Enquanto os representantes e senadores discutiam a objeção levantada por um grupo de republicanos à contagem dos votos no Arizona, no início da sessão de ratificação dos resultados eleitorais, apoiantes do Presidente cessante, Donald Trump, entraram no Capitólio, obrigando à suspensão da sessão relata a Associated Press.
Membros da Câmara dos Representantes e do Senado foram evacuados depois dos manifestantes pró-Trump marcharem pelos corredores do Congresso, forçando ambas as câmaras a suspenderem as deliberações enquanto se reuniam para certificar a vitória do Presidente eleito Joe Biden nas eleições de 3 de Novembro.
Um dos manifestantes ocupou a tribuna do Senado e gritou: "Trump venceu essa eleição". Os manifestantes derrubaram as barricadas e entraram em confronto com a polícia quando milhares de pessoas desciam para os terrenos do Capitólio.
As cenas caóticas desenrolaram-se após Trump, que deverá deixar o cargo em 20 de Janeiro, se ter dirigido a milhares de manifestantes, repetindo falsas alegações de que a eleição lhe tinha sido roubada devido a fraude e irregularidades eleitorais generalizadas. Os legisladores tinham estado a debater um último esforço dos legisladores pró-Trump para contestar os resultados, um esforço que dificilmente seria bem sucedido.
Agentes Federais, no Capitólio, apontam armas ao invasores
A reacção de Joe Biden não se fez esperar. O presidente eleito considerou os protestos violentos contra o Capitólio dos EUA como um ataque a uma das coisas mais sagradas que existem nos EUA.
Biden, aponta a Associated Press, exigiu que o Presidente Donald Trump fizesse imediatamente um discurso televisivo apelando aos seus apoiantes para que cessassem a violência que descreveu como um "assalto sem precedentes".
“O que estamos a ver é um pequeno número de extremistas dedicados à ilegalidade. Isso não é dissidência. É desordem. É o caos. É quase sedição. E deve acabar agora”, reiterou Biden, acrescentando que o seu principal objectivo para os próximos quatro anos será “restaurar a democracia”.
Nancy Pelosi, líder do Congresso e cujo gabinete foi invadido pelos protestantes (ver foto principal) e Chuck Schumer, um dos principais Senadores do Partido Democrata, também já vieram a público apelar a Trump para que este exija aos seus apoiantes para abandonarem o Capitólio.
"Isto é o que conseguiram, rapazes", gritou o Senador Mitt Romney, Republicano eleito pelo estado de Utah, enquanto o caos se desenrolava na câmara do Senado, aparentemente dirigindo-se aos seus colegas que lideravam a acusação para validar as falsas alegações de Donald Trump sobre uma eleição roubada.
"Foi isto que o presidente provocou hoje, esta insurreição", disse o Romney furiosamente mais tarde.
Vários legisladores, incluindo republicanos, usam as suas contas na rede social Twitter para criticar a ação dos manifestantes, dizendo que não se vão deixar intimidar pela sua presença ou pelos seus apelos para que a contagem de votos do Colégio Eleitoral seja rejeitada.
Polícias detêm alguns dos invasores do Capitólio
Num vídeo postado na rede social Twitter o presidente cessante, Donald Trump, apelou aos manifestantes: "É hora de ir para casa. Nós precisamos de ter paz".
Mas, no mesmo vídeo, relata o New York Times, Trump repetiu a sua afirmação sem fundamento de que "a eleição foi roubada" e falou em termos simpáticos e afectuosos aos membros do grupo que invadiu o Capitólio dizendo: "Nós amamo-vos".
Um apelo que surge numa altura em que, segundo revela a Sky News, já foram mobilizados mais de 1100 membros da Guarda Nacional para a capital dos EUA e em que foi lançado um apelo para que a população civil residente em Washington DC permaneça em casa.
Segundo o Washington Post, uma pessoa foi baleada no interior do edifício. De acordo com uma testemunha, trata-se de uma mulher, que teve de ser atendida de emergência. O mesmo jornal anuciou, pouco tempo depois, que a mulher tinha acabado por morrer depois de ter sido alvejada no pescoço.
A mayor de Washington, Muriel Bowser, decretou um recolher obrigatório na cidade a partir das 18h locais (22h em Cabo Verde).
Condenação internacional
O acto de “insurreição” foi condenado internacionalmente, com apelos para que o resultado eleitoral seja respeitado. O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, falou em “cenas chocantes” em Washington, enquanto o presidente do Parlamento Europeu, David Sassoli, demonstrou a sua preocupação e disse esperar que os Estados Unidos “garantam que as regras da democracia sejam respeitadas”.
“Cenas vergonhosas no Congresso. Os Estados Unidos representam a democracia por todo o mundo e agora é vital que haja uma transição pacífica e ordeira de poder”, disse, por seu turno, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson.
"O que estamos agora a ver de Washington é um ataque completamente inaceitável à democracia nos Estados Unidos. O Presidente Trump é responsável por impedir isto. Imagens assustadoras, e espantoso que isto sejam os Estados Unidos", escreveu a primeira-ministra norueguesa Erna Solberg.
"Cenas chocantes e profundamente tristes em Washington DC - devemos chamar a isto o que é: um ataque deliberado à Democracia por um Presidente em exercício e seus apoiantes, tentando derrubar uma eleição livre e justa! O mundo está a assistir! Esperamos a restauração da calma", disse o Ministro irlandês dos Negócios Estrangeiros Simon Coveney.
E o Primeiro-Ministro holandês Mark Rutte dirigiu-se directamente ao Trump. "Imagens horríveis de Washington D.C. Caro Donald Trump, reconhece Joe Biden como o próximo presidente hoje".
Muitos, incluindo altos diplomatas e líderes na Islândia, França, Áustria, Colômbia e Escócia, entre outros, recordaram aos EUA o seu papel como modelo de democracia no mundo, e expressaram a sua descrença perante a violação do Capitólio dos EUA.
Ursula von der Leyen, Presidente da Comissão Europeia, também escreveu: "Acredito na força das instituições e da democracia dos EUA. A transição pacífica do poder está no centro. Joe Biden venceu as eleições". "Estou ansiosa por trabalhar com ele como o próximo Presidente dos EUA", acrescentou ela.
Alguns governos estrangeiros, incluindo a Turquia, também alertaram os cidadãos para terem cuidado com a possibilidade de mais violência. "Acreditamos que os EUA irão superar esta crise política interna com maturidade. Recomendamos aos nossos cidadãos nos EUA que se mantenham afastados de lugares com muita gente e de lugares onde se realizam espectáculos", disse o Ministério dos Negócios Estrangeiros turco numa declaração.