"África não necessita de caridade, precisa de uma verdadeira parceria equilibrada, e nós, europeus, também precisamos dessa parceria. Ao preparar este discurso, falei com os meus amigos africanos, designadamente com o presidente da União Africana, Paul Kagame, e concordamos que os nossos compromissos devem ser recíprocos. Nós queremos construir uma nova parceria com África", declarou Jean-Claude Juncker, perante o Parlamento Europeu.
Segundo o presidente da Comissão, a relação da Europa com África não pode ser encarada numa perspectiva apenas de ajuda ao desenvolvimento, pois "uma tal abordagem seria insuficiente e até humilhante para África", pelo que é altura de desenvolver uma parceria entre iguais.
Juncker apontou que se trata de uma aliança centrada nos investimentos e empregos sustentáveis e, tal como a concebe, permitiria criar "até 10 milhões de empregos em África ao longo dos próximos cinco anos".
A ideia passa por "criar um quadro que permita atrair investimento privado em África" e, nessa matéria, sublinhou, não se parte do zero, já que o fundo de investimento externo da União Europeia, lançado em 2016, "mobilizará mais de 44 mil milhões de euros de investimentos nos sectores público e privado em África".
"Concentraremos os nossos investimentos nos domínios onde os investimentos fazem efectivamente uma verdadeira diferença. Daqui até 2020 a UE terá apoiado 35 mil estudantes e investigadores africanos graças ao nosso programa Erasmus. Até 2027, o número ascenderá a 105 mil", disse.
A outra vertente central da nova aliança será o comércio, com Juncker a apontar que 36% do comércio de África já se faz com a Europa, mas as trocas comerciais entre os dois continentes são insuficientes.
"Estou convencido de que devemos transformar os numerosos acordos comerciais existentes entre a UE e África num acordo de comércio livre entre os dois continentes, uma parceria económica de igual para igual", declarou.
A proposta hoje apresentada por Juncker, e detalhada pela Comissão Europeia, prevê uma série de acções essenciais para reforçar a parceria África e UE, a começar por "estimular o investimento estratégico e reforçar o papel do setor privado, nomeadamente através de uma maior redução dos riscos ligados aos projectos de investimento através de uma combinação de subvenções e empréstimos e de garantias".
Bruxelas quer também "investir nas pessoas através do investimento na educação e na aquisição de competências, a nível continental e nacional, a fim de reforçar a empregabilidade e a correspondência entre as competências e os empregos, nomeadamente
A proposta visa também "melhorar o ambiente empresarial e o clima de investimento, nomeadamente reforçando o diálogo com os parceiros africanos e apoiando as suas reformas neste domínio" e "mobilizar um importante pacote de recursos financeiros, como o demonstra em especial a proposta ambiciosa para o futuro quadro financeiro plurianual da UE em matéria de financiamento externo, na qual África é identificada como região prioritária.
A nível do comércio, é desejo da Comissão "explorar plenamente o potencial da integração económica e do comércio", apontando o executivo comunitário que, "com base na Zona Continental Africana de Comércio Livre, a perspectiva a longo prazo é alcançar um vasto acordo de comércio livre intercontinental entre a UE e a África".
"Nesta perspectiva, os acordos de parceria económica, os acordos de comércio livre, incluindo as zonas de comércio livre abrangentes e aprofundadas propostas aos países do Norte de África, bem como os outros regimes comerciais com a UE, devem ser explorados tanto quanto possível enquanto componentes essenciais para a Zona Continental Africana de Comércio Livre", defende a proposta hoje apresentada por Juncker aos eurodeputados.