O antigo director de comunicações do governo de Tony Blair considera ser importante mostrar que “centenas de milhar de pessoas de todo o país recusam as mentiras da campanha pela saída [da UE]”, que advoga a saída do Reino Unido da União Europeia (UE) a 29 de Março sem um acordo, e que, por isso, “terá de ser maior e melhor” do que o protesto realizado no ano passado.
Numa conferência de imprensa em Londres, Campbell disse ser necessário mostrar que a campanha pelo referendo “é forte”, mas vincou que uma nova consulta popular “não é uma opção, é uma solução possível” para desbloquear o processo do ‘Brexit’.
“Isto é um processo para ganhar o apoio de pessoas e deputados”, explicou.
A última grande manifestação organizada pela campanha ‘People’s Vote’ em Londres, em 20 de Outubro de 2018, mobilizou cerca de 700.000 pessoas, segundo as estimativas dos organizadores.
Pelo contrário, uma marcha organizada pela campanha Leave Means Leave através do Reino Unido iniciada no sábado e apadrinhada pelo eurodeputado do UKIP Nigel Farage tem mobilizado apenas algumas dezenas de pessoas, de acordo com a imprensa britânica.
‘People’s Vote’ [Voto Popular] é uma campanha independente apoiada por grupos pró-europeus de cidadãos, estudantes, profissionais de saúde e cientistas, como Open Britain, European Mouvement UK, Britain for Europe, Scientists for UE, NHS for a People’s Vote, Our Future Our Choice, For Our Future’s Sake, Wales for Europe e InFacts.
A campanha tem também o apoio político de partidos da oposição, nomeadamente do Partido Nacionalista Escocês (SNP), dos nacionalistas galeses do Plaid Cymru, dos Liberais Democratas e do partido Verde, e de deputados do partido Conservador e Trabalhista, bem como de personalidades como o futebolista Gary Lineker, o actor Steve Coogan e o músico Bob Geldof, entre outros.
O partido Trabalhista, o principal partido da oposição, cujo apoio é essencial para fazer passar no parlamento a legislação que permita a organização de um novo referendo, tem até agora recusado endossar oficialmente a campanha.
O líder parlamentar do SNP, Ian Blackford, revelou na terça-feira, após uma reunião com Jeremy Corbyn e os líderes dos restantes partidos da oposição, que o líder trabalhista recusou o convite para participar na manifestação.
A posição oficial do partido tem sido até agora a disponibilidade para uma consulta popular sobre um acordo aprovado pelo parlamento, mantendo como princípio o respeito pelo resultado do referendo de 2016 que ditou o ‘Brexit’.
“O ‘Labour’ tem de perceber que há um preço a pagar se facilitar o ‘Brexit’. Ninguém está ansioso por outro referendo. Mas, à medida que processo avança, é preciso perceber que a melhor forma de resolver o que se tornou numa crise política é dar a decisão de novo às pessoas”, comentou Campbell, que é membro activo do partido Trabalhista.
A deputada trabalhista Margaret Becket considera que só um novo referendo será capaz de “sarar as divisões profundas que o debate sobre ‘Brexit’ criou”.
A campanha quer que o novo referendo deve dar a escolher entre um acordo aprovado pelo parlamento e a opção de permanecer na UE e defende que o resultado seja vinculativo, ao contrário do referendo de 2016.
Uma sondagem divulgada hoje indica que o apoio a um novo referendo sobre o ‘Brexit’ aumentou após a rejeição no parlamento britânico pela segunda vez, a 12 de Janeiro, do Acordo de Saída negociado com Bruxelas pelo governo de Theresa May.
Segundo o Instituto YouGov, 56% dos eleitores são favoráveis a um novo referendo e 44% contra.
Por outro lado, a mesma sondagem indica que 52% dos eleitores britânicos são favoráveis a um adiamento do ‘Brexit’ e apenas 35% são contra a decisão do governo de pedir hoje um adiamento da data de saída para depois de 29 de Março.
O especialista em sondagens Peter Kellner, igualmente activista da campanha ‘People’s Vote’, admitiu hoje que a opinião pública está polarizada e que uma grande maioria discorda das propostas para um ‘Brexit’ suave que mantenha relações próximas com a UE.
“O Reino Unido tem uma reputação de pragmatismo e consenso, mas com o ‘Brexit’ não é assim. Não existe entre as pessoas qualquer apetite por compromisso”, constatou.