“Há 20 anos, alguns investigadores levantaram a possibilidade de ocorrer um grande desmoronamento no flanco oeste do Cumbre Vieja e, em consequência, a geração de um megatsunami. Apesar desta hipótese ter sido rebatida e descartada posteriormente por inúmeros investigadores, surpreendentemente alguns meios de comunicação continuam a falar sobre este evento catastrófico”, explica Luis González de Vallejo, Director da Área de Riscos Geológicos.
Segundo o perito, que é também Catedrático Honorífico da Universidade Complutense de Madrid, essa hipótese implicava a existência de uma superfície de fraqueza geológica de grande extensão, continuidade e profundidade - que consiste numa camada basal formada por materiais de deslizamentos anteriores, o chamado mortalão - e a presença de uma fractura quase vertical, direcção Norte-Sul, com dezenas de quilómetros de comprimento e vários quilómetros de profundidade.
“A camada do mortalão foi verificada em inúmeras galerias, poços e sondagens. Sobre a grande fractura não foi possível constatar nem a sua continuidade nem a sua profundidade, pelo que as condições em que se baseia a teoria do deslize não passariam de uma simples hipótese”, refere González de Vallejo.
“Para que o flanco do Cumbre Vieja chegasse a reunir condições próximas da instabilidade, teriam que se dar, simultaneamente, um terremoto de magnitude excepcionalmente elevada e uma erupção vulcânica explosiva de grande dimensão, ou que o edifício vulcânico actual alcançasse um crescimento natural de mais mil metros do que a elevação actual. Para atingir esta altura, teriam que decorrer mais de 40.000 anos, tendo como referência a taxa média de crescimento da ilha no último milhão de anos. Além disso, a probabilidade de ocorrer uma erupção com um alto índice de explosividade e, ao mesmo tempo, um grande terremoto é extremamente remota, de acordo com o registo geológico desse tipo de eventos na ilha”, sublinha o Director da Área de Riscos Geológicos.
Em conclusão, reforça Luis González de Vallejo, “Cumbre Vieja está estável, mesmo sob os efeitos de erupção semelhantes às ocorridas nas últimas dezenas de milhares de anos”.
O vulcão, na ilha espanhola de La Palma, Canárias, entrou este domingo em erupção, depois de mais de uma semana em que foram registados milhares de sismos na região.