Uso de Opiáceos: O drama Americano

PorSara Almeida,7 jul 2019 2:51

“Na América do Norte, o uso não médico de opiáceos farmacêuticos continua a ser uma epidemia com um aumento histórico no número de mortes por overdose atribuídas principalmente ao uso de opioides sintéticos (principalmente fentanil ilicitamente fabricado)” - Relatório sobre as drogas 2019

Os EUA, principal consumidor mundial de opiáceos, enfrentam uma verdadeira vaga de dependência, estimando-se que, por semana, morram nos diferentes Estados cerca de 900 pessoas. O número de dependentes tem vindo a crescer e as previsões apontam que a tendência deverá continuar nos próximos anos.

Se as previsões se concretizarem, numa década mais de meio milhão de americanos morrerá devido a uso de opiáceos - tantos como os que morreram de HIV/Sida desde o início da epidemia em 1980.

A crise tomou tais proporções que é relativamente comum ver overdoses em locais públicos, como restaurantes ou parques. E são overdoses não só provocadas pela heroína (também opiáceo), como por analgésicos normalmente adquiridos por prescrição médica. Numa reportagem de 2017 sobre o fenómeno, a STAT, publicação especializada em ciência e medicamentos, recordava casos como o de uma mãe, que colapsou no corredor de brinquedos de uma loja “enquanto a sua filha gritava para ela acordar”. Ou o de uma avó que faleceu enquanto conduzia vagarosamente. O neto estava no banco traseiro.

A praga afecta todas as camadas demográficas, mas será mais comum entre a classe média baixa, os “americanos brancos, não hispânicos”. É em grande parte resultado a médio prazo de, entre outras coisas, informação errada fornecida pela indústria farmacêutica sobre o grau de dependência produzido pelos seus medicamentos, bem como da prescrição indiscriminada e alargada por parte dos médicos.

As estatísticas de dependentes mostram a escalada da epidemia: “Em 2012, apenas 241.000 pacientes tiveram diagnóstico de dependência de opióides. Em 2016, esse número era de 1,4 milhão.” Um número onde não estão incluídas pessoas com certo tipo de seguros de saúde como o Medicare, nem as que não têm qualquer seguro. Mais: este é um número que apenas diz respeito ao Estado do Ohio.

Vai demorar anos, acreditam os especialistas até que o governo federal consiga efectivamente impor mais regras na aplicação das drogas e levar os médicos a prescrever menos comprimidos opiáceos para as dores.

E a crise está a ter impactos a todos os níveis. Por exemplo, a esperança de vida nos EUA diminuiu, devido a essa taxa de mortalidade provocada pelos opiáceos (47 mil mortes ano).

Um fenómeno subsequente a esta dependência é ainda que muitas pessoas, incluindo aquelas que a priori poderiam ser consideradas como um grupo de baixo risco, acabam por consumir heroína – que é mais potente e tem vindo a ficar mais barata. A par deste desafio há uma nova ameaça que são os opiáceos sintéticos, mais fortes, relativamente fáceis de aceder e muito mais mortíferos. É aqui que entra o Fentanil (fentanyl em inglês).

Esta é uma dependência que, para além dos riscos que põe à saúde pública, está a afectar também a economia, refere o Council on Foreign Relations, num artigo publicado em Janeiro deste ano.

Os EUA encabeçam o topo dos países que mais opiáceos consomem. Seguem-se o Canadá e a Alemanha.

Texto originalmente publicado na edição impressa do expresso das ilhas nº 918 de 3 de Julho de 2019. 

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Autoria:Sara Almeida,7 jul 2019 2:51

Editado porSara Almeida  em  1 abr 2020 23:21

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