Francisco Ribeiro Telles, que falava aos jornalistas à saída de uma audiência com o Presidente angolano, João Lourenço, sublinhou que o assunto na conversa, mas não adiantou pormenores, nem comentou as questões de fundo relacionadas, por exemplo, com a abolição da pena de morte, ainda em vigor na Guiné Equatorial.
A questão da Guiné Equatorial "também foi um dos assuntos abordados na conversa, no sentido de que o informei [João Lourenço] de que irá, muito em breve, a 08 de maio, uma missão técnica do secretariado executivo da CPLP e dos outros Estados membros da CPLP a Malabo", afirmou o diplomata português.
A missão "vai fazer um levantamento e falar com as autoridades da Guiné Equatorial em relação àquelas matérias que fazem parte do roteiro que foi estabelecido quando o país se tornou membro de pleno direito da CPLP, em 2014. É uma missão de boa vontade, uma missão técnica, para fazermos um levantamento sobre os progressos que a Guiné Equatorial tem feito em vários domínios", acrescentou.
Quando aderiu à CPLP, a Guiné Equatorial comprometeu-se com um roteiro de integração que previa estruturas de ensino do português e o fim da pena de morte.
Ribeiro Telles, que chegou segunda-feira a Luanda para uma visita de trabalho de dois dias a Angola, onde já foi embaixador de Portugal (2007/12), destacou a prioridade da Presidência de Cabo Verde num dos objectivos da organização lusófona, a mobilidade, realçando que as autoridades angolanas, que substituirão as cabo-verdianas em Julho de 2020 à frente da organização, querem priorizar as relações económicas e comerciais.
"Tal como existe a mobilidade, também é importante que possamos debater outro tipo de questões e, sobretudo, aquilo que temos sentido cada vez mais na sociedade civil, que é a necessidade de a CPLP se envolver cada vez mais nas questões económicas e comerciais. Nesse sentido, Angola está muito sensível a essa matéria", referiu o secretário-executivo da organização.
Segundo Ribeiro Telles, sabendo-se de antemão que a mobilidade irá dar frutos a curto prazo, a CPLP tem funcionado "muito bem" a nível da concertação político-diplomática, com altos dirigentes da CPLP a serem eleitos para cargos internacionais", e "bem" a nível da promoção e difusão da língua portuguesa no mundo, faz sentido que a prioridade angolana passe pelo reforço das relações económicas.
"Há uma matéria que Angola está bastante sensível, que é haver uma maior intervenção económica e empresarial dentro da CPLP e da possibilidade de também se desenvolver esse sector", afirmou.
"Espero que, já durante a Presidência cabo-verdiana, mas também na próxima Presidência angolana, poderemos dar passos igualmente significativos em aproximar as comunidades empresariais da CPLP da própria CPLP", acrescentou Ribeiro Telles.
Sobre a língua portuguesa no mundo, Ribeiro Telles destacou que o idioma de Camões é o mais falado no hemisfério sul e que é a quinta no mundo, realçando que as perspectivas de desenvolvimento "são muito significativas", sobretudo em Angola e Moçambique, com a questão demográfica (cada um dos dois países têm uma população estimada entre os 27 e 30 milhões de habitantes).
Sobre a visita de cortesia a João Lourenço, o secretário-executivo da CPLP disse ter sido passado em revista os pontos mais importantes da agenda da comunidade, bem como da próxima Presidência angolana.
"Foi uma conversa muito franca, muito positiva, em que abordamos os temas constantes da agenda da CPLP, nomeadamente a questão da mobilidade, que é uma prioridade da Presidência de Cabo Verde e que ambos esperamos que tenha resultados concretos a curto prazo. Vamos ver. A expectativa é essa", afirmou.
Ribeiro Telles, cujo último ato oficial da visita foi justamente o encontro com João Lourenço, deixando Luanda hoje à noite, depois de se ter reunido com o ministro das Relações Exteriores angolano, Manuel Augusto, e com diplomatas lusófonos acreditados em Angola.
A CPLP integra nove Estados membros: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.