O anúncio foi feito pelo major-general Ovídeo de Jesus Delgado Ramírez, chefe da Região de Defesa Integral de Los Andes (REDI-Andes, sudoeste do país), durante uma conferência de imprensa em que insistiu que “não se trata de regressar à pré-história”, mas “de procurar uma solução”.
“Nas barragens há muitas árvores que são arrastadas pelas águas dos rios quando chega a época das chuvas porque a corrente é um pouco mais forte. Começámos a derrubar todas as árvores e vamos fazer uma campanha (…) para distribuir lenha para o povo”, disse.
Por outro lado, condenou o que diz ser uma mudança de mentalidade do venezuelano que agora compra alimentos a granel.
“Lembro-me que antes (no passado) saía de casa para fazer recados e comprava uma bolsinha de açúcar, de café e um quarto de quilograma de queijo (…). Mudaram a nossa mentalidade e se não compramos uma ‘paca’ [saco com vários quilogramas, por atacado] de farinha ou de arroz, as coisas estão mal”, disse.
Segundo Ovídeo de Jesus Delgado Ramírez “criaram a ansiedade” nos venezuelanos e esse “é o resultado da gestão manipulada dos recursos”, o que “é lamentável", defendendo que há que se adaptar.
A oposição venezuelana já reagiu ao anúncio do que diz ser a confirmação de que continuará a escassez de gás doméstico no país e acusou os militares venezuelanos de prepararem o caminho para o contrabando de lenha no país.
“Dizer que começaram a cortar lenha para suprir o gás doméstico é uma declaração miserável que evidencia a mediocridade dos supostos líderes das Forças Armadas, que o que fazem é montar negócios e esquemas”, disse aos jornalistas o deputado da oposição Lawrense Castro, representante de Mérida, um dos estados afectados pela escassez de gás.
Na Venezuela é cada vez mais frequente as queixas e protestos da população por dificuldades no acesso a gás butano para cozinhar, uma situação que sendo mais grave no interior do país afecta também vários bairros de Caracas.
Segundo a imprensa venezuelana em Agosto de 2020 o défice de botijas de gás era de aproximadamente 70%, apesar de a Venezuela contar com grandes reservas de petróleo e de gás.
Muitos venezuelanos têm tentado atenuar a situação recorrendo ao uso de pequenas cozinhas eléctricas, uma alternativa que nem sempre é viável devido aos apagões eléctricos no país.
Táchira, Lara, Falcón e Zúlia são alguns dos estados onde a falta de gás e os apagões ocorrem com mais frequência, obrigando a população a cozinhar com lenha, que muitas vezes obtêm das árvores e arbustos das ruas locais, o que tem motivado chamadas de atenção de activistas preocupados com a situação ambiental.
Em Caracas, segundo a imprensa local, estima-se que 35% dos residentes nos bairros de El Valle, Cátia, La Unión, Maca, José Felix Ribas e El Junquito, entre outros, têm de recorrer à lenha para cozinhar.
Na capital do país, a agravar a escassez está o alto preço do gás, perante os baixos salários, com a população a queixar-se de que o salário mínimo mensal é de aproximadamente um euro e que têm de pagar “até 10 dólares (8,3 euros) por uma botija”.