A mutilação genital feminina (MGF) "constitui um perigo e um ataque físico à integridade física das mulheres", disse o imã senegalês Abdou Aziz Kane à Agência France Presse à margem da conferência de três dias realizada em Dacar para discutir esta problemática também denominada circuncisão feminina e geralmente realizada em meninas com menos de sete anos de idade.
Os participantes no encontro concordaram que os líderes religiosos têm um papel central na eliminação tanto da mutilação genital quanto dos casamentos arranjados, práticas tradicionais que afetam milhões de crianças em África.
Conforme a AFP o convite aos líderes religiosos e tradicionais foi no sentido de "promover o diálogo dentro de suas comunidades para desafiar as ideias herdadas do passado, segundo as quais o casamento de crianças e a mutilação genital são práticas aceitáveis".
disse a declaração final do encontro organizado pelo Senegal, Gâmbia e a ONG Mãos Seguras para Meninas.
A conferência, que reuniu cerca de 500 membros de ONGs, associações de vítimas e funcionários do governo de uma dúzia de países, bem como instituições internacionais como o Banco Mundial, foi organizada pelo Senegal, Gâmbia e a ONG Mãos Seguras para Meninas, tendo produzido uma declaração final que ressalta ainda que "a religião ainda é um grande problema no terreno”.
“As pessoas acreditam que essas práticas são uma obrigação religiosa”, disse disse à AFP Lisa Camara, coordenadora da Gâmbia para as Mãos Seguras para Meninas, juntando que acredita que a cúpula realizada em Dacar “trará mudanças e fará com que nossa causa avance".
Em Novembro último, um relatório dava conta que ao longo das últimas três décadas as taxas de mutilação genital feminina entre meninas menores de 14 anos caíram acentuadamente na maioria das regiões de África.
A nivel mundial, mais de 3 milhões de meninas por ano enfrentam ameaça de mutilação genital sendo que mais de 200 milhões de mulheres hoje vivas lidam com o sofrimento provocado pela excisão genital.
O antigo ritual de cortar ou remover o clitóris de mulheres jovens tem sido criticado por defensores dos direitos humanos e das mulheres e pode levar a uma série de complicações físicas, psicológicas e sexuais.
E, no entanto, continua sendo difundida em partes da África e do Oriente Médio. É o caso da Somália onde relatório da UNICEF divulgado em 2016 dizia que 98% das mulheres e meninas desse país da África Oriental foram cortadas.
Ainda conforme a UNICEF, em África 39% das meninas se casam antes de completarem 18 anos.
Das recomendações saídas do encontro de Dacar também consta uma dirigida aos governos africanos no sentido de reforçarem a promoção da igualdade entre os sexos.