Cilliers, que apresentou numa videoconferência um estudo sobre os quatro cenários que se colocam a África para atingir o topo do desenvolvimento, defendeu que, na trajetória atual, é provável que a diferença entre o continente africano e o resto do mundo nos principais indicadores de desenvolvimento aumente.
“Choques recentes”, como a pandemia de covid-19 e a guerra na Ucrânia, aceleraram essa tendência, frisou.
“Globalmente, o peso económico está a deslocar-se para a Ásia. Até 2043, a China ultrapassará os EUA [Estados Unidos da América] como o país mais poderoso no mundo. Ainda assim, o Ocidente continuará a ser dominante em riqueza, tecnologia e poder ao longo do século XXI e continuará a beneficiar extraordinariamente do atual sistema baseado em regras”, salientou.
Apesar da sua população total – cerca de 1,2 mil milhões de habitantes -, “África é um ator secundário à escala global” e “o seu estatuto foi elevado, nalgumas ocasiões, devido à competição leste-oeste, ao seu papel no fornecimento de combustíveis fósseis, durante a guerra contra o terrorismo e com o foco sobre o desenvolvimento com a elaboração dos Objetivos do Milénio e do Desenvolvimento Sustentável”, avançou.
“Mais recentemente, África tem sido palco de competição entre o Ocidente, a China e a Rússia”, sintetizou.
Os quatro cenários globais considerados por Jakkie Cilliers são “um mundo sustentável, um mundo dividido, um mundo em guerra e um mundo em crescimento”.
O cenário de um mundo em crescimento conduz a melhores resultados económicos, mas em detrimento da igualdade e dos esforços de contenção global dos gases de efeito estufa, resultando em impactos negativos nas mudanças climáticas.
No caso do cenário do mundo em guerra, Cilliers considerou-o o “pior para todos”, pois os ganhos gerais estão abaixo de qualquer outro.
“A autocracia aumenta em todos os lugares, e cada país africano tenta crescer baseado no seu pequeno mercado interno sem as vantagens da integração comercial”, alertou.
No cenário de um mundo sustentável é maximizado o crescimento económico, com melhorias no rendimento disponível e redução da pobreza, mas, considerou, “é o mais difícil de atingir”.
O cenário africano associado inclui a plena execução da Zona de Comércio Livre Continental Africana (AfCFTA, na sigla em inglês), uma área de livre comércio que abrange a maior parte da África, que entrou em vigor em 01 de janeiro de 2021 e abrange 43 dos 55 países africanos.
Todavia, avisou, a plena execução da AfCFTA implica “um progresso constante na responsabilidade, democracia e estabilidade”.
Finalmente, no cenário de um mundo dividido, “a sensação de instabilidade aumenta”.
“Todos parecem estar enraivecidos, são egoístas e infelizes e a xenofobia e o sentimento anti-imigração aumentam à medida que as taxas de migração aumentam. No entanto, a integração regional limitada, como sucede na África Oriental, pode avançar”, defendeu.
Jakkie Cilliers frisou que “cenários não são previsões”.
“São ferramentas que ajudam a enquadrar futuros alternativos de forma sistemática e a permitir uma visão coerente, discussão e análise. Bem feitos, no entanto, os cenários revelam tendências estruturais e os resultados ou efeitos de diferentes caminhos ou tendências”, afirmou.