RSF avisam que Sahel pode tornar-se numa zona sem informação livre

PorExpresso das Ilhas, Lusa,3 abr 2023 14:00

A organização não-governamental Repórteres sem Fronteiras (RSF) denunciou hoje os perigos crescentes para os jornalistas que trabalham nos países do Sahel e advertiu que a região está a tornar-se uma "zona sem informação livre".

A RSF afirmou, num relatório intitulado "On the skin of a journalist in the Sahel" (na pele de um jornalista no Sahel) - publicado duas semanas após a libertação do jornalista Olivier Dubuis, raptado em 2021 no Mali - que nos últimos dez anos cinco jornalistas foram mortos na região, incluindo os espanhóis David Beriain e Roberto Fraile.

Mais dois desapareceram e centenas de outros receberam ameaças que os impossibilitaram de realizar o seu trabalho sem arriscar as vidas.

Salientou que os repórteres que trabalham no Sahel enfrentam grupos armados radicais que estão cada vez mais presentes e têm sido responsáveis pelo assassínio e rapto de jornalistas, bem como as autoridades instaladas após golpes de Estado que impuseram várias restrições.

Além disso, em alguns países coexistem com a presença de milicianos do grupo Wagner, propriedade de um oligarca próximo do Presidente russo, Vladimir Putin.

"Sadibou Marong, diretor do gabinete da RSF na África subsaariana, afirmou: "A imensa alegria que sentimos com a recente libertação de Olivier Dubois, em 20 de Março, não pode, contudo, esconder as crescentes dificuldades enfrentadas pelos jornalistas que trabalham no Sahel.

"Esta parte do continente africano está a tornar-se perigosamente numa área desprovida de jornalistas independentes e de informação fiável, onde a autocensura é a norma. Para evitar que o Sahel se torne uma zona sem informação livre, este relatório apela aos estados da região, alertando que é necessária uma forte reacção para evitar privar 110 milhões de sahelianos do seu direito fundamental a serem informados", disse.

Marong salientou que "o recrudescimento dos ataques dos grupos armados tem continuado a restringir o espaço disponível para os jornalistas recolherem informações e enfraquecerem os meios de comunicação social".

"Os meios de comunicação social, especialmente as estações de rádio comunitárias, que são amplamente ouvidas no Sahel, foram destruídos por simplesmente darem voz a uma audiência que não simpatiza com a causa dos grupos armados, ou por transmitirem música em vez de pregarem", disse Marong.

"No Chade, Burkina Faso e Mali a deterioração da situação dos media foi agravada pela ascensão ao poder das juntas militares. As suas pressões e mandatos patrióticos favorecem o desenvolvimento do jornalismo encomendado e um fenómeno de 'omertá' [espécie de código de honra] em torno de certas questões sensíveis", afirmou.

E adiantou: "A suspensão dos media internacionais e a expulsão de jornalistas estrangeiros, sintomas claros da vontade de silenciar as vozes críticas, dão carta branca aos media favoráveis à narrativa pró-russa, que defendem a presença dos mercenários do grupo Wagner na região, e contribuem para o aumento da desinformação".

Marong argumentou ainda que "a utilização de leis que regulam o ciberespaço e o encerramento da internet também prejudicaram grandemente o jornalismo e a liberdade de imprensa", antes de notar que, "neste ambiente hostil, o medo de represálias encoraja a autocensura".

"A retenção de informação torna-se a norma. O desafio para muitos meios de comunicação social é agora existencial: Como podem eles continuar a relatar quando o exercício do jornalismo livre e de qualidade é comprometido", questionou.

A organização destaca também "um espaço cada vez mais reduzido para cobrir", devido ao facto de cada vez mais áreas serem proibidas ou de difícil acesso devido ao aumento dos perigos e aos obstáculos administrativos impostos pelas autoridades, o que torna cada vez mais difícil obter credenciais e autorizações para cobrir informações nestas áreas.

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Autoria:Expresso das Ilhas, Lusa,3 abr 2023 14:00

Editado porAndre Amaral  em  26 dez 2023 23:28

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