O relatório difundido pelo Governo chinês afirmou que “enquanto mais se concede ao Governo dos EUA, mais este exige” e garantiu que a China não recuará em “questões de princípio”.
O documento assegurou que Pequim manteve a sua palavra, durante as onze rondas de negociações, e honrará os seus compromissos, se um acordo for alcançado. E acusou os EUA de retrocederem três vezes ao longo das conversações, introduzindo taxas alfandegárias adicionais sobre produtos chineses.
Os negociadores norte-americanos “recorreram à intimidação e coerção”, lê-se no documento.
“A soberania e a dignidade de um país devem ser respeitadas, e qualquer acordo alcançado pelos dois lados deve basear-se na igualdade e no benefício mútuo”, acrescentou.
Os governos das duas maiores economias do mundo impuseram já taxas alfandegárias sobre centenas de milhares de milhões de dólares sobre bens importados.
Em causa estão os planos de Pequim para o sector tecnológico, que visam transformar as firmas estatais do país em importantes actores globais em sectores de alto valor agregado, como inteligência artificial, energia renovável, robótica e carros eléctricos.
Os EUA consideram que aquele plano, impulsionado pelo Estado chinês, viola os compromissos daquele país em abrir o seu mercado, nomeadamente ao forçar empresas estrangeiras a transferirem tecnologia e ao atribuir subsídios às empresas domésticas, enquanto as protege da competição externa.
Washington impôs já taxas alfandegárias de 25% sobre 250 mil milhões de dólares de bens importados da China e ameaça taxar mais 300 mil milhões.
O Presidente norte-americano colocou ainda a gigante chinesa das telecomunicações Huawei numa lista negra, que restringe as empresas dos EUA de fornecer ‘chips’, semicondutores, software e outros componentes, sem a aprovação do Governo.
Pequim retaliou com taxas adicionais sobre 60.000 milhões de dólares em bens produzidos nos EUA, que entraram em vigor este fim-de-semana.
O país asiático anunciou ainda, na sexta-feira passada, que estabeleceria a sua própria lista de “entidades não confiáveis”, que integraria empresas e particulares estrangeiros.
Wang Shouwen, vice-ministro chinês do Comércio, afirmou que a China divulgará, em breve, informações mais detalhadas sobre a lista de entidades não confiáveis, mas adiantou que visa empresas que “violavam princípios de mercado” ao reduzir o fornecimento de componentes para empresas chinesas por razões comerciais.
Wang também repetiu sugestões de que a China poderia restringir a exportação de minerais conhecidos como terras raras, que são amplamente usados em carros eléctricos e telemóveis, incluindo lítio, o principal componente das baterias modernas.
“Se alguns países usam os metais raros da China para produzir produtos que contêm o desenvolvimento da China, isso é inaceitável”, afirmou Wang.
O responsável considerou que a China foi forçada a “tomar medidas fortes em resposta” às acções norte-americanas e negou que o país tenha recuado nos seus compromissos anteriores.
Os EUA fizeram exigências inaceitáveis que violariam a soberania chinesa, defendeu.
“Se lhes deres um dedo, eles querem o braço”, acusou.