Os preços da energia vão aumentar a inflação em toda a Europa

PorExpresso das Ilhas,27 set 2021 7:22

Contas mais altas vão prejudicar os consumidores e podem ameaçar a recuperação económica pós-pandemia na região.

Os preços de referência europeus do gás triplicaram este ano, mesmo antes da procura de inverno começar. A empresa Equinor, da Noruega, um dos maiores fornecedores de gás da Europa, disse na semana passada que os preços altos da energia podem durar até 2022 e alertou sobre possíveis picos de preços. “Preparem-se para um aumento na inflação do gás na zona euro”, avisou Claus Vistesen, economista-chefe da zona euro da Pantheon Macroeconomics ao Financial Times. O aumento dos preços da energia vai conduzir a “uma aceleração da inflação na zona euro”, acrescentou Daniel Kral, economista da Oxford Economics.

Existem várias razões por trás do aumento dos preços. Em primeiro lugar, há a retoma da economia. Depois do período de confinamento, a abertura da sociedade e o retomar dos negócios levaram a um aumento da procura. Aqui funciona o mercado. Mais procura, menos oferta, preço mais alto.

As alterações no preço da energia têm ainda, nesta altura, um efeito mais notável porque, na Europa, no final do verão, os stocks de gás natural são reabastecidos e verificados a pensar no próximo inverno. E este ano, devido a um inverno muito frio no ano passado, esses stocksestão mais baixos do que o normal.

E isso acontece porque o fornecimento de gás da Noruega está também abaixo dos níveis normais, devido a trabalhos de manutenção nas estações de processamento, e porque o fornecimento a partir da Rússia continua limitado.

A mudança do paradigma da energia tem igualmente uma ligação directa ao preço da eletricidade. Fecharam fábricas de carvão e a cada vez maior dependência de fontes renováveis está a expor o problema nesta fase crítica.

A energia renovável, até certo ponto, é mais incerta do que a geração fóssil ou nuclear. A sua produção está dependente do próprio clima, podendo gerar em determinadas alturas mais eletricidade e noutras menos.

Preços mais altos dos últimos 25 anos

O índice de preços ao consumidor para a energia da zona euro atingiu o nível mais alto desde o início dos registos, em 1996. Em Agosto, um aumento anual de 15,4 por cento, o maior salto desde a crise financeira global, empurrou a taxa de inflação da zona euro para 3 por cento, a mais alta da década, e bem acima da meta de inflação de 2% do Banco Central Europeu. Os funcionários do BCE e os economistas já disseram esperar que o aumento seja temporário, mesmo assim, um aumento prolongado dos preços da energia poderia inviabilizar as projeções da inflação. Além disso, contas de energia mais altas também afectariam os orçamentos das famílias e a confiança do consumidor, ameaçando a recuperação económica.

A energia é responsável por quase 10 por cento dos gastos dos consumidores na Europa, portanto “o aumento anual de dois dígitos dos preços da energia… está a ter um efeito importante ”, disse ao FT Peter Vanden Houte, economista-chefe da ING, instituição financeira de origem neerlandesa.

O impacto dos preços mais elevados da energia vai para além da UE. Em Agosto, a taxa anual de inflação dos preços da energia subiu mais de 60 por cento na Noruega, atingiu 20 por cento no Canadá e nos Estados Unidos e registou aumentos de dois dígitos na Coreia do Sul, Chile e México. E teve um efeito em cadeia sobre outras commodities, aumentando o preço do petróleo e, potencialmente, dos alimentos.

Alexei Miller, chefe da Gazprom, disse na sexta-feira, citado pela Agência Tass, que os stocks baixos podem levar os preços da gasolina na Europa a novos máximos durante o inverno. Além disso, o preço das licenças de carbono, um elemento central nos planos da UE para reduzir as emissões, quase duplicou este ano. Isso “sugere que as contas de energia serão mais altas no futuro”, disse Jessica Hinds, economista da Capital Economics. O impacto inflacionário imediato dos preços mais altos da energia é quase indiscutível. A economista do Barclays, Silvia Ardagna, estimou que a subida da inflação na zona euro pode atingir um máximo de 4,3% em Novembro.

No entanto, os preços mais altos da energia não levarão necessariamente a um crescimento geral mais lento, porque a economia familiar acumulada durante o bloqueio pode ter deixado o poder de compra do consumidor praticamente inalterado. A recuperação do emprego, reflectida na elevada oferta de trabalhos, também pode ajudar. “Não estamos a fazer nenhuma alteração na nossa perspectiva de crescimento neste momento”, disse Ardagna.

Ainda assim, os altos custos de energia serão, sem dúvida, um problema para muitos, sejam indivíduos menos abastados ou empresas para as quais a energia é um insumo importante. “Uma onda de frio no início do inverno é agora uma ameaça económica real para famílias de baixo rendimento e alguns sectores de manufactura”, conclui Claus Vistesen, economista-chefe da zona do euro da Pantheon Macroeconomics.

Na passada sexta-feira, na cimeira de Atenas que reuniu os líderes dos nove países euro-mediterrânicos, o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, apelou a uma resposta europeia comum ao problema do aumento dos preços da eletricidade, acreditando que esta forma pode ser mais eficiente do que as acções separadas de cada país.  

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1034 de 22 de Setembro de 2021.

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Autoria:Expresso das Ilhas,27 set 2021 7:22

Editado porAndre Amaral  em  1 jul 2022 23:28

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