"Os actuais eventos mundiais estão a demonstrar o papel vital que o gás natural pode ter na segurança energética das nações e das regiões", comentou à Associated Press o dirigente da petrolífera BP Gordon Birrell, que está a desenvolver um projecto de gás natural liquefeito na costa da Mauritânia e do Senegal, que já recebeu visitas dos líderes da Alemanha e da Polónia.
O projecto, acrescentou, "não podia vir em melhor altura", referindo-se à renovada necessidade que os países europeus, principalmente da Europa central, sentem de diversificar as fontes de fornecimento de gás.
A exploração destes 425 mil milhões de metros cúbicos de gás, cinco vezes o que a Alemanha consumiu em 2019, não vai resolver os problemas de segurança energética da Europa, mas é um sinal da vontade europeia de reduzir decisivamente a dependência do gás russo.
O problema, no entanto, é fazer chegar as reservas africanas às casas dos europeus; já há gasodutos que ligam a Argélia, por exemplo, à Europa, mas a construção de uma estrutura similar desde a África subsaariana enfrenta vários e complexos desafios, não só de financiamento inicial, mas técnicos e de segurança.
Os líderes europeus têm feito visitas a países como Noruega, Qatar e Azerbaijão, todos produtores de gás, mas também ao norte de África, onde a Argélia tem dois gasodutos com destinos europeus: Itália e Espanha.
A Itália já assinou um acordo com Angola, e em Julho assinou outro com a Argélia, no valor de 4 mil milhões de dólares, no mês a seguir a o Egipto ter concordado com a União Europeia e Israel o aumento substancial das vendas de gás natural liquefeito.
Para o maior produtor africano de gás, a Nigéria, o problema nem é tanto de produção, mas sim de distribuição: "Se olharmos para a realidade no terreno, a verdade é que apesar de o gás natural liquefeito ser a mais lucrativa forma de exploração, o problema do roubo de petróleo faz com que se questione a nossa capacidade de fornecer gás à Europa", disse Olufola Wusu, um analista com escritório em Lagos.
A ideia de exportar o gás da Nigéria para a Europa, através de um gasoduto de quase 4.400 quilómetros, está parada desde 2009, principalmente pela necessidade de um investimento inicial a rondar os 13 mil milhões de dólares, escreve a AP, notando que mesmo que esta questão seja ultrapassada, este gasoduto trans-saariano iria enfrentar os mesmos riscos de segurança que os oleodutos enfrentam na Nigéria.
Mais a sul, e devido à proximidade geográfica, Moçambique tem adoptado outra estratégia, que é apostar na exportação para a Ásia, mas o interesse europeu também está a ser notado em Maputo.
Moçambique deverá tornar-se um dos maiores exportadores de gás quando o projecto de 20 mil milhões de dólares da TotalEnergies entrar em funcionamento, abrindo o caminho para a ExxonMobil avançar com o seu projecto.
Para já, só a italiana ENI explora as enormes reservas do norte do país, através de uma plataforma flutuante, a primeira nas águas profundas de África, a 80 quilómetros da costa, longe da violência que assola a província de Cabo Delgado há anos, e deverá ainda este mês enviar o primeiro navio para a Europa.