"A Cimeira foi promovida como uma oportunidade para escutar as nações mais vulneráveis e dar passos significativos no sentido de combater as alterações climáticas. No entanto, quando se trata de África, foi dada pouca atenção às necessidades específicas do continente”, disse, em entrevista à agência Lusa.
Segundo o fundador da Fundação Mo Ibrahim, “o texto final continuou a adiar questões críticas, atrasando o verdadeiro progresso da adaptação climática e do acesso à energia e incluindo o pouco reconhecimento dos desafios únicos que a África enfrenta.
"Mesmo em áreas onde foram feitos progressos, tais como o lançamento da Iniciativa Africana para o Mercado de Carbono, a cimeira não conseguiu criar um quadro global para a gestão dos mercados de carbono, apesar de ser um objectivo-chave da COP27”, lamentou.
O empresário sudanês, um activista na promoção de boas práticas de governação e desenvolvimento da economia e sociedade africanas, esteve presente na cimeira, onde levou uma série de propostas desenvolvidas pela Fundação num relatório publicado oito meses antes.
Porém, o que encontrou em Sharm el-Sheikh, no Egipto, criticou, foi "outro fórum multilateral enviesado, dominado pelo Norte Global, onde os interesses do mundo em desenvolvimento se revelaram secundários”.
Embora algumas das propostas da Fundação tenham sido abordadas, “poucas foram abordadas de forma significativa” e ensombradas pela invasão da Ucrânia pela Rússia e o consequente aumento dos preços da energia e produtos alimentares.
Como exemplo, referiu a falta de progresso no corte das emissões de gases com efeito de estufa que travem o aquecimento global, cujo impacto está a ser sentido com intensidade em África.
Mo Ibrahim apontou também a falta de fundos imediatos para acelerar o acesso a electricidade limpa a milhões de africanos, ou para a compensar pelas perdas e danos causados pelas alterações climáticas no continente.
Do lado positivo, saudou os acordos para o desenvolvimento de hidrogénio verde entre a União Europeia (UE) e a Namíbia e o Egipto, a Iniciativa Africana para os Mercados de Carbono e a aliança da República Democrática do Congo com o Brasil e Indonésia, detentores das maiores florestas tropicais do mundo, para negociar mecanismos de financiamento sustentável.
“Resumindo, mais diálogos, mais participantes, mais promessas, mais metas, mas pouca acção”, concluiu.
A COP27 terminou em 20 de Novembro com a adopção de dois textos principais, uma declaração final e uma resolução sobre a compensação pelos danos causados pelas alterações climáticas sofridos por países vulneráveis.
A presidência egípcia da COP27 considerou o saldo positivo porque os acordos alcançados cumprem o objectivo inicial de tornar esta a “conferência de implementação”, enquanto o secretário-geral da ONU, António Guterres, lamentou a falta de ambição da COP27 no que diz respeito à redução das emissões.
A 27.ª cimeira da ONU sobre alterações climáticas tinha como objectivo manter as metas do Acordo de Paris no sentido de travar o aquecimento do planeta, limitando o aquecimento global a 2ºC (graus celsius), e se possível a 1,5ºC, acima dos valores médios da época pré-industrial.