O primeiro relatório global da agência dedicado à educação pré-escolar destaca a falta de investimento pela maioria dos governos em todo o mundo neste ciclo de ensino. Para o UNICEF, esta realidade representa uma perda de oportunidade agravando as desigualdades desde o início da vida.
De acordo com a nova publicação, a situação é mais grave nos países de baixo rendimento, onde apenas uma em cada cinco crianças está matriculada no ensino pré-escolar. Em comunicado, a directora executiva do Fundo, Henrietta Fore, destaca que o ensino pré-escolar é a base educacional das crianças e que “cada etapa da educação que se segue depende do seu sucesso”. A representante adianta que “essa oportunidade é negada a muitas crianças”, aumentando o risco de abandono escolar.
O relatório revela também que as crianças que tenham frequentado, pelo menos, um ano da educação pré-escolar têm maior probabilidade de desenvolver as competências necessárias para terem sucesso escolar. Para além disso, estes menores de idade são menos propensos a perder o ano ou a abandonar a escola e, portanto, mais capazes de contribuir para sociedades e economias pacíficas e prósperas, quando atingirem a idade adulta.
Ainda segundo as conclusões do relatório, o nível de rendimento familiar, o nível de educação dos pais e a localização geográfica estão entre os principais factores para o acesso ao ensino pré-escolar. No entanto, segundo o UNICEF, a pobreza é o factor determinante.
Em relação à pobreza, o relatório demonstra que em 64 países as crianças mais pobres têm sete vezes menos probabilidades do que as crianças das famílias mais ricas de participar em programas de educação na primeira infância.
No entanto, estas são as crianças para as quais a educação pré-escolar pode ter grandes benefícios. A educação pré-escolar ajuda as crianças pequenas afectadas por crises a superar traumas vivenciados, dando-lhes uma estrutura, um lugar seguro para aprender e brincar e uma forma de expressar as suas emoções.
O nível de instrução dos pais também influencia em todos os países com dados disponíveis, crianças nascidas de mães que concluíram o ensino médio ou mais têm quase cinco vezes mais probabilidade de frequentar um programa de educação na primeira infância do que crianças cujas mães concluíram apenas o ensino de base ou não têm qualquer educação formal. Em alguns países, a divisão entre ricos e pobres é ainda mais significativa. Por exemplo, as crianças dos agregados familiares mais ricos da República da Macedónia do Norte têm 50 vezes mais probabilidade de frequentar a educação pré-escolar do que as dos agregados mais pobres.
Os conflitos também são um factor preponderante. Mais de dois terços das crianças em idade pré-escolar que vivem em 33 países afectados por conflitos ou desastres não estão matriculados em programas de educação na primeira infância.
Em 2017, uma média de 6,6% dos orçamentos nacionais para a educação eram globalmente dedicados à educação pré-escolar, com quase 40% dos países, com dados, alocando menos de 2% dos seus orçamentos para esse subsector. Para o UNICEF, esta falta de investimento mundial na educação pré-primária afecta negativamente a qualidade dos serviços. Por isso, Fiore alerta que “se os governos de hoje querem que a sua força de trabalho seja competitiva na economia de amanhã, precisam de começar com a educação desde cedo."
O Fundo apela aos governos que garantam o acesso universal a pelo menos um ano de educação pré-primária de qualidade e a transformem numa parte habitual da educação de todas as crianças, especialmente das mais vulneráveis e excluídas. Para tal, o UNICEF estima que será necessário que os governos comprometam pelo menos 10% dos seus orçamentos nacionais de educação para a primeira infância.