A renomeação, aprovada por unanimidade pelos mais de 2.900 delegados da Assembleia Nacional Popular (APN), o órgão máximo legislativo do país, reunidos em Pequim, foi uma formalidade. Xi, de 69 anos, obteve já, em Outubro passado, um terceiro mandato de cinco anos como secretário-geral do Partido Comunista Chinês (PCC) e da Comissão Militar Central, os dois mais importantes cargos do poder no país.
Xi está, assim, prestes a tornar-se o chefe de Estado com mais tempo no poder na História da República Popular da China, após ser nomeado para um terceiro mandato, até 2028, no seguimento de uma emenda constitucional realizada em 2018 que serviu para eliminar o limite de dois mandatos consecutivos de cinco anos para a presidência.
Ele ascendeu ao poder com a promessa de concretizar o "grande rejuvenescimento da nação chinesa". Ou seja, repor a posição histórica da China como grande potência.
Xi liderou uma política externa assertiva, que resultou em crescentes tensões com os Estados Unidos, alguns países europeus e várias nações vizinhas, face a diferendos suscitados por reivindicações territoriais nos mares do Sul e do Leste da China, o estatuto de Taiwan, a crescente aproximação de Pequim a Moscovo ou disputas no comércio e tecnologia.
Esta semana, ele acusou os "países ocidentais, liderados pelos Estados Unidos" de "implementarem uma estratégia de contenção, cerco e repressão total contra a China", o que gerou "desafios sem precedentes" para o desenvolvimento do país.
Também o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Qin Gang, alertou para a possibilidade de os atritos entre a China e os EUA resultarem num confronto, "caso os Estados Unidos não travarem, e continuarem a acelerar no sentido errado".
Em causa estão as restrições impostas por Washington no acesso a tecnologia e o apoio norte-americano a Taiwan e a blocos militares regionais, que visam conter a ascensão da China na região da Ásia Pacífico e travar os planos industriais de Pequim para transformar o país numa potência tecnológica, com capacidades em sectores de alto valor agregado, como inteligência artificial, 'chips' semicondutores, robótica e carros eléctricos.
Depois de cantar o hino da República Popular da China, uma guarda de honra escoltou uma cópia da Constituição do país até ao Grande Palácio do Povo, onde Xi fez o juramento de posse e prometeu "trabalhar incansavelmente para construir um país socialista moderno, próspero, forte, democrático, civilizado, harmonioso e bonito".
A economia da China deve recuperar este ano, depois de, em 2022, o ritmo de crescimento ter abrandado para o segundo nível mais baixo em pelo menos quatro décadas, à medida que a estratégia de 'zero casos' de covid-19, que incluiu o bloqueio de cidades inteiras, durante semanas ou meses, interrompeu a actividade económica.
O sector imobiliário e os governos locais estão também a lutar contra níveis de endividamento excessivo. Os esforços para encetar uma transição no modelo de crescimento do país, visando maior ênfase no consumo interno, em detrimento das exportações e investimento em grandes obras públicas, também ainda não deram frutos.
Xi Jinping deve intensificar as deslocações ao exterior este ano, em parte para amenizar tensões geopolíticas, após um hiato de quase três anos, induzido pelo encerramento das fronteiras do país asiático, no âmbito da estratégia 'zero covid'.
Ele deve visitar Moscovo nos próximos meses e alguns países europeus, segundo informações difundidas pela imprensa internacional.
Nenhum chefe de Estado chinês ocupou o cargo por mais de 10 anos, desde que Mao Zedong fundou a República Popular, há mais de sete décadas. Isto deveu-se, em parte, ao limite de mandatos, introduzido na Constituição da China, em 1982, quando Pequim procurou institucionalizar a sucessão do poder político e basear a tomada de decisão num processo de consulta colectiva, visando evitar os desastres suscitados pelo totalitarismo de Mao.
Xi eliminou o limite de dois mandatos, em 2018, para o cargo de chefe de Estado. Os cargos mais poderosos, de chefe do Partido Comunista e presidente da Comissão Militar Central nunca estiveram sujeitos a limites formais.
As autoridades argumentaram que a mudança visa garantir que Xi pode exercer uma "liderança centralizada e unificada", necessária para a China enfrentar desafios complexos e alcançar os objectivos de 'rejuvenescimento nacional'.
Para Xi, assegurar o terceiro mandato "assegura a manutenção de uma plataforma política que poderia ser usada para que outro líder aumentasse o seu perfil, influenciasse a formulação de políticas e se apresentasse, implicitamente, como uma potencial alternativa", afirmou Neil Thomas, analista de assuntos da China, da consultora Eurasia Group.
"Seria improvável que um outro líder que ocupasse o cargo de presidente constituísse um desafio à autoridade de Xi, mas não impossível", acrescentou. "Então, por que iria ele correr esse risco", questionou.