As alegadas irregularidades, rejeitadas pelos observadores internacionais presentes nas urnas, são a principal razão apresentada pelo exército para justificar o golpe militar de 01 de Fevereiro em Myanmar (antiga Birmânia).
"Verificámos que as eleições não foram justas nem livres, os resultados das eleições gerais de 08 de Novembro são anulados", disse o chefe da comissão eleitoral formada após o golpe, Thein Soe, citado hoje pelo diário pró-governamental The Global New Light of Myanmar.
O órgão eleitoral acusou também o partido Liga Nacional para a Democracia (NLD), liderado por Suu Kyi e no poder desde 2015, de abusar da posição para ganhar vantagem sobre outros partidos políticos.
"A NLD abusou do poder administrativo e das regras e regulamentos anti-covid-19 nas actividades eleitorais, incluindo a campanha de outros partidos e representantes da legislatura, com o objetivo de confiscar poderes estatais", disse o representante da Comissão Eleitoral.
A Rede Asiática para Eleições Livres (Asian Network for Free Elections, ANFREL), que enviou 24 observadores durante as eleições, afirmou no relatório final que os resultados nas urnas, onde foram expressos mais de 27,5 milhões de votos e que deram a vitória à NLD, "são uma ampla representação da vontade do povo birmanês" e sublinhou não ter encontrado provas de manipulação.
Soe tinha anteriormente apelado para a ilegalização e dissolução da NLD por alegadamente orquestrar fraudes eleitorais massivas. Pediu também que todos os líderes, incluindo Suu Kyi, fossem julgados por alta traição.
Após a tomada do poder, a junta militar liderada pelo general Min Aung Hlaing comprometeu-se a realizar eleições, sem fixar uma data possível.
Suu Kyi está detida desde o início do golpe e os militares lançaram vários julgamentos contra a líder com base numa variedade de acusações, incluindo corrupção, violação da Lei dos Segredos Oficiais e violação das regras anti-covid-19.
Quase seis meses após a revolta militar, a junta não conseguiu ganhar o controlo de todo o país, apesar da repressão dos dissidentes. Pelo menos 934 pessoas foram mortas na violência desencadeada pelas autoridades, de acordo com a Associação para a Assistência aos Presos Políticos.
A sangrenta resposta do regime não conseguiu deter o movimento de oposição popular massivo, cujos ataques indefinidos estão a colocar a junta em xeque. Alguns opositores pegaram em armas contra o exército e várias guerrilhas étnicas abriram frentes de batalha por todo o país.