"A Organização de Libertação da Palestina [OLP] não tomou qualquer medida para permitir o início das negociações directas e significativas com Israel", declarou em comunicado a porta-voz do departamento de Estado norte-americano, Heather Nauert, assegurando que Washington permitiu que os palestinianos mantivessem até agora a sua missão diplomática na capital federal apenas no caso de se empenharem num esforço de paz.
"Pelo contrário", argumenta o departamento de Estado, "os dirigentes da OLP condenaram o plano de paz americano sem mesmo o terem visto e recusaram falar com o Governo americano sobre os seus esforços de paz". Em consequência, "a administração decidiu que o gabinete da OLP em Washington vai encerrar de momento", anunciou Nauert, confirmando uma decisão que já tinha sido divulgada pelos dirigentes palestinianos.
O encerramento desta missão, que funcionava como embaixada da Autoridade palestiniana nos Estados Unidos, é juridicamente justificada pelas iniciativas palestinianas destinadas a indiciar os dirigentes israelitas no Tribunal Penal Internacional (TPI) por "crimes de guerra".
Esta decisão associa-se, no entanto, a um conjunto de medidas já adoptadas desde há algumas semanas pela administração Trump: anulação de mais de 200 milhões de dólares (173 milhões de euros) de ajuda bilateral, fim do financiamento da agência da ONU que fornece apoio aos milhões de refugiados palestinianos (UNWRA), supressão de 25 milhões de dólares (21,5 milhões de euros) de ajuda aos hospitais palestinianos da Jerusalém leste.
Os palestinianos "não sucumbem perante as ameaças americanas" e não vão ceder na sua atitude face à administração Trump, nem aos seus esforços para que sejam "julgados os crimes" cometidos pelos dirigentes israelitas, afirmou em comunicado o número dois da OLP, Saëb Erakat.
O representante palestiniano em Washington, Hossam Zomlot, considerou esta manhã que a medida anunciada denuncia uma "perigosa escalada".
A administração Trump "concretiza a lista das medidas que lhe submeteu" o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu, acusou ainda Zomlot em declarações aos media em Ramallah. "A lista inclui Jerusalém, a questão dos refugiados, o direito ao regresso" destes refugiados, "os colonatos, Gaza, e a partilha de Gaza e da Cisjordânia", disse.
O presidente palestiniano Mahmud Abbas congelou todas as relações com a administração Trump após esta ter reconhecido, em Dezembro, Jerusalém como capital de Israel.
Os palestinianos encaram esta ruptura norte-americana com décadas de consenso internacional como a negação das suas reivindicações sobre Jerusalém leste, anexada e ocupada por Israel, e que pretendem a capital de um eventual e futuro Estado palestiniano. Criticam ainda a posição marcadamente "pró-israelita" de Trump.
Os palestinianos submeteram ao TPI, após a sua adesão em 2015, diversos 'dossiers' sobre os crimes cometidos que dizem ter sido cometidos pelos líderes israelitas, em particular durante a guerra de Gaza em 2014, ou relacionados com a colonização, caso das transferências forçadas de populações.
Primeiro tribunal internacional permanente responsável por julgar crimes de guerra, crimes contra a humanidade e genocídio, o TPI examina desde Janeiro de 2015 a eventualidade de iniciar inquéritos sobre as ações israelitas, mas também palestinianas, em conflito desde há décadas.