É um congresso 'online' em que tudo permanece em aberto, apesar de os 1.001 delegados parecerem preferir um caminho de continuidade, depois de Angela Merkel deixar a liderança do governo com um confortável primeiro lugar nas intenções de voto, com 36%.
As eleições legislativas estão marcadas para 26 de Setembro, mas o congresso da CDU, que dita a abertura do ano político na Alemanha, é um passo decisivo para o partido conservador.
Há três candidatos à liderança do partido, aos quais se somam dois interessados no lugar de chanceler, Jens Spahn, actual ministro da Saúde, e Markus Söder, primeiro-ministro da Baviera.
Nas eleições internas, Friedrich Merz, advogado e empresário de 65 anos, é apontado como o favorito do eleitorado da CDU, reunindo 29% das intenções de voto, mas não necessariamente dos delegados do partido.
Este milionário, é adversário político de Angela Merkel desde 1990, e que esteve na corrida para a presidência do partido conservador em 2018, perdendo por pouco para Annegret Kramp-Karrenbauer, liderou o grupo parlamentar da CDU até 2002 e é o candidato mais conservador desta eleição, defendendo uma viragem do partido à direita, reunindo também a maior aprovação entre os eleitores dos liberais do FDP e do partido de extrema-direita AfD.
"Considerando as posições políticas que defendem, Merz pode ser classificado como mais conservador do que os seus dois concorrentes", acredita o politólogo alemão Oscar Gabriel.
Em declarações à agência Lusa, Gabriel defende, contudo, que "a forma como se apresentaram nas aparições públicas não mostrou grandes diferenças programáticas no que se refere aos problemas que estão actualmente na agenda política alemã: a luta contra a pandemia de covid-19, incluindo os subsequentes problemas económicos e fiscais, as medidas no contexto das mudanças climáticas, a modernização da infraestrutura pública alemã e a definição do papel da Alemanha na política europeia e mundial".
Armin Laschet é, desde 2017, líder do governo regional da Renânia do Norte-Vestefália, o segundo maior e mais populoso estado federado alemão, anteriormente governado pelo Partido Social Democrata (SPD).
Antigo jornalista de rádio, membro da CDU desde os 18 anos, começou a trabalhar na política como assessor da ex-presidente do Bundestag (parlamento alemão), Rita Süssmuth, antes de se tornar o elemento mais jovem do conselho municipal de Aachen, em 1989.
Apoiante de Merkel e considerado um verdadeiro centrista, a avaliação da sua actuação durante a actual crise de saúde não lhe tem sido favorável. Entre os eleitores gerais consegue 18% dos votos nas sondagens, e 25% entre os eleitores da CDU.
"As diferenças mais importantes entre eles têm a ver com a sua experiência como líderes partidários e como ocupantes de cargos governamentais, por um lado, e com a sua imagem de continuidade das políticas de Angela Merkel", salientou o professor emérito da Universidade de Estugarda.
"Em ambos pontos, Laschet tem claramente vantagem. Ele ocupa o cargo de chefe de governo num dos estados mais importantes, teve sucesso numa importante eleição, é vice-presidente da CDU e, ao longo dos anos, tem sido um dos mais leais apoiantes das políticas de Merkel", avaliou.
Já Norbert Röttgen foi o primeiro a apresentar-se como candidato, depois da demissão de Annegret Kramp-Karrenbauer. É advogado, deputado e ex-ministro do Meio Ambiente, Conservação da Natureza e Segurança Nuclear no governo de Merkel de 2009 a 2012.
Foi afastado pela própria chanceler, depois de ter um dos piores resultados da história do partido nas votações para o governo regional da Renânia do Norte-Vestefália. Membro do Bundestag desde 1994, conseguiu refazer a sua imagem actuando como perito em política externa.
Apesar de ser possivelmente o candidato menos conhecido dos alemães, conseguiu aumentar a sua popularidade e tem, de acordo com as últimas sondagens, 22% dos votos entre os eleitores gerais, e 25% entre os eleitores da CDU.
"Röttgen ocupa um lugar entre Laschet e Merz em todos os aspetos, e uma posição equilibrada que lhe pode dar uma hipótese nesta corrida", assumiu o Oscar Gabriel.
Para o politólogo alemão, os três candidatos "têm pontos fortes e fracos", e vão precisar de tempo caso sejam eleitos para o lugar de chanceler.
O congresso da CDU está marcado para os dias 15 e 16 de Janeiro.