Às críticas de Joe Biden, o presidente eleito que deverá tomar posse no próximo dia 2, e de Nancy Pelosi, várias outras figuras democratas têm vindo a público criticar a tomada do capitólio, centro da democracia do país.
“Uma vergonha”, foi como lhe chamou o ex-Presidente dos Estados Unidos Barack Obama. O democrata, porém, salvaguardou que esses episódios de violência não eram “uma surpresa”, face à atitude de Donald Trump e de grande parte da “ala” republicana.
A transição pacífica do poder é um dos princípios basilares da democracia e, portanto, algo que é quase adquirido na América. Até agora.
Bill Clinton, outro democrata, ex-Presidente, também criticou este “ataque sem precedentes” contra as instituições do país, que considera ter sido “alimentado por mais de quatro anos de política envenenada”.
Críticas Republicanas
Também da parte dos republicanos, partido que suporta Trump, as críticas se têm feito ouvir.
George W. Bush, presidente dos Estados Unidos, mostrou-se chocado com os eventos, mas também “com o comportamento irresponsável" de alguns líderes políticos do seu partido.
"Os resultados das eleições são contestados apenas em repúblicas das bananas e não na nossa república democrática", afirmou, num comunicado citado pela agência AFP.
Uma crítica que vem na linha das acusações de outro peso pesado republicano, o Senador Mitt Romney, eleito pelo estado de Utah, que acusou os colegas que que apoiavam as alegações de eleição fraudulenta.
"Isto é o que conseguiram, rapazes", disse.
“O que aconteceu aqui hoje foi uma insurreição incitada pelo Presidente dos Estados Unidos”, acrescentou posteriormente ocandidato presidencial contra Barack Obama em 2012.
“Quando acabou, acabou. Joe Biden e Kamala Harris foram legalmente eleitos e tornar-se-ão Presidente e vice-presidente dos Estados Unidos”, disse também a senadora republicana Lindsay Graham, da Carolina do Sul, que ao longo do tempo – pelo menos até agora – tem sido grande apoiante do Presidente cessante.
Tiro pela culatra
“Os acontecimentos de hoje forçaram-me a reconsiderar. Já não posso, em boa consciência, opor-me”, afirmou a senadora republicana Kelly Loeffler, que perdeu a reeleição pelo Estado da Geórgia, também ela adepta de Trump, retirando a sua objecção.
A invasão vândala dos apoiantes de Trump, incentivada pelas alegações deste sobre uma – já comprovadamente falsa - fraude eleitoral, ocorreu na tarde de ontem, quando, no interior do Capitólio, as duas câmaras do Congresso se reuniam numa sessão conjunta para formalizar os votos do Colégio Eleitoral. A 14 de Dezembro, o Colégio, recorde-se, deu a vitória a Joe Biden e por 306 votos contra 232 para Donald Trump.
A sessão de ratificação dos votos das eleições presidenciais dos EUA teve de ser interrompida, pelos actos de violência dos quais aliás, resultaram quatro mortos.
Para esta sessão, esgotadas várias vias legais de contestação da vitória de Biden, estava prevista a apresentação de objecções formais por parte de dezenas de congressistas republicanos. Porém, depois de reposta a ordem, pela polícia, a sessão foi retomada e das objeções anunciadas, só duas avançaram: a anulação da vitória de Joe Biden no Arizona e na Pensilvânia. Ambas foram rejeitadas.
“O meu juízo ponderado diz que o meu juramento de apoiar e defender a Constituição me impede de reclamar autoridade unilateral para determinar que votos eleitorais devem ser contados ou não”, escreveu Mike Pence, que concorreu como vice-presidente (de Trump) nas eleições de 3 de Novembro e que liderou a sessão.
Os acontecimentos de ontem fazem temer o que poderá acontecer a 20 de Janeiro, aquando da tomada de posse do presidente eleito, Joe Biden.
Seja como for, sobre os eventos de ontem, quase todos os políticos americanos se mostram envergonhados. “Este templo à democracia foi profanado. Isto será uma nódoa no nosso país”, resumiu Chuck Schumer, líder da bancada democrata no Senado.