Numa declaração prévia à 10ª Conferência de Revisão do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares, que hoje tem início, Joe Biden anunciou que a sua administração quer negociar rapidamente "uma nova estrutura de controlo de armas para substituir o Novo START, quando este expirar em 2026".
Implementado em 2011, o New Strategic Arms Reduction Treaty (Novo Tratado de Redução de Armas Estratégicas ou Novo START) limita o número de armas nucleares dos Estados Unidos e da Rússia, sendo considerado o único acordo de controlo de armas remanescente entre as duas potências.
A negociação de um acordo que substitua o Novo START exige, no entanto, "um parceiro disposto a operar de boa-fé", disse Joe Biden, referindo que "a agressão brutal e não provocada da Rússia na Ucrânia destruiu a paz na Europa e constitui um ataque aos princípios fundamentais da ordem internacional".
Por isso, argumentou, "a Rússia deve demonstrar que está pronta para retomar o trabalho de controlo de armas nucleares com os Estados Unidos".
O Presidente norte-americano recordou que trabalhou no controlo de armas "desde os primeiros dias da sua carreira", tendo o Tratado de Não Proliferação (TPN) de armas nucleares tido sempre como base o desenvolvimento de "limites recíprocos e significativos de armas" entre os Estados Unidos e a Rússia.
"Mesmo no auge da Guerra Fria, os Estados Unidos e a União Soviética foram capazes de trabalhar juntos para garantir uma estabilidade estratégica", afirma na declaração hoje divulgada.
Garantindo que a redução desse tipo de armas se tornou uma prioridade na estratégia de segurança nacional dos Estados Unidos, Biden recordou que os vários Estados nucleares se reuniram em Janeiro para reafirmar que "uma guerra nuclear não pode ser vencida e nunca deve ser travada".
Segundo os dados mais recentes do Instituto de Estocolmo de Investigação para a Paz Internacional, referentes ao início de 2021, há nove países no mundo com armamento nuclear: Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, França, China, Índia, Paquistão, Israel e Coreia do Norte.
O Presidente dos EUA alertou ainda a China que "também tem a responsabilidade, como um Estado de armas nucleares do TNP e membro do P5 [os Estados que são membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas], de se envolver em negociações" para reduzir os riscos.
Por outro lado, Biden reafirmou a sua intenção de voltar a liderar o acordo de 2015 sobre o programa nuclear do Irão, depois de o seu antecessor, Donald Trump, o ter abandonado em 2018.
Biden adiantou ter desenvolvido, em coordenação com aliados e parceiros regionais, uma proposta "para garantir um retorno mútuo à plena implementação do Plano de Acção Conjunto Integrado que garanta que o Irão não adquire armas nucleares".
"Estamos a trabalhar em estreita colaboração com a Agência Internacional de Energia Atómica para garantir que a parceria AUKUS entre a Austrália, o Reino Unido e os Estados Unidos atenda aos mais altos padrões de não-proliferação", afirmou.
O acordo sobre o programa nuclear do Irão, que visava suspender o desenvolvimento de armas nucleares por Teerão em troca do levantamento das sanções económicas impostas ao país do Médio Oriente deixou, na prática, de funcionar em 2018, quando Trump decidiu retirar os EUA e restabelecer as sanções.
O Irão retaliou voltando ao seu programa nuclear e, apesar de Biden ter garantido querer voltar ao acordo assim que assumiu a Casa Branca, as negociações continuam paradas, já que Teerão quer que a Guarda Revolucionária seja retirada da lista das organizações terroristas pelos EUA, o que é fortemente contestado pelos EUA e por Israel.
"Neste momento de incerteza e agitação no cenário global, reafirmar o nosso compromisso para com os princípios básicos do regime global de não-proliferação nunca foi tão crucial", considerou Joe Biden na declaração de hoje.