“Quando estava aqui a estudar em Bissau em 1992 no Bairro Militar via muitas crianças que não tinham escola e a ideia era só ajudar as crianças que estavam perto de mim, que não tinham acesso à escola”, contou à Lusa o professor Humberto, como é carinhosamente tratado por todos o que o rodeiam.
“Começámos a dar explicações nas varandas e depois começaram a vir muitas crianças e decidimos procurar uma sombra debaixo de uma árvore e começou a ideia de ajudar sempre as crianças que não têm acesso à escola”, explicou à Lusa.
A sombra do poilão do Bairro Militar ainda lá está, mas a escola passou para a zona de Plack 1, também no mesmo bairro, para um espaço cedido pela Câmara Municipal de Bissau, onde foi sendo construída com a ajuda de uma organização não-governamental italiana, que deu apoio financeiro.
Hoje, são 1.100 alunos que a frequentam, entre primária e secundário, divididos por vários turnos, incluindo à noite, quando são dadas as aulas de alfabetização em português e para trabalhadores-estudantes.
“Alfabetizamos porque temos muitas mulheres que não tinham acesso à escola nas tabancas, principalmente as oriundas das zonas rurais que vieram para Bissau procurar uma melhor vida. Chegaram cá e vieram ter comigo e criámos uma turma”, disse Humberto Sambú.
Para o futuro, o professor já está a pensar em formação profissional e em construir mais salas, porque a “comunidade está a crescer”, a tentar conseguir mais apoios e mais apadrinhamentos, porque cerca de 30% das crianças que frequentam o seu estabelecimento de ensino não têm dinheiro para a pagar.
Às mães das crianças, pede que “continuem a deixá-las ir à escola, porque a escola é um pilar para o desenvolvimento de qualquer sociedade, de um país. Para os jovens, a iniciativa é muito importante”.
“Na natureza, as coisas começam de pequenino para grande”, afirmou.
Para o professor Humberto, todos conseguem carregar um poilão, que é a árvore de maior porte da Guiné-Bissau e considerada sagrada.
“O poilão começa com uma semente e todos conseguimos transportá-lo e levá-lo para onde queremos”, disse.
“E a iniciativa é isso. Começa de pequeno e depois cresce e fica grande”, afirmou, salientando que ele é um exemplo de uma semente de poilão porque começou a sua iniciativa na sombra de uma árvore, que hoje é uma escola que ainda não parou de crescer.
E o próprio professor Humberto foi deixando sementes pelo caminho e uma delas é Avelino Vaz.
“Eu fui um dos primeiros alunos do professor Humberto. Ele foi o meu primeiro professor na década de 90. A escola começa em 1993 e eu chego à escola em 1996. Nessa altura, levávamos banquinhos para nos sentarmos e colocávamos os cadernos ao colo para escrever”, recordou.
“É incrível hoje olhar para trás e ver como a escola ficou gigante. Foi muito trabalho e empenho para fazer a escola ser o que ela é hoje. Para mim é uma satisfação ver esta escola que começou pequenina e ver como está hoje”, salientou.
Avelino Vaz fez os estudos superiores e o mestrado no Brasil e regressou a Bissau. Hoje faz parte da direcção da escola do professor Humberto.