional é um dos principais factores que determina a função de cada proteína. Por isso, os cientistas têm que determinar a estrutura de cada proteína para compreender a sua função e desenhar novas moléculas que poderão ser utilizadas no tratamento de doenças”, comenta.

A DeepMind irá, brevemente, utilizar a inteligência artificial para prever a estrutura tridimensional de todas as proteínas presentes no corpo humano, bem como de várias bactérias, vírus e parasitas que nos afectam.

Jailson Brito Querido confia que a descoberta permitirá acelerar tratamentos para muitas doenças que permanecem intratáveis, poupando décadas de trabalho e pesquisa.

O método científico

Elves Heleno Duarte partilha do entusiasmo em relação à importância da ciência ao longo do ano que agora termina. O biólogo e cientista de dados, investigador convidado do Departamento de Genética da Universidade de Cambridge, denota a presença constante da ciência no espaço público.

“O método científico, pelo menos em parte, foi usado não só por cientistas, mas também por cidadãos interessados em compreender e acompanhar a evolução da pandemia causada pelo SARS-CoV-2, a eficácia das vacinas e criticar decisões políticas”, relembra.

Especialista em controlo vectorial com recurso a wolbachia (um tipo de bactéria), Elves Duarte assinala a importância do estudo, publicado em Junho, que confirmou a eficácia do Método Wolbachia no controlo da dengue.

Conforme artigo do The New England Journal of Medicine, após pesquisa coordenada por Adi Utarini, da Universidade de Gadjah Mada, os casos de dengue em Yogyakarta, Indonésia, caíram 77% nas áreas que receberam mosquitos aedes aegypti com wolbachia.

Novos medicamentos

Docente da Universidade do Mindelo e doutorada em Engenharia Biomédica, Vânia Teófilo também realça as descobertas “importantíssimas” na área da saúde, tanto na luta contra doenças infecto-contagiosas, como no combate a doenças degenerativas.

No ano da universalização das vacinas contra a covid-19, a professora universitária recorda que o sucesso das investigações que permitiram o desenvolvimento e produção, em tempo recorde, de imunizantes “demonstra que são possíveis grandes conquistas quando se aposta na área da saúde”.

No mesmo campo, Vânia Teófilo chama à linha da frente do progresso científico em 2021 a aprovação da primeira vacina contra a malária, já recomendada pela Organização Mundial de Saúde. “[A vacina] traz uma nova esperança na luta contra uma das doenças contagiosas com maior mortalidade no mundo”, concretiza.

O Aduhelm (marca comercial do aducanumab-avwa), aprovado pela agência reguladora norte-americana para tratamento da doença de Alzheimer, e novos medicamentos para a hepatite C, ébola, esclerose múltipla, progeria (síndrome de Huntchinson-Gilford) e doenças hemofílicas são outros avanços assinalados pela especialista.

Problemas reais, soluções reais

Do Brasil, onde é director da Faculdade de Turismo e Hotelaria da Universidade Federal Fluminense, João Evangelista Monteiro olha para o ano que passou para confirmar que, perante a ameaça representada pela covid-19, a resposta da ciência “foi a mais rápida e eficiente da história da humanidade”.

Fora do campo da saúde, Evangelista aponta os avanços científicos que permitiram a abertura de oportunidades tecnológicas no metaverso, “que procura aproximar o mundo virtual do mundo real” e que “pode ser apontado como um dos destaques, principalmente, pelas suas implicações nas diversas áreas de conhecimento”.

No campo das ciências sociais, o professor de Economia do Turismo coloca em primeiro plano a atribuição do Nobel da Economia aos economistas David Card, Joshua D. Angrist e Guido W. Imbens, pelas investigações sobre mercado de trabalho e inovações introduzidas na metodologia das relações causais, feitas a partir de situações da vida real.

“No mundo da pós-modernidade, onde os problemas sociais e económicos se multiplicam, principalmente no pós-covid-19, o desenvolvimento de pesquisas direccionadas para o entendimento e resolução de problemas reais é fundamental para o progresso da Humanidade”, julga.

João Evangelista Monteiro não deixa de lamentar algumas tentativas de politização da ciência, mas acredita que em 2021 ficou claro que o conhecimento científico é “o melhor guia para as decisões que visam o progresso e o bem-estar socioeconómico dos países e do mundo”. 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1048 de 29 de Dezembro de 2021. 

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Autoria:Nuno Andrade Ferreira,2 jan 2022 10:09

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  2 jan 2022 10:09

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