"Com estas carências que temos, precisamos de que as coisas funcionem para que se consiga dar respostas. As nossas necessidades são muito imediatas e muito básicas, acesso à saúde, acesso à alimentação, acesso à escola e tudo isto está colocado em causa porque há uma situação política que capturou as instituições do Estado e a população não consegue usufruir de nada e está refém de uma situação de crise política, com a agravante de que ninguém consegue vislumbrar no horizonte uma solução", afirmou o analista político.
Para Dautarin da Costa, a "má vontade e má-fé" para ultrapassar o impasse "agudiza mais a situação, porque impõe uma situação de carência e de falta de tudo, como também impõe a sensação de que não existe solução o que pode contribuir para uma solução explosiva".
"Não podemos deixar-nos iludir com este silêncio. Parece que ninguém está a sofrer ou a passar fome, porque este povo habituou-se a viver sem Estado, mas este povo não se habituou a viver neste estado de ausência total de tudo e, por isso, é preciso ter alguma cautela, porque nem tudo vale a disputa política", sublinhou.
A Guiné-Bissau vive uma crise política há mais de dois anos e os líderes políticos do país não têm conseguido chegar a consenso para a ultrapassar. No final de Janeiro, o Presidente guineense, José Mário Vaz, nomeou o sexto primeiro-ministro desde as eleições legislativas de 2014.
Lembrando que a Guiné-Bissau é um dos países mais pobre do mundo e que 80% das pessoas que trabalham não conseguem deixar de ser pobres, Dautarin da Costa disse que o país vive numa "situação de asfixia" e que caso a crise política não seja ultrapassada a situação social pode tornar-se "muito complicada".
"O que está aqui em causa é claramente o país continuar enquanto país, este povo continuar enquanto povo, porque estas situações podem criar realmente uma situação complicada e explosiva" disse.
Questionado sobre os encontros que o Presidente da Guiné-Bissau, José Mário Vaz, vai realizar hoje para tentar encontrar uma solução para o novo Governo, Dautarin da Costa sublinhou que o chefe de Estado tem instrumentos legais e políticos para resolver a crise se estivesse "realmente interessado em resolver".
"Há aqui duas questões claras. Se o Presidente da República entende que o Acordo de Conacri é um acordo que conflito na vida política guineense ou que impõem uma dinâmica com a qual ele não concorda, tem a opção da Constituição da República, que lhe dá saídas. A Constituição da República para esta situação mostra claramente caminhos para resolver a crise", salientou.
O Acordo de Conacri é um instrumento político, patrocinado pela Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental, assinado em Outubro de 2016 pelos cinco partidos com assento parlamentar, líder do parlamento e grupo de 15 deputados expulsos do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), para acabar com a crise política no país.
Para Dautarin da Costa, "não há condições para a formação de um novo Governo".
"Também importa que sejamos claros e que nas actuais circunstâncias não há condições para termos eleições realmente livres, justas e transparentes, porque só conseguimos ter eleições livres, justas e transparentes quando o Estado se constitui verdadeiramente enquanto entidade de boa-fé e pessoa colectiva de bem. O que não é o caso", disse.
O analista denunciou que o Estado está capturado por um "grupo de interesse" e que é importante que "Presidente da República assuma de uma vez por todas o seu papel de árbitro e assuma o seu poder e responsabilidades que o povo delegou nele para que de facto retire a Guiné-Bissau desta situação".