"Existe uma preocupação abrangente com a falta de estatísticas para monitorizar de maneira coerente se África está no caminho certo ou não. Sem dados sólidos, não podemos ter políticas sólidas. Se não se pode avaliar o estado actual, se não se pode dizer exactamente para onde se quer ir e se não pode monitorizar se está a ir correctamente, é muito difícil liderar políticas eficientes", afirmou à agência Lusa.
Esta foi uma das principais conclusões do "Relatório sobre a Governação Africana da Fundação Mo Ibrahim" lançado em Outubro com o objectivo de avaliar o progresso em termos da implementação dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS, Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas) e da Agenda África 2063, destacando algumas prioridades.
Por exemplo, na educação, o relatório encoraja os governos a alinhar melhor a educação com as necessidades do mercado de trabalho, apostando no envolvimento do sector privado para avaliar as necessidades em termos profissionais.
Na área da saúde, realçou a importância da disponibilidade, qualidade, acessibilidade, particularmente económica, e capacidade dos serviços de saúde, bem como a segurança alimentar.
Sobre a prosperidade e oportunidades económicas, o estudo incentiva os governos a promoverem economias diversificadas, a acelerar o progresso a nível de infraestruturas, nomeadamente dos transportes, electricidade e tecnologias de informação e comunicação.
A Fundação, que baseou este estudo nos dados do Índice Ibrahim de Governação Africana (IIAG), concluiu que "os institutos de estatísticas nos países africanos em geral sofrem de falta de recursos financeiros" e de apoio dos governos.
Segundo o relatório, quase metade das metas da Agenda 2063 - definida pela União Africana - não é directamente quantificável e menos de 20% não possui um indicador para medir progressos.
Mais de metade dos tipos de fontes de dados sobre os indicadores dos ODS em África correspondem a estimativas ou estudos internacionais e apenas um terço das fontes de dados são de fontes directas nacionais, refere.
Cabo Verde e São Tomé e Príncipe destacam-se por fazerem parte de um grupo de oito países africanos com sistemas operacionais de registo de natalidade e óbitos para mais de 90% da população.
"São dois países pequenos e, obviamente, indicam que, quanto maior o seu país, provavelmente mais difícil é ter um sistema de registo vital e sólido", admitiu a antiga inspectora geral das Finanças em França, em declarações por telefone à Lusa.
Porém, também salientou que os governos africanos precisam de "considerar e estarem cientes da importância dos dados" e que até agora "houve um empenho insuficiente para este sector importante".