“Mesmo diante da situação de emergência de saúde pública e o isolamento social imposto, o esquema criminoso não foi interrompido, tendo sido apreendidos, entre os meses de Março e Julho de 2020, mais de 1,5 toneladas de cocaína”, refere um comunicado sobre a operação emitido pela Polícia Federal brasileira.
O grupo criminoso estava dividido em subgrupos que actuavam de forma conjunta e individualmente no envio das drogas para o continente europeu, nomeadamente cocaína, e também era responsável por acções de branqueamento de capitais.
A acção das autoridades brasileiras designou-se de “Operação Além-Mar” porque os crimes investigados referiam-se ao embarque de drogas em navios a partir dos portos dos estados brasileiros do Rio Grande do Norte e de Pernambuco, que pela posição geográfica estão mais perto da Europa do que o restante do território brasileiro.
A operação realizada esta terça-feira mobilizou 630 agentes nos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Goiás, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal, Paraná, Santa Catarina, Pará e São Paulo.
De acordo com o balanço preliminar, foram apreendidos sete aviões, cinco helicópteros, 42 camiões, e 35 imóveis rurais e urbanos dos suspeitos de liderar a organização criminosa, além do bloqueio judicial de 100 milhões de reais (cerca de 15,2 milhões de euros) de contas bancárias dos investigados.
Ligação a Cabo Verde
A rede, conforme relata a Lusa era composta por quatro grupos, um dos quais com ligações a traficantes responsáveis pela comercialização da droga em Cabo Verde e na Europa.
No Recife, capital de Pernambuco e onde está a decorrer o processo judicial que culminou com a operação, as autoridades explicaram que a rede criminosa era formada por quatro grupos autónomos que actuavam em conexão para enviar a droga para a Europa.
O primeiro grupo criminoso foi instalado em São Paulo, a maior cidade do país, e encarregava-se da importação do produto estupefaciente a partir do Paraguai e o seu transporte aéreo para outras regiões do Brasil.
O segundo grupo criminoso tinha sede na cidade de Campinas, no estado de São Paulo, e em associação com o primeiro distribuía a cocaína no Brasil. Este subgrupo também estabeleceu ligações com traficantes responsáveis pela comercialização da droga em Cabo Verde e na Europa.
O terceiro grupo operava a partir da cidade do Recife e envolvia transportadoras de carga, que carregavam as drogas por via terrestre e respondiam pela logística de embarque nos portos, principalmente em Natal, capital do Rio Grande do Norte, onde ocorreu grande parte do envio da cocaína.
A quarta célula foi identificada no centro da cidade de São Paulo, no bairro do Braz, uma área com grande presença de imigrantes, que funcionava como uma espécie de "braço financeiro" da entidade, movimentando contas bancárias em nome de "fantasmas", para facilitar as operações de câmbio e de branqueamento de capitais, segundo as autoridades brasileiras.
Durante uma primeira fase das investigações, foram detidas 12 pessoas e apreendidas mais de 11 toneladas de cocaína, no Brasil e na Europa. Um dos presos estava foragido há 10 anos da justiça brasileira e era procurado pela Polícia Federal e pelas autoridades britânicas.
O suspeito não foi identificado, mas as autoridades brasileiras informaram que foi detido na cidade de Jundiaí, no estado de São Paulo, em Março de 2019.
As investigações começaram em 2018 a partir de informações entregues à Polícia Federal pela agência de combate ao crime do Reino Unido.